Capítulo 9- Any

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Leiam as notas finais de hoje por favor

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- Respire.

Puxo o ar com mais dificuldade do que costumava ter. Meus olhos se fecham pelo esforço e tombo meus ombros para frente, já não consigo ficar mais tão reta.

- E então?- Minha mãe pergunta apreensiva.- Já faz uma semana que ela está assim, não é possível que os resultados dos exames não tenham saído.

- Sra. Soares, eu posso ter uma conversa a sós com a Any por favor?- Meu médico pergunta enrolando o estetoscópio para poder colocar em seu bolso.

- Não! Any é minha filha e o que você tiver que dizer para ela pode dizer para mim também.

- Eu preciso ter uma conversa sozinho com a minha paciente Sra. Soares. Você pode esperar no corredor, tenho certeza que a conversa não passará de dez minutos.

- Mas Any...

- Mãe, eu não tomei o café da manhã e estou com fome, será que você pode me buscar um sanduíche na padaria?

- Sei que está dizendo isso para que eu saía, querida.

- Eu realmente estou com fome mãe, por favor.

- Eu não...

- Por favor.- Sussurro a interrompendo.

- Um misto quente?

- Seria ótimo.- Eu gostaria de não ter visto ela enxugando sua bochecha antes de sair pela porta.

- Você tomou o seu café da manhã.- Josh diz puxando uma das poltronas até o lado da maca.

- Ela não sairia daqui de nenhuma outra maneira.

Meu médico senta na poltrona, apoiando os cotovelos nos joelhos e afundando o rosto nas palmas das suas mãos. Ele arruma seu cabelo quando endireita o corpo e umedece os lábios antes de começar a dizer algo.

- Hoje eu infelizmente só tenho péssimas notícias.- Diz apoiando a mão no colchão da maca.

- Estou tossindo sangue há uma semana, acho que eu já esperava por isso.- digo afundando minha cabeça no travesseiro. Meu corpo parecendo cada vez mais cansado.

- Any, pensei em quinhentas maneiras de dizer isso e tentar não te assustar tanto, mas nem se eu criasse um desenho animado ajudaria a explicar. O seu pulmão direito está com noventa porcento do espaço tomado pelo tumor, isso era para estar acontecendo a partir do sexto mês e não do terceiro, os medicamentos que estávamos aplicando serviam para retardar o câncer, mas por alguma razão não funcionou.
"Nas primeiras semanas seu corpo reagiu bem e atrasou como imaginávamos, e no momento em que ele parou de reagir o tumor triplicou em questão de segundos."
"Eu queria de verdade poder dizer que você tem muitas opções do que fazer agora, mas infelizmente, ou você faz a quimioterapia, ou em alguns semanas você vem a óbito."

- S-semanas?- Gaguejo, meu peito está se apertando e meu coração bate forte em meus ossos, minha garganta está ardendo junto com as lágrimas se formando em meus olhos.

- Eu sinto muito, as células do seu corpo estão tentando destruir o tumor e só estão conseguindo tirar a sua energia. Se continuarmos apenas aplicando os medicamentos seu organismo não vai aguentar.

- Quatro meses não podem se transformar em um Josh. Eu ia viver, eu ia sair daqui e caminhar na praia.- Caramba, eu mal tenho forças para falar como antes.- Eu tinha tantos planejamentos para quando você me liberasse Josh, como eu vou fazer isso em um mês quando não consigo nem andar até a porta sem parecer que vou morrer?

Cartas ao amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora