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Quase tenho que segurar meu queixo para que ele não caia. O homem à minha frente tem olhos castanho-escuros profundos, cabelos curtos e rentes à cabeça e uma mandíbula viril e delineada. Os lábios são moldados e o queixo ereto, e os ombros recostados em sua cadeira mostram que ele provavelmente é alto e intimidador.

Eu não imaginava que Arthur Ramos seria assim, e agora estou me sentindo mais feia do que nunca. Mas mesmo assim tento manter minha postura.

- Com licença... É um prazer te conhecer, Sr. Ramos...

- É um prazer te conhecer também. - Ele murmura, e a voz grossa e rouca que sai daqueles lábios me deixa meio atordoada. - Mesmo a cinco minutos atrasada. - Seu tom de voz muda para um cortante.

Merda.

- A-ah, me p-perdoe, Sr. Ramos. Eu tive um imprevis...

- Horários são horários. - Fico indignada com a forma com que ele me interrompe. - Nos cinco minutos em que você se atrasou eu poderia ter saído, tido um compromisso urgente. É importante seguir horários. Quando se trata de uma agenda cheia, minutos são cruciais. Em um minuto estou aqui, no outro posso não estar mais.

- Sim, claro, m-mas... - Tento me explicar.

- Sem mais, Srta... - Ele pousa os olhos em um papel acima de sua mesa. Depois olha diretamente para mim, e seus olhos nos meus fazem minhas pernas enfraquecerem. -... Marzin. Ninguém lhe disse que as coisas seriam fáceis aqui. Mas é o primeiro sermão para que você evolua. Não tolero atrasos. - Meu peito se aperta. - Mas apesar de ter não ter começado exatamente bem, estou ansioso para trabalhar com você. É um processo para que você aprenda a trabalhar comigo, também.

- A-ah, sim... claro, senhor. - Um silêncio vergonhoso se estende logo depois, e eu abaixo a cabeça para que ele não veja a humilhação nos meus olhos. Meu primeiro dia neste lugar começou com um atraso, depois o sermão do meu próprio chefe. Quero cavar um buraco e me esconder para sempre dentro dele.

Tento ver o lado bom da situação e me aproximo da mesa dele.

- Mas mesmo assim, fico feliz por conhecer o senhor... - estendo uma mão para cumprimentá-lo.

Mas ela só fica ali. Parada no ar. Sr. Ramos não se mexe, só olha para minha mão de um jeito estranho. Ele não diz nada, então quando segundos se passam e ele não se move, abaixo minha mão e me sinto completamente envergonhada. Fiz algo de errado? Qual é o problema dele? Ele não gosta de apertos de mão?

- Não trabalho com simpatias, Srta. Marzin. Trabalho com disciplina.

Mas o quê... de repente, começo a ficar irritada. Ele mesmo acabou de dizer que está ansioso para trabalhar comigo. Quer dizer então que aquilo não foi uma coisa simpática de se dizer? Que homem mais enjoado, pelo amor de Deus...

- Tudo bem, Sr. Ramos... vou tentar trabalhar com disciplina. - Faço de tudo para que minha voz não saia zombeteira, porque estou falando com meu chefe, afinal. Ele tem meu emprego nas mãos por alguns meses, e tenho que ter respeito e atender às suas exigências. Só não achei que ele fosse tão cheio de exigências assim.

- Bem, vamos às regras. Primeiro de tudo, odeio que me desobedeçam. Se ordeno à qualquer uma de vocês para me entregar um documento no dia seguinte, quero o documento em minhas mãos no dia seguinte. Como disse, não tolero atrasos ou erros. Cancelamento de compromissos, eventos e viagens, quero tudo isso sendo feito com rapidez e perfeição e dentro do prazo que eu instituir. Nada pode dar errado. Um ínfimo detalhe que esqueceram pode prejudicar qualquer procedimento. Não interrompam reuniões minhas a não ser que seja algo urgente. Não importa quem queira falar comigo; marco conversas sempre com antecedência para que não ocorra o risco de isso acontecer durante algum compromisso. E quando pergunto o que terei ao dia, quero tudo que está marcado para o dia. Recepcione pessoas com gentileza e forneça as informações que peço sem achismo; trabalho com certezas e fatos, e não com o que você acha que está acontecendo. Atenda todos os pedidos e solicitações por email, me informe de todos eles antes de tomar alguma decisão precipitada e atenda todas as chamadas telefônicas. Transmitir todos os meios de comunicação e mensagens até mim é crucial. Você ficará com o balcão vazio da recepção. Terá um computador próprio, mas tudo o que eu pedir para ser feito não necessariamente terá que ser feito aqui; você terá que encontrar uma forma de adiantar as coisas fora do local de trabalho. Entendido?

Quando o Sr. Exigências termina de falar, não fico assustada com tudo que vou ter que fazer. Eu já sabia disso antes de aceitar o trabalho. Na verdade, estou é lutando para não revirar os olhos. Acho que acabo de descobrir que não me dou bem com pessoas exigentes.

- Claro... mais alguma coisa, senhor? - Logo me arrependo do tom debochado que sai da minha boca, mas foi inevitável. Sr. Ramos estreita os olhos escuros, e um arrepio sobe pelo meu corpo. Fico olhando para aqueles lábios.

- Prezo por respeito, acima de tudo. - Eles murmuram.

- Oh, claro... entendo. Tentarei dar meu melhor. - Troco o apoio da perna, e vejo seus olhos se transferindo para o meu corpo, se deslizando lentamente dos meus pés até meus olhos novamente e me deixando sem ar. - Posso pedir a permissão do senhor para sair? - Pisco gentilmente. Ele parece sair de um transe e tira os olhos de mim, voltando a se concentrar em papéis.

- Não sei o que está fazendo aqui ainda.

Grosso. Ando em direção à porta, saio da sala dele e fecho-a com calma. Mas assim que não estou mais na linha de visão dele reviro os olhos com tanta força, que acho que ele podem ir parar atrás da cabeça. "Odeio que me obedeçam..." ah, vai, seu babaquinha arrogante.

Um pecado de gostoso, com aqueles olhos escuros e aquela voz... mas arrogante. Respiro fundo. Achei que ele fosse minimamente compreensível. Mas ele só intensificou todo o peso que vai ter nas minhas costas daqui para frente. Era de se esperar, afinal, ele é meu chefe, mas existem chefes mais simpáticos por aí.

Olho para a moça da recepção, que está me olhando com curiosidade. Ela tem cabelos alaranjados.

- Você é a nova secretária?

- Ah... sou. - Sorrio.

- Ah! Seja muito bem-vinda! Entendo como você deve estar se sentindo depois de conhecer ele.

- Ah, que bom... assim não sou a única.

- Todas pensam a mesma coisa, pode acredita. Mas acho que eu estou aqui à anos por isso. Fica quem sabe lidar com ele.

- Vish... então logo logo não estarei mais nesse lugar.

- Ah, pare com isso... apesar de ser sofrido vale muito a pena. Meu nome é Bianca.

- Muito prazer, Bianca. Meu nome é Carolina, mas pode me chamar de Carol.

- Seja bem-vinda, Carol. Agora que você é minha vizinha, a gente vai ter que trocar algumas informações e ter uma relação de paciência com ele. Mas juntas a gente vai conseguir vencer a cada dia.

Solto uma risada abafada. Confesso que embora meu chefe seja duro, estou feliz pelo novo lugar que recebi para trabalhar. E ansiosa para começar a fazer o que gosto. Não tenho o que reclamar. Minha vizinha de escritório parece gentil, e o espaço é confortável.

O balcão tem uma mesa longa logo atrás e mais baixa grudada nele, com várias gavetas e armários e um computador, prateleiras atrás e um grande espaço para anotar as coisas. Tem até um porta-copos, uma impressora e suportes para folhas e livros, e um pendura-casacos logo do lado do balcão. Muito bonito.

Já estou pensando em colocar um quadro com meus pais e Babi aqui, meus livros e mais umas coisas.

- Posso perguntar uma coisa?

- Hum? Claro.

Apoio os cotovelos em cima do meu balcão.

- O Sr. Ramos tem... tem algum problema? - sussurro, mas na mesma hora a porta do escritório dele se abre. Ele sai andando de lá dentro, com os ombros largos e os olhos sérios olhando para mim, até que para bem na frente do meu balcão. Sua altura intimidante faz eu me sentir uma formiguinha, mas mesmo assim não abaixo minha cabeça ao olhar para ele.

- Srta. Marzin, já ligou para George Petersburg e reagendou a reunião da semana que vem, porque terei um jantar com Peter Hanstings?

- Hum... não.

- Fez o relatório e a média das reuniões executadas desde o começo do mês, incluindo os eventos executivos?

- Não.

- Então por quê está parada?

Fico sem palavras. Ele não diz mais nada antes de sair andando, com passos assustadoramente serenos e ridiculamente sensuais. Caio na cadeira e vou chegando perto do computador com as rodinhas, contendo uma série de palavras sujas.

- Esqueça o que eu perguntei. Sim, ele tem.

Dear Boss | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora