003

167 18 1
                                    

Arthur Ramos.

É começo de semana. E só há um homem deselegante o suficiente para sugerir de ir à uma boate em plena segunda-feira. Victor Augusto. Estou retirando meu casaco assim que chego em minha casa, depois de um dia cheio e cansativo de trabalho enquanto o ouço no telefone.

- Vamos lá, Ramooos! Qual é? Você já foi mais divertido na época da faculdade, e hoje em dia raramente vai à festas! Não sei como não enlouquece vivendo apenas de trabalho.

- Não é sobre eu ir ou não. É sobre ser em uma segunda-feira. Ninguém frequenta festas às segundas, e tampouco eu.

- Claro que você não frequenta. Por que frequentaria? Nunca vai à nenhuma.

Ele tem razão. Não vou porque não gosto. Nunca gostei, mas vez ou outra sacrifico minhas vontades para fazer companhia aos meus colegas. Prefiro o silêncio que meu apartamento pode me proporcionar e odeio muvucas. Festas são antiéticas, a não ser que sirvam para lhe gerar algum conhecimento. O que certamente não ocorre.

Além de carregar o peso de um cargo renomado e precisar mergulhar em minhas obrigações, odeio coisas barulhentas e uma quantidade grande de pessoas se esfregando.

Além do mais, minha agenda para o dia de amanhã está lotada e preciso adiantar muitas coisas. Não suporto deixar coisas para fazer no último dia.

- É um pouco triste não ter um amigo que me acompanhe nessas coisas. Para todos os lados que eu olhe, vocês me abandonaram.

- Você tem Marcos. - Eu o lembro.

- Marcos namora!

- E?

- E Milena não permitiria que ele saísse comigo, porque sabe o que faço nas festas.

Sim... ela deve saber. Victor transa com qualquer uma disposta a fazer o mesmo com ele. No entanto, é obvio que seria visto como um mal caminho. Só não é um para mim porque sou desinteressado no quesito de mulheres. Dão trabalho, e certamente são seres difíceis de lidar. Nunca permitirei que alguém sobreponha minhas responsabilidades na empresa.

Tiro a camiseta do corpo e a dobro antes de colocar ao cesto de lavar roupas, deixando o peito nu para refrescar.

- Escute, tenho agenda cheia amanhã. Preciso acordar cedo, e se for à uma boate com você provavelmente beberei. Vamos fazer isso... na sexta.

- Você vai arranjar uma desculpa para não ir até lá, tenho certeza!

- Espere e veja.

- É, vou fazer isso. Mas em fim, como estão as coisas na empresa? - Respiro fundo e abro minha geladeira para pegar uma garrafa d'água.

- Como sempre. Tudo ocorrendo como o planejado mas muitas coisas a serem ajustadas. Se quisermos evoluir nos projetos provavelmente terei que apertar meus horários e intensificar meu trabalho. Portanto, estou indo devagar. Mas sem tirar os pés da linha e ter uma postura crítica. Tenho duas reuniões amanhã.

Uma com um executivo à procura de parceria na produção de alguns financiamentos, e outra com o departamento geral, a respeito do novo projeto que passei noites escrevendo.

- Isto é bom, assim você não se mata de trabalhar como já faz normalmente. Não sei como consegue ficar com a bunda sentada em uma cadeira resolvendo conflitos. Deve ser estressante pra caramba.

- Você faz o mesmo, Victor. Devo lhe lembrar que é um advogado.

- Ah, é, tem razão. Eu faço a mesma coisa. Mas na prática, porque prefiro ver gente se defendendo num tribunal do que decorar um zilhão de leis no papel. É muito mais emocionante, e as pessoas começam a perceber que você não precisa ser um velho branco para bater com o martelinho.

Victor e eu fizemos universidade juntos, e dividimos uma república na época. Ele não estuda mais pois conseguiu se formar e alavancar na carreira de juiz, de forma que não precisasse mais dar conta de outras matérias. O mesmo aconteceu para mim, e hoje estamos com quase trinta anos seguindo com nossas vidas.

Eu com uma empresa movida e construída por minhas mãos, e ele com seu nome fundido na porta de um escritório judiciário. Outro amigo nosso que morava na república conosco é Marcos, o único de nós que conseguiu uma mulher ao meio de tudo.

Fora ele, Victor ainda continua na busca de sua alma gêmea de cama em cama e, eu, desisti antes mesmo de tentar. Não chego perto de mulheres com segundas intenções.

- Bom, cara, já que ninguém quer ir comigo para festa acho que vou adiantar algumas coisas aqui em casa também. Mas lembre-se que vou encher seu saco na sexta-feira. Não quero desculpinhas.

- Sim. A não ser que eu tenha alguma coisa no trabalho.

- Você não terá.

- Nunca se sabe.

Ele resmunga mais alguma coisa e desliga. Deixo o celular acima do balcão e tiro da geladeira um resto de berinjela recheada que fiz à um dia atrás. Prezo por muito por minha saúde, por isso sempre tiro um tempo para fazer minhas refeições sempre nutritivas.

Engulo a berinjela e vou em direção ao meu escritório, me concentro em algumas papeladas e adianto alguns trabalhos, anotando tudo o que tenho a fazer. Sou uma pessoa exigente, e muitos podem traduzir isto como uma arrogância. Mas não é arrogância alguma.

É preciso ter punho forte para comandar uma empresa destas, e fiz isto quase sozinho, então é certo que eu tenha preferências dentro do meu trabalho. Ninguém nunca me questionou a respeito de minhas ordens.

Exceto a nova secretária. Carolina. Carolina Marzin. Ela não ficou feliz com a forma que abordei suas novas responsabilidades na empresa. Não precisou falar, mas o queixinho se erguendo ligeiramente e os olhos esverdeados se fechando irônicos disseram tudo.

Bem, ela não tem o que reclamar de nada. Apenas aceitar. Afinal de contas, se não o fizer ela será demitida e tem todo o direito de fazer isso por si mesma. Embora seu histórico de notas seja quase impecável, e seria uma pena perder alguém com grande potencial.

Teimosinha. Não gostei da forma sarcástica com que me questionou... tem algo nela. Não posso negar que é bela. Porra... fodidamente bela. Tive que me recompor mais de uma vez para manter a postura e tratá-la do jeito certo.

Não aparentava usar maquiagem, o que me surpreendeu tendo em vista de que era seu primeiro dia de trabalho. Talvez isso diga que ela não é uma pessoa organizada, mas não para por aí. Pois os cabelos presos em um coque estavam bagunçados, e exceto pelas roupas ela parecia ter acabado de levantar da cama.

Os olhos esverdeados foscos, a curva afinada do nariz e a sutil linha do queixo, os lábios carnudos e ligeiramente avermelhados... Marzin parece um anjo. Não apenas pela aparência angelical composta por fios loiros e olhos claros, mas pelo modo como anda.

Seu corpo é magro, mas curvilíneo ao mesmo tempo apenas pela forma com aquela saia grudava em seus quadris acima da coxa... paro quando meus dentes doem, e percebo que estou mordendo a ponta do lápis mais forte que o normal.

Fecho as mãos num punho. Balanço a cabeça. Isto é errado. Não sei por quê estou pensando nisso e nem nela. Com outras secretárias nunca foi difícil. Eu sempre as vi sob uma lente de profissionalismo e nada mais. Não será difícil fazer o mesmo com Carolina.

Preciso fazer isso com ela. Ainda mais com a forma que ela me desrespeitara no escritório. Volto a me concentrar em meus papéis.

Dear Boss | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora