Capítulo 7- Any

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Escuto três batidas leves na porta, mas não abro os olhos. As cortinas são abertas em silêncio, a luz batendo em meus olhos me faz resmungar pelo incomodo.

Sei que não é a minha mãe ou alguma das enfermeiras pois elas teriam me chamado assim que entrassem no quarto. Ouço barulho de papel, abro um pouco meu olho para poder ver o que está acontecendo.

A minha surpresa é silenciosa, o homem arruma o envelope do lado da minha garrafa de forma que ele não caia. Somente não consigo imaginar o motivo de ele ter aberto as cortinas.

- Aaah! É você?!- Grito perguntando quando abro os olhos por completo.

O moço grita e dá um pulo para trás, levando a minha garrafa junto com ele. Seu objetivo agora é não deixar o cilindro cair no chão, fazendo uma dança enquanto tenta não derrubá-lo.

- Que susto chica! Quer me matar do coração?- Diz abraçando a minha garrafa.

Observo o seu rosto, o cabelo castanho não é curto como sempre costumo ver, os olhos verdes estão assustados com as pupilas dilatadas. Está usando um jaleco, o estetoscópio ficou torto em seu pescoço depois do seu pulo.

- Você está me julgando com os olhos?- Não sei se foi uma pergunta ou se ele está afirmando isso, mas sei que o moço ainda não parou de abraçar a minha garrafa.

- É você quem escreve as cartas?- Sua face relaxa, os olhos parecem um pouco menos preocupados.

- O que? Não, não.- Diz colocando a garrafa de volta na mesa.- Apenas me pediram para deixar aqui já que hoje você é a minha paciente.

- Oh. Então você sabe quem está escrevendo?- Pergunto me sentando quando ele aperta o botão para o encosto da maca subir.

- Sei sim.

- Quem é?- Interrogo animada pela ideia de saber quem é.

O médico me olha por alguns segundos antes de abrir um sorriso ladino e pegar a planilha com as minhas informações.

- Não posso te contar.- Diz indo até o cilindro de oxigênio.

- Por favor. Eu faço o que você quiser, posso até ir até o final do corredor e voltar sem ajuda e sem reclamar.- Eu com certeza não posso fazer isso, mas ele não precisa saber.

- É isso que você usa quando quer receber alguma coisa do Josh?- Pergunta colocando o garrote em meu braço esquerdo.

- Espere aí!- Digo puxando meu braço até o meu peito.- Cadê o meu médico e o que você está fazendo?

- Que falta de educação a minha, afinal, é claro que não sou tão bonito quanto ele. Mas me chamo Noah, formado em medicina e graduado em oncologia. Tenho vinte e nove anos, hoje sou o seu médico já que Josh está de folga e educadamente me obrigou a ser o substituto dele.

Olho para o elástico ainda frouxo em meu braço e volto a olhar para ele. Com certeza estou com uma cara estranha pois não esperava que ele fosse dizer tanto.

- Ah sim, claro. Josh deixou na planilha que você precisa fazer coleta de sangue pela manhã para alguns exames. Por quê está com essa cara?

- Por alguns segundos eu achei que você fosse me dizer os números dos seus documentos e me oferecer a sua certidão de nascimento para não faltar nada.

Noah ri, apertando o elástico e pressionando os dedos em meu braço para encontrar a veia. Penso em dizer mais alguma coisa, mas sinto que vou atrapalhar a sua concentração e cuidado.

Cartas ao amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora