Capítulo 6
Lavínia
Ignorando as manchetes de TV, saio do apartamento para um passeio, ficar presa dentro daquele lugar me deixaria maluca. Não estou acostumada com o silêncio, crescendo com um pai abusivo em uma casa cheia de pessoas, e um irmão mais novo, o barulho era algo constante, sempre desejei ter um momento sozinha, mas agora, isso é uma constante.
Passando em frente a um café, vejo uma placa de "contrata-se", não penso duas vezes antes de entrar.
— Olá, posso ajuda-la? — Uma senhora baixinha se aproxima.
— Sim, vi que estão contratando e gostaria de me oferecer para a vaga.
— Trouxe seu currículo? — Pergunta, olhando minhas mãos vazias.
— Desculpe, não. — Olho em volta. — Sai para caminhar e vi a placa.
— Tudo bem, tem alguma experiência com atendimento?
Servir meu pai e seus amigos com certeza serve de experiência, mas não quero mentir para esta senhora.
— Servi em algumas festas.
— Certo, vou ser sincera com você. — Ela caminha para trás do balcão. — Preciso de alguém urgente, quando você pode começar?
Noto que sua mão está tremendo um pouco do outro lado, ela parece cansada, como se um vento pudesse derrubá-la.
— Agora mesmo, se quiser.
— Ótimo. — Me entrega o avental. — Vou te explicar como o serviço é feito. Sabe alguma assar? — Aceno que sim, e ela bate palmas. — Maravilha, tenho todas as minhas receitas anotadas, desde que siga tudo, dará certo.
Durante a próxima hora atendo alguns clientes e dona Rose, acompanha tudo, garantindo que não cometa erros. Ela é doce, e ao fim do dia, a ajudo a fechar a loja, assegurando que estarei aqui cedo na manhã seguinte.
— Aqui, leve meu caderno e leia as receitas, amanhã irei te colocar na cozinha. — Avisa, me entregando um caderno antigo.
— Certo, boa noite. — Me despeço, e saio.
Rose e seu marido, um veterano de guerra, vivem em cima da loja, ela disse que é mais prático quando tem que acordar cedo, e também afasta os assaltantes, que são atraídos por um bairro como esse.
Chegando na entrada do prédio, prendo o folego por um instante. Não pensei na possibilidade de encontrar Raphael acidentalmente no elevador, com a frequência que ele vai e volta, preciso ficar atenta a isso.
É por essa razão que escolho ir pelas escadas, e quando estou chegando no meu andar, sinto que meu pulmão vai sair pela boca. Abro a porta e entro no apartamento, me jogando no sofá e pegando o caderno que Rose me deu.
Fico encantada com sua letra, é delicada e bonita de uma forma que apenas uma pessoa de sua idade teria. Animada conforme vou folheando o caderno, tenho uma ideia, me levanto e pego o computador, começando a digitalizar as receitas.
Perco a noção do tempo, até que meu telefone apita e vejo que é uma mensagem de Ana me mandando ligar a TV. Faço como ela manda e assisto a entrevista de Raphael, uma e outra vez.
Eu devia saber que Raphael não é o tipo de homem que aceita um não como resposta, ou que lida bem com ser ignorado. Achei que depois da nossa briga, e eu saindo de sua casa, ele perceberia que não estou disposta a conversar, pelo menos não tão rápido.
E agora, o homem que passou boa parte do tempo me irritando e esfregando sua "noiva" na minha cara, anuncia na televisão, para todo o país, que não irá correr se eu não aparecer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Dominante
RomanceA.M.O.R A palavra de quatro letras que todos estão acostumados a ouvir, ou deveria. Não nasci ou cresci em um lar onde as pessoas expressavam seus sentimentos ou cuidavam umas das outras. Meu irmão e eu somos tudo um do outro, lutando para ficarmos...