Certos Detalhes.

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 Passei duas semanas na casa de meus pais, não conseguia voltar para casa com medo de encontrá-la no elevador, meus pais estavam viajando então conseguia ficar em silêncio.

 Não fazia sentido, não fazia o menor sentido eu estar me escondendo ali, eu morava naquele prédio a mais tempo, ela não poderia simplesmente chegar e dominar tudo. E o pior, não fazia sentido algum eu continuar aqui escondida, sendo que tenho uma vida e aquilo foi apenas um momento.

 Um momento em que não sei nem se deveria ter acontecido, duvidas passavam na minha cabeça naquela época, mas nada disso importava hoje em dia, apenas aconteceu que ela foi meu primeiro beijo, apenas aconteceu em um jogo em uma festa que saiu um pouco de nosso controle.

 Isso não importava.

 O que importava é o fato de eu estar aqui, adulta, resolvida!

 Tão resolvida que se esconde na casa dos pais quando encontra uma ex...

 Não Rafaella, ela não é sua ex, ela é apenas uma coincidência. 

 Respirei fundo, eu precisava crescer... 

 Meu celular tocou e a nossa foto surgiu na tela, atendi sentindo o amor emanar.

— Oi! Amor. 

— Oi! Ele falou do outro lado da linha. — Você não vai acreditar quem eu encontrei!

— Quem meu bem? Perguntei curiosa.

— Meu melhor amigo de infância, eu o chamei para ir tomar uma cerveja, comer umas pizzas.

— Ai que legal meu bem. 

— Sim, mas eu combinei na sua casa por ser mais perto tá?

— Ah! É, esse era o sinal para eu voltar para casa. — Tudo bem, quando?

Hoje na verdade, não se importa né?

— Não, claro que não.

— Então assim que eu sair do trabalho eu vou para a sua casa. Ele tampou o telefone e tossiu. — Te amo Rafa.

 Ele desligou o telefone e levantei da cama de meus pais, me espreguicei e arrumei a mochila, se Dani não tivesse ligado, quanto tempo mais eu teria me escondido?

 Chamei um táxi e fui para o aeroporto, comprei a passagem de Goiânia de volta para São Paulo, esperei às três horas e então peguei o voo, era rápido, apenas uma hora no céu e então já estava em São Paulo.

 Quão patética era eu ter ido para outro estado fingindo que meus pais me chamaram para não ter que lidar com uma pessoa do passado?

 Eu ri da minha infantilidade enquanto entrava no carro que me levaria de volta para o meu prédio, mas ao se aproximar da esquina, com o sol se pondo sentia meu coração bater em desespero. 

 "Calma Rafaella, para de ser boba" sussurrei no táxi.

 Agradeci a motorista e sai do carro, entrei em meu prédio olhando para os lados, como se eu fosse uma fugitiva, entrei no elevador e apertei o doze, sentia meu peito bater rápido enquanto ele subia, descompassou quando chegou ao décimo primeiro, e voltou ao normal quando abriu as portas em meu andar.

 Abri a porta e senti o cheiro de casa fechada. 

 Respirei fundo e liguei a televisão, abri o Spotify e deixei que o Luan Santana cantasse para me acalmar enquanto eu abria as janelas, lavei a louça que havia deixado ali na minha fuga, tirei o pó que havia se acumulado, coloquei a roupa na máquina e troquei a roupa de cama.

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