Apoio minha cabeça no vidro da janela, não posso acreditar que voltei, que vou entrar em meu quarto. Serão apenas algumas horas, alguns momentos a mais para guardar as lembranças desse lugar antes de ter que voltar para o meu novo quarto.
Josh da dois toques no vidro antes de abrir a porta do carro, isso foi um aviso para que eu me afasta-se a tempo de não cair para fora.
- Você tem as chaves do portão?- Pergunta quando me levanto.
- Estão na parte da frente da mochila.
A mochila que está cheia de grãos de areia pelos nossos sapatos, a que começou a carregar o item que me deixa viva.
- Você quer abrir?
Olho para as chaves em sua mão estendida e para o portão a minha frente. Pego o controle, pode ser a última vez que eu possa fazer isso.
- Você consegue ouvir meu coração batendo disparado?- Questiono vendo a lentidão do portão se abrindo.
- Não, mas posso ver o quanto suas pernas estão prestes a sair correndo sozinhas.
Abaixo o rosto para ver as minhas pernas chacoalhando. Estou em casa e vou comer a comida da minha mãe junto com o meu irmão. Pode ser a última vez, mas quem se importa? Josh não pode reclamar que eu não estou comendo aqui.
- Eles chegaram!- Posso ouvir meu irmão gritar.
E meu coração... Meu coração acelera muito mais, parecendo que vai sair do meu peito e cair direto em minhas mãos.
Estou em casa.
Depois de meses estou de volta por algumas horas.
- Bom, eu acho que não contava com escadas para subir até a porta.- Josh diz parando a cadeira próximo ao primeiro degrau.- Acha que consegue subir?
- Acho que minhas pernas estão moles pela ansiedade.- Murmuro.
- É, eu também.- Fala passando a mão por baixo dos meus joelhos e contornando minhas costas.- Nunca foi tão fácil carregar um adulto.
Dou risada apoiando a cabeça em seu ombro, por mais que a frase não tenha sido engraçada, a minha perda de peso foi maior do que ele mesmo esperava.
- Vocês demoraram.- Papai.- Por que você está carregando-a? Ela está bem?
- Está ótima, pode pegar a cadeira de rodas ali embaixo, por favor?- Josh responde.
Ouço um suspiro de alívio do meu pai, sua mão passando por meu cabelo e um beijo no topo de minha cabeça.
- Oi pai.- Sussurro.
- Olá pequena.
- Me direcione até a sala Any, eu nunca entrei aqui antes.- Josh pede.
- Segunda porta a direita.
Ele começa a andar em direção a sala, a porta atrás da gente bate quando meu pai entra. Eu poderia dizer para ele me colocar de volta na cadeira, mas acho que aqui está mais confortável.
- Papai, você voltou!- Papai?
Meu corpo é colocado com cuidado no sofá, olha ao redor da sala, conseguindo pegar a tempo a visão de Clara pulando no colo de Josh.
- Por que você estava carregando a Any, papai? Ela já é grande.- Observo a cena confusa, observando ao redor para ver se realmente estou em minha casa.
- Any estava um pouco cansada para andar sozinha hoje, princesa. Você não vai dar oi para ela?
A pequena ri em seu colo, beijando sua bochecha e se debatendo para conseguir sair de seus braços. Não tenho muito tempo para pensar antes de seu pequeno corpo estar jogado sobre o meu, seus olhos animados brilhando cada vira o rosto para me ver.
- Oi Any.
- Oi princesa.
- A sua casa é muito bonita.- Diz se sentando ao meu lado.
- Sabia que eu também acho isso?
Clara ri do meu comentario, olho para o seu pai parado ao nosso lado e minha mãe chegando por trás dele com uma bandeja lotada de cookies.
- Ela deu muito trabalho? Desculpa novamente por ter que deixá-la aqui.
- Imagine Josh, ela estava dormindo até agora a pouco, e antes disso ficou brincando por bastante tempo com Nicolas, nem deu tempo de sentir a sua falta.
Meu médico olha para sua filha admirando a bandeja com os cookies, sua expressão dizendo algo que não pude decifrar.
- Então quer dizer que a senhorita dormiu fora do horário da soneca.- Ele diz se aproximando para pegar um dos discos e entrega para ela.- Sua mãe vai me matar se souber disso.
- Não se ela não souber papai.- Diz com um sorriso sapeca.
- Você não conta nada e eu não conto nada, fechou?
- Fechou.
★★★
- Sra. Soares, preciso dizer que sua comida é divina. Que minha mãe não me escute.
Minha mãe ri do outro lado da mesa, o que me faz rir também, vê-la sorrir é como ganhar na loteria e ter sido a causadora da ausência dele me chateia.
- É tia Priscila, sua comida é dilina.- Clara repete após Josh ter lhe dado uma colherada.
- Engula primeiro e depois fale princesa.
- Mas Any estava rindo com comida na boca papai.- Josh vira seu corpo para olhar com os olhos semi-cerrados. Balanço meus ombros, eu estava rindo e não falando.
- Any já é adulta, Clara. Você lembra quando estava mastigando, deu risada e se engasgou com o grão de arroz?
- Lembro.- Respondo, mesmo que a pergunta não tenha sido feita para mim.
Os ombros do Josh tremem e sua cabeça caí para frente, sua filha o observa com os olhos brilhando admirados com o som da sua risada. E então começa a rir também, mesmo não entendendo o motivo da gargalhada, apenas segue o riso do pai como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.
Minha família toda está observando a cena com sorrisos nos lábios. Josh não consegue parar a risada, ainda mais quando vê que sua filha está gargalhando com ele.
Sinto as batidas do meu coração falharem e uma palpitação errada no peito. O ar pesa, mesmo que o oxigênio esteja grudado em minhas narinas. Sinto meus braços ficarem fracos e mais uma vez a palpitação fraca no peito.
Tudo começa a girar, o som das risadas vão ficando ao fundo, abafadas em meus ouvidos.
Você estava sorrindo.
Acho que não estou mais, tudo pesa, meus ombros, minha cabeça, meus olhos, mãos tocam em mim, um silêncio, meu rosto é virado, vejo três Josh's, três Clara's atrás dele. Sem sorrisos, onde foram parar as risadas?
Apagaram a luz, tudo fica preto, estou flutuando. Mais uma vez eu fui o motivo das risadas e sorrisos terminarem.
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Cartas ao amanhecer
FanfictionNunca sabemos quando a nossa vida pode mudar. Às vezes acontece do dia para a noite, em um piscar de olhos. A vida nos causa pegadinhas que não podemos contornar. Em um dia um namoro perfeito, a faculdade dos sonhos, a família ideal. Any Gabrielly...