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Arthur Ramos.

- Não, eu tenho certeza de que ele tem uns vinte anos.

- Não tem, cara! Ele tem uns trinta e pouco! Juro para você que ouvi algo assim em algum lugar.

- As pessoas falam muitas mentiras por aí, Mob. Você provavelmente ouviu uma delas.

- Cara, se você chegar perto vai perceber algumas linhas de expressões da velhice se aproximando. Ele tem trinta e pouco anos.

- Está querendo me dizer que ter trinta e pouco anos nos faz começar a parecer velhos?

- Não, não foi isso que quis dizer. Mas esse jogador já é mais velho que vinte e pouco anos, só não vê que não quer

- Eu me recuso a acreditar.

- Então não acredite. Tenho certeza de que Ramos dirá o mesmo. O filho da mãe sabe analisar essas coisas como um psicopata...

- Hummm... ele não te ouviu. Está à meia hora cortando coisas naquela tábua como se quisesse matar alguém.

- Eu estou ouvindo. - Murmuro. Giro os pulsos antes de voltar a cortar brutalmente e acirradamente a cenoura em minha tábua. A tábua range contra o balcão, a faca atravessa o corpo do alimento e meu braço sobe e desce. Cada investida da faca contra o legume transformando-o em rodelas me satisfaz, mas não é o bastante para descontar minha frustração na coisa.

Preciso de algo mais duro para cortar.

- Cara, você só está se desgastando! Nós não vamos comer seja lá o que você estiver fazendo. - Victor exclama da sala. Sim, eu sei que não vão. Meus amigos não curtem comidas que não sejam pizza e coisas processadas, fast foods e mais outros alimentos que corroem seu intestino.

Estou fazendo para comer ao longo da semana. Os chamei em minha casa só para ter algo a me distrair, mas nada está me distraindo. Nem mesmo a discussão dos dois em frente à minha TV.

Mas minha cabeça está nebulada em outra coisa neste instante, e estou fazendo tudo no automático. Como a porra de um robô, movido pela força de precisar fazer alguma coisa para esquecer do que senti naquela sala. Para esquecer dela. De seus lábios e seus dedos em mim.

Primeiro na porra da recepção, onde seu corpo se moldou ao meu como a porra de uma luva. Meu corpo enfraquece com a lembrança e o resquício de seu calor com meu. Eu a queria sem nenhuma daquelas roupas grudada em mim. Porra, como queria. Soube que estava encrencado quando senti seu cheiro subindo por minhas narinas.

Depois em meu escritório, onde ela inventou de me secar por ter derrubado café e colocar a mão em um lugar inapropriado. Inapropriado, porra. Ainda mais para ela. Porque agora meu pau está latejando.

Paro para secar o suor invisível da testa e volto a descontar tudo em... porra, em uma batata. Começo a cortar uma batata, com casca e tudo. Não quero pensar nela. Não sei que porra está acontecendo. Eu não pensava em mulheres. E agora mal consigo ler um artigo que já estou com ela em minha cabeça.

Inclinada sob sua mesa e com a ponta do lápis entre os lábios carnudos, os cabelos formando uma cortina a sua volta e seu corpo posicionado em um ângulo perigoso para mim.

Sinto uma mão em meu ombro.

- Mano, os vizinhos vão achar você está cometendo algum assassinato. - Marcos murmura com graça. - Está acontecendo alguma coisa? Estresse com o trabalho?

- Muito. Mas sei que irei resolver. Não há com que se preocupar.

- Hum. - Ele continua ao meu lado e eu continuo batendo a faca contra a tábua. - É que nunca lhe vimos assim, e acho que a quantidade de legumes que já cortou dá para alimentar cinco orfanatos inteiros. - Paro e olho para o lado. Uma montanha de cenouras e pepinos, pimentões e berinjelas, batatas e tomates estão todos agrupados ao meu lado. Engulo seco.

Dear Boss | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora