Capítulo 33

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- Maite, minha filha. - Disse e me abraçou. Rapidamente eu me afastei e a encarei incrédula.

- Sua filha? A partir do dia que você me abandonou eu deixei de ser qualquer coisa sua. - Falei nervosa.

- Eu não te abandonei, me deixe explicar, por favor... - Pediu com os olhos lacrimejando.

- O que foi? Acabou seu dinheiro e veio atrás de mais?

- Eu fui sequestrada! - Falou e começou a chorar.

Nesse momento eu mal conseguia respirar.

- Você está mentindo!

Ela então tocou meu ombro e me guiou para dentro de casa e vindo logo atrás de mim, me sentou no sofá e depois sentou-se ao meu lado. Por alguns minutos ela não disse nada, apenas oberservou atentamente cada canto de nossa sala, lugar onde ela, meu pai e eu tivemos tantos momentos bons.

- Pensei que nunca mais voltaria para cá.

- Pois é, eu também pensei que não retornaria.

- Você e seu pai eram tudo pra mim, jamais os abandonaria.

- Me conte tudo o que aconteceu, por favor...

- Seu tio era obcecado por mim desde nossa adolescência, mas eu era apaixonada pelo Renan, seu pai. Então depois que casamos André pareceu desencanar e voltou a ter uma boa convivência com a gente, e pensávamos que estava tudo bem, porém estávamos muito enganados.
No dia em que desapareci eu havia recebido uma mensagem de André pedindo ajuda, ele disse que o carro havia quebrado na estrada e precisava de alguém para buscá-lo. Então pensei que seria algo rápido e não avisei ninguém, seu pai estava trabalhando na cervejaria, você estava na escolinha, e assim eu fui até o local que ele me mandou, chegando lá quando desci do carro ele e outro homem me seguraram, cobriram meus olhos, tamparam minha boca e me levaram até uma casa no meio do nada, me jogaram em um quartinho escuro, e André fez o que quis comigo naquela noite... - Ela precisou parar para poder secar um pouco as lágrimas que escorriam sem cessar pelo seu rosto. - Depois ele me obrigou a escrever uma carta dizendo aquelas palavras que você já sabe, que aquela vida de dona de casa não era pra mim, que ter filho foi a pior coisa que me aconteceu e que eu estava indo embora viver minha vida.
Ele me contou que conseguiu entrar na nossa casa, fez as malas com minhas roupas, pegou o dinheiro do cofre e deixou a carta na escrivaninha do quarto.
Seu pai estava sofrendo muito com minha suposta partida e André aproveitou a situação para entrar de vez aqui, quase todos os dias ele ia me ver e cada vez que ele chegava era um pesadelo diferente. Um dia ele chegou e disse que Renan havia morrido...

- Sim, ele se... Suicidou. - Falei tentando conter as lágrimas.

- Não, seu pai jamais te deixaria, filha. Foi seu tio, ele o asfixiou a noite com o travesseiro, depois amarrou uma corda em seu pescoço e o pendurou no quintal já morto, foi ele que tirou a vida do seu pai.

- DESGRAÇADO! - Gritei em um misto de raiva e nojo.

- Nisso eu continuava lá presa, sendo torturada, me davam um pedaço de pão a noite, e um copo de água a cada dois dias. E foi no dia 24 do 10 de 2006 que...

- Ele me violentou pela primeira vez. - Completei meio a lágrimas, eu nunca esqueci aquela data maldita, nunca! Mas também foi naquele mesmo dia que William e sua família se tornaram meus vizinhos, foi naquele dia que o vi e soube que ele era o amor da minha vida.

- Exatamente, naquele dia ele chegou ao cativeiro com um sorriso de orelha a orelha e disse "Eu nunca mais vou te comer vadia, encontrei alguém muito melhor, sua filha. Marca bem essa data, porque hoje foi nossa primeira vez  juntos.", eu implorei a ele que fizesse o que quisesse comigo e te deixasse fora disso, mas ele apenas me lançou um último sorriso e nunca mais voltou, eu sabia que a vítima havia se tornado você, minha pequena menininha... Eu orei tanto, pedi a todos os deuses que lhe protegesse já que eu não podia fazer nada.
E todo esse tempo quem me manteve presa foi o amigo dele que havia o ajudado, ele continuou com os mesmos abusos e as mesmas torturas que André. Se não fosse o desejo de te reencontrar e dizer que eu nunca tinha te abandonado acho que eu não estaria mais viva, porém lutei até o último segundo. E finalmente consegui escapar mês passado, depois de várias tentativas falhas consegui pegar a chave enquanto ele dormia e fugi. Fui até a delegacia e conseguiram o prender. Você fez o mesmo minha filha? Denunciou André?

- Não, eu o matei.

Ela arregalou os olhos por alguns segundos e depois me abraçou, juntas desabamos mais uma vez em choro.

- Cada vez que ele me batia eu me perguntava onde estava você, onde estava minha mãe. E quando ele começou a me violentar eu só sentia raiva e desprezo, tudo o que eu estava passando era culpa sua por ter me deixado...

- Me perdoa filha, me perdoa por não ter conseguido te proteger desse mundo cruel... Eu daria minha vida para evitar que você passasse por tudo que passou.

- Eu não te culpo, você não poderia fazer nada. Eu preciso fazer uma coisa agora. - Falei me levantando.

- Mas o que?

- Logo você irá entender, só peço para que não me julgue e me entenda. - Respondi lhe dando um abraço, pegando as chaves do carro e indo rumo a fazenda.

Louca ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora