Capítulo 11

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Na manhã seguinte acordei renovada, acho que toda aquela adrenalina do sequestro já havia passado, e agora eu estava simplesmente normal. Tive uma excelente noite de sono, e isso fazia toda a diferença.
Caminhei calmamente até o banheiro e fui me despindo durante o percurso, deixando um rastro de roupas pelo caminho, mas eu não me importava.
Depois de um longo e relaxante banho vesti uma calça jeans preta grudada ao corpo e uma camisa social de seda branca o sutiã da mesma cor era todo rendado e desculpem pela modéstia, mas ele me deixava bem gostosa.
Eu estava com preguiça de arrumar meus cabelos, então fiz um simples rabo de cavalo, passei um gloss cereja nos lábios e um rímel.
Depois de mirar o espelho e gostar do resultado peguei minha bolsa e saí, chequei minhas redes sociais enquanto seguia para o carro, nada de novo.
Antes que eu me desse conta eu já estava descendo do meu veículo e caminhando para a "Boutique Jéssica Collin".

- Bom dia, posso ajudar?

E ela estava exatamente como eu me lembrava, sorridente, com um olhar simpático, pronta para ser útil no que eu precisar.

- Estava passando e vim dar uma olhada. - Menti, eu nunca passava pela aquela rua, mas algo no meu interior fez eu vim por aqui propositalmente.
Seu cabelo já havia crescido, agora batiam nos ombros e estava com diversas amarrações, e um movimento dela de cabeça me fez reparar que a verdade por trás de tantos elásticos e grampos era as diversas falhas em seu couro cabeludo, não é que o produto era bom mesmo? Rs.

- Ontem chegou um vestidinho casual aqui, perfeito. Vou pegar para você ver, só um momentinho.

E então ela saiu loja adentro, comecei a vagar por entre as araras e me deparei com uma menininha atrás do balcão, tinha uma boneca em mãos e a chacoalhava de um lado para o outro, era uma versão pequenina da Jéssica, eu sabia que ela tinha engravidado no ano seguinte em que saiu do colégio, boatos que o pai era um hippie skatista com quem ela teve um caso por menos de um mês e quando soube da gravidez meteu o pé na estrada e agora só Deus para saber onde ele está. Ouvi dizer que foi nessa mesma época que William se afundou de vez no mundo dos pecados, e desde então não havia parado em casa mais nem uma noite se quer.

- Oi!

A menina me fez sair de meus pensamentos e então a mirei novamente com um sorriso nos lábios.

- Olá princesa, como se chama?

- Clarice e você?

- Belo nome, eu me chamo Maite.

- É o nome da minha boneca, acredita? - Disse boquiaberta levantando a boneca para me mostrar, verdade seja dita, que horror de brinquedo.

- Que linda. - Menti tentando evitar de fazer uma careta.

- Clarice pare de importunar a moça. - Repreendeu Jéssica voltando com diversas peças em mãos.

- Imagina, estávamos apenas nos apresentando. Ela é uma graça.

- E muito arteira, pode ter certeza. - Disse sorrindo. - Olha, trouxe esses modelinhos, ficarão lindos em você. Peguei cores mais escuras, como você é bem branquinha esses tons sempre ficam perfeitos.

- Ótimo.

Comecei a olhar, realmente eram vestidos bem bonitos, tinha para o dia a dia, para trabalho e muitos para ir aquelas baladinhas cheios de glitter, decote e franjas.

- Acho que você não me é estranha. - Comentei como quem não quer nada com nada.

- Então, eu estava pensando a mesma coisa.

- Onde você estudou?

- No colégio Moraes II.

- Então é isso, eu também. - Falei sorrindo.

- Você não é a Perroni?

- Isso mesmo.

- Que bacana, faz muito tempo que não via ninguém da nossa escola.

- Pois é, eu também.

- Tive muitos anos bons lá, apenas um que me trouxe problemas...

- Você foi a que ficou é... É...

- Careca. Exatamente.

- Foi realmente um caso lastimável.

- Um caso criminoso, né? Óbvio que  fizeram alguma coisa comigo, meu cabelo não cairia todo da noite para o dia. - E pela primeira vez notei raiva em seu tom de voz.

- Você acha que foi alguém do colégio?

- Acho não, tenho certeza. Mas isso já passou, foi algo que me desestabilizou, mas não por muito tempo. Eu sou uma mulher forte - Disse sorrindo novamente.

- Posso perceber isso. Vou ficar com todos, adorei.

- Que maravilha, não quer provar antes?

- Não há necessidade.

- Tudo bem, vou embrulhar para você.

- Até mais Clarice, foi muito bom te conhecer.

- Tchau - Falou abanando a mãozinha.

Enquanto o cartão era passado não pude deixar de comentar.

- Ficou sabendo que William Levy está desaparecido?

Muito rapidamente ela desviou os olhos do que estava fazendo e me mirou, mas logo voltou sua atenção a maquininha e ao cartão.

- Difícil não saber, está em todos os jornais. - Disse.

- Espero que o encontrem logo, ele e a mãe dele são meus vizinhos, e a pobrezinha está desesperada.

- Lamento por ela, mas no fundo cada um tem o que merece, e confie em mim William não era uma das melhores pessoas. - E nesse momento vi uma sombra misteriosa e angustiada em seu olhar, mas rapidamente sumiu e voltou o rosto animado de Jéssica Collin que todos conheciam. - Aqui está, muito obrigada.

- Eu que agradeço.

Com as sacolas em mãos e já fora da Boutique suas palavras ressoavam em minha mente, afinal será que eu não conhecia William tão bem quanto pensava?

Louca ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora