Bem-te-vi.

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 Acordei com um barulho vindo do apartamento de baixo, peguei o celular de baixo do travesseiro e olhei o horário, dez e meia, rolei para o lado e coloquei o travesseiro na cabeça.

 Tentei voltar a dormir, mas o barulho não me permitia, pareciam móveis arrastando, vozes estressadas e até mesmo risadas...

 Levantei e coloquei o roupão, escovei os dentes e tentei colocar uma música, mas o barulho... ah o barulho ainda era insuportável, olhei pela janela e o dia estava claro e ensolarado, com o barulho me irritando vesti uma roupa qualquer peguei as chaves e o cartão e decidi tomar café da manhã fora.

 Chamei o elevador e esperei...

 Esperei...

 Alguém estava prendendo o elevador e senti o sangue ferver.

 Estava cedo demais para descer os doze andares de escada, olhei para o celular vendo as notificações da madrugada, meu pé batia contra o chão ritmicamente com a música em meus fones, quinze minutos depois o elevador abriu as portas e eu desci.

 Respondia um e-mail para o trabalho enquanto o elevador descia os doze andares, parando no décimo para entrar uma senhora. 

— Estão se mudando né? Ela falou com um sorrisinho.

— É eu acho que sim. Respondi educadamente. 

— Espero que eles sejam boas pessoas.

— Eu só espero que esse barulho acabe logo.

— Ah! Sim, está mesmo uma zona. Ela sorriu novamente.

 O elevador deu um tranco e a porta se abriu, fiquei segurando o botão para segurar a porta e quando ela passou, sai também.

 Aumentei a música em meus fones, guardei-os no bolso da calça e sai para a rua, um grande caminhão de mudança e homens e mulheres fazendo levantamento de móveis caixas estavam ali, vi uma figura esguia e um fio de cabelo dourado por trás de algumas caixas empilhadas, não conseguia saber como a pessoa conseguia enxergar, mas ela ia com perfeição para o elevador.

 Desviei o olhar e senti o sol em meu rosto, o vento soprar meus longos cabelos castanhos, andei com calma sentindo o tempo perfeito, andei por alguns quarteirões sem saber exatamente para onde, as músicas trocavam enquanto meus passos aumentavam e quando percebi, estava correndo no canteiro da avenida. 

 Sentia meu corpo suar, sentia meus músculos contraírem e minha respiração ofegar, inúmeras músicas já haviam passado e meu estomago reclamou, parei em uma frutaria e pedi um suco detox com uma porção de pães de queijo com queijo branco e peito de peru. 

 Limpei o suor no banheiro e voltei a me sentar, voltei a responder os e-mails, e olhei o Instagram, muitas pessoas felizes fazendo corrida nessa manhã, mas aposto que nenhuma delas teve a infeliz circunstância de sair de casa por conta de uma bagunça no prédio.

 Olhei os stories de Manu, aumentei o volume, e lá estava ela, de pernas cruzadas um violão de madeira crua nas mãos (maior do que ela mesma) a voz baixa cantando uma música de autoria própria sobre um amor não correspondido na adolescência.

 A música era linda, abri sua mensagem e respondi. 

"Amiga, por favor ele nunca mereceu você, mas putaquepariu as músicas para ele são as mais lindas. Eu te amo amiga."

Renato havia me mandado um video de Sofia e confesso, revi umas três vezes antes de responder que a amava.

 Manu me respondera com uma simples frase "há males que vem para o bem" e uma risada.

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