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Escuto três batidas leves na porta, mas não abro os olhos. As cortinas são abertas em silêncio, a luz batendo em meus olhos me faz resmungar pelo incomodo.
Sei que não é a minha mãe ou alguma das enfermeiras pois elas teriam me chamado assim que entrassem no quarto. Ouço barulho de papel, abro um pouco meu olho para poder ver o que está acontecendo.
A minha surpresa é silenciosa, o homem arruma o envelope do lado da minha garrafa de forma que ele não caia. Somente não consigo imaginar o motivo de ele ter aberto as cortinas.
- Aaah! É você?!- Grito perguntando quando abro os olhos por completo.
O moço grita e dá um pulo para trás, levando a minha garrafa junto com ele. Seu objetivo agora é não deixar o cilindro cair no chão, fazendo uma dança enquanto tenta não derrubá-lo.
- Que susto chica! Quer me matar do coração?- Diz abraçando a minha garrafa.
Observo o seu rosto, o cabelo castanho não é curto como sempre costumo ver, os olhos verdes estão assustados com as pupilas dilatadas. Está usando um jaleco, o estetoscópio ficou torto em seu pescoço depois do seu pulo.
- Você está me julgando com os olhos?- Não sei se foi uma pergunta ou se ele está afirmando isso, mas sei que o moço ainda não parou de abraçar a minha garrafa.
- É você quem escreve as cartas?- Sua face relaxa, os olhos parecem um pouco menos preocupados.
- O que? Não, não.- Diz colocando a garrafa de volta na mesa.- Apenas me pediram para deixar aqui já que hoje você é a minha paciente.
- Oh. Então você sabe quem está escrevendo?- Pergunto me sentando quando ele aperta o botão para o encosto da maca subir.
- Sei sim.
- Quem é?- Interrogo animada pela ideia de saber quem é.
O médico me olha por alguns segundos antes de abrir um sorriso ladino e pegar a planilha com as minhas informações.
- Não posso te contar.- Diz indo até o cilindro de oxigênio.
- Por favor. Eu faço o que você quiser, posso até ir até o final do corredor e voltar sem ajuda e sem reclamar.- Eu com certeza não posso fazer isso, mas ele não precisa saber.
- É isso que você usa quando quer receber alguma coisa do Josh?- Pergunta colocando o garrote em meu braço esquerdo.
- Espere aí!- Digo puxando meu braço até o meu peito.- Cadê o meu médico e o que você está fazendo?
- Que falta de educação a minha, afinal, é claro que não sou tão bonito quanto ele. Mas me chamo Noah, formado em medicina e graduado em oncologia. Tenho vinte e nove anos, hoje sou o seu médico já que Josh está de folga e educadamente me obrigou a ser o substituto dele.
Olho para o elástico ainda frouxo em meu braço e volto a olhar para ele. Com certeza estou com uma cara estranha pois não esperava que ele fosse dizer tanto.
- Ah sim, claro. Josh deixou na planilha que você precisa fazer coleta de sangue pela manhã para alguns exames. Por quê está com essa cara?
- Por alguns segundos eu achei que você fosse me dizer os números dos seus documentos e me oferecer a sua certidão de nascimento para não faltar nada.
Noah ri, apertando o elástico e pressionando os dedos em meu braço para encontrar a veia. Penso em dizer mais alguma coisa, mas sinto que vou atrapalhar a sua concentração e cuidado.
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Cartas ao amanhecer
FanfictionNunca sabemos quando a nossa vida pode mudar. Às vezes acontece do dia para a noite, em um piscar de olhos. A vida nos causa pegadinhas que não podemos contornar. Em um dia um namoro perfeito, a faculdade dos sonhos, a família ideal. Any Gabrielly...