Capítulo 50

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No dia seguinte bem cedinho Jessica voltou, com o pequeno embrulho em seus braços.

- E então? - Perguntei animada.

- É um menino, o Ferdinando. - Respondeu sorrindo.

- Ai que gracinha. - Falei quando ela descobriu o rostinho para me mostrá-lo.

- Calem a boca, quero dormir.

A cobra era tão venenosa que foi só abrir a boca que o bebê começou a chorar escandalosamente.

- Bem que dizem que crianças e animais tem um sexto sentido, detectam o mal de longe. - Falei revirando os olhos.

Jessica para tentar o acalmar se sentou e começou a lhe dar de mamar, e funcionou.

- Deve ser uma sensação única... - Falei pensando em quando fosse minha vez.

- É sim, uma conexão muito forte.

- Do que adianta se daqui seis meses irão levá-lo e você voltará a vê-lo quando ele já estiver na escola, e olhe lá?

Era incrível a capacidade da Julieta de estragar os momentos felizes das pessoas, o que Jessica e eu poderíamos dizer sendo que o que ela disse era verdade?
A velha saiu da cela impaciente, provavelmente pelos resmungos que o bebê ainda estava dando.

- Não de ouvidos a ela.

- Ela só disse a verdade, Maite.

- Não, irão trazê-lo para te visitar, fique tranquila.

- Do tempo que está aqui quando viu alguma visita para mim? Quando minha mãe trouxe meus filhos para me ver? No começo sim, mas o tempo vai passando e vão esquecendo de nós, e como poderemos culpá-los?

Será que seria assim comigo? Será que William e minha mãe esqueceriam de mim? Será que deixariam meu filho esquecer também?

- A vida é muito cruel... - Murmurei.
O tempo foi passando, por incrível que pareça Julieta não tentou nada comigo além dos insultos diários e eu estava achando muito estranho.
Minha mãe e William continuaram a me visitar sempre, e cada dia que vinham era um presentinho novo para o bebê, roupinhas, fraldas, chupeta, sapatinhos e bastante comidinhas para mim.

- Mal posso esperar para conhecer esse serzinho que eu mais amo no mundo. - Disse William enquanto acariciava minha barriga. Hoje era dia de visita íntima, mas não fizemos nada demais, eu já estava entrando nos nove meses de gestação, e não estava tendo mais tanta disposição. Minhas costas doíam, eu vivia ofegante e leite já começava a vazar dos meus seios.

- Apesar do tempo aqui dentro não passar, confesso que também estou achando que o relógio está com pressa.

- Me perdoa por não ter conseguido as consultas, lutamos muito lá fora, mas o pedido sempre foi negado. Isso é revoltante demais. - Falou nervoso.

- Tudo bem, sei que deve ter feito tudo que estava em seu alcance. Agora só nos resta torcer para estar tudo bem, e essa criança ser muito forte e saudável.

- Será meu amor, forte, saudável e linda como você.

- Espero que seja uma mini cópia sua. - Respondi sorrindo, e era verdade. William era a coisa mais bela que eu já tinha visto em toda minha vida, deveriam dar um jeito de clonar tamanha beleza.

- Você acha que vai ser menino ou menina?

- Não sei... Jessica disse que a barriga parece de menina.

- Eu acho que vai ser menino, mas não me importo com isso, independente do sexo será amado incondicionalmente. Sua mãe está toda empolgada lá em casa, o quartinho já está todo pronto. - Comentou sorrindo.

- Já? - Perguntei cabisbaixa.

- Sim, o que foi?

- Me dói saber que seremos separados poucos meses depois de seu nascimento...

- A meu amor, não fique assim. Você sabe que a prisão não é o melhor lar para uma criança, além disso a traremos sempre para visitá-la.

- Mesmo assim... - E antes que eu percebesse já estava chorando, malditos hormônios!

William me puxou para seus braços e me apertou firme contra seu corpo.

- Não sofra antes da hora, por favor. Vamos pensar em coisas felizes.

- Como anda minha cervejaria?

- Muito bem, estamos nos estabilizando de novo. Depois que todo o burburinho passou, as pessoas esqueceram e voltaram a consumir normalmente. E outra, sua cerveja é a melhor.

- E a empresa da sua família, como está?

- Bem também. Já temos dinheiro suficiente para comprar uma nova casa a sua mãe, mas eu pensei em deixar as coisas como estão, ela lá na minha casa mesmo.

- Eu apoio, principalmente quando o bebê for para lá, ela será de grande ajuda.

- Sim, pois é. 

- William, você vai me esperar mesmo? Vai esperar anos por mim?

- A vida toda se necessário. - Respondeu acariciando meu rosto.

- Eu te fiz tanto mal...

- Fez mesmo, isso não posso negar. Mas toda a felicidade que você me deu superou, você tirou as vendas dos meus olhos, me fez enxergar quem eu chamava de mãe, você me amou de verdade mesmo que esse amor tenha ultrapassado limites e chegado a loucura e a obsessão, mas eu te entendi e você também mudou, essa Maite que está diante de mim hoje não é a mesma Maite de antes, e eu me sinto muito orgulhoso disso, de você ter se redimido mesmo que isso significasse ficar trancada aqui dentro. E principalmente, você vai me dar um filho, não tem como explicar como eu me sinto completo por isso.

- Obrigada por tudo. - Respondi e o abracei.

Louca ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora