A ESCOLHA DE UMA HARARE

Capítulo 16

Reino de Ingalo, 06 – 07 – 49818

      -Olá? - Lupércio acorda aos poucos enquanto escuta uma voz feminina muito vagamente na cabeça. - Ei! Acorda! Acorda! O que você está fazendo aqui?

      Não conseguia se lembrar de nada, só pensava em como tinha se afastado de sua mãe na noite passada, depois de se transformar em fera. O seu corpo passava pela mudança ainda de uma forma cansativa, ao ponto de que quando se transformava novamente em sua forma normal, apenas apagava, não aprendia a controlar nada ainda, não como sua mãe, ela tentava ensiná-lo mais a cada ciclo que se passava.

      -Ei! Lobinho! - Uma garotinha de, aparentemente, a mesma idade da sua, estava diante dele. Lupércio não estava em seu quarto, não estava em seu castelo. Primeiramente se assusta e começa a chorar, seus olhos acinzentados desabram. - O que foi? Você está bem? Desculpa assustar você, eu não queria fazer isso... - A garota tinha o olhar realmente preocupado através de seus olhos castanhos, da mesma tonalidade escura do cabelo. - O meu nome é Alissa, eu sou uma Harare também. E, bom, você está no meu castelo. O papai me proibiu de entrar aqui, mas eu não pude evitar, precisava perguntar: Por que você era um lobo ontem de noite e agora já não é mais? - Era o último dia do ciclo de sua terrível maldição familiar. Sua mãe tinha, ele tinha e seu irmão também, era algo genético e mágico, não de um jeito bom.

      -O que? - Lupércio ainda estava muito atônito. Queria entender o que estava acontecendo.

      -Tudo bem, eu também tenho uma maldição, mas a minha é diferente, quero saber por quê você tem uma maldição. - Alissa achava que os quinze terríveis dias que passava na floresta deixando as grandes asas tomarem forma da forma mais dolorosa possível era, na verdade, uma maldição, seu pai alimentou essa mentira por muito tempo.

      -Eu não sei, eu nasci assim, eu acho, minha mãe é assim, meu irmão também... Onde eu estou?

      -Eu já disse, no meu castelo. Quer dizer que você tem uma maldição familiar! Que legal, eu já li sobre isso! Isso quer dizer que algum antepassado seu foi amaldiçoado por um Harare muito poderoso e ele amaldiçoou todas as gerações posteriores, eu nunca vi uma coisa assim antes. A minha é só essa asa ridícula, que dói muito, fico decadente por dias, você vira um lobo.

      -Eu não viro um lobo. É diferente. - Lupércio tenta se levantar, mas estava algemado à cama do quarto enorme.

      -Parece um lobo. E você não pode sair. Acho que seus pais te buscarão esses dias. - Alissa senta-se na cama onde o herdeiro de Parlatos estava.

      -Eu quero sair daqui.

      -Mas você é nosso prisioneiro. Ingalo precisa de você, eu não sei muito bem para que.

      -ESTOU EM INGALO?! SOCORRO! - Lupércio começa a gritar e Alissa suspira.

      -Cala a boca, ninguém vai te soltar e ninguém vai te matar. Se você fizer barulho vão me achar aqui e a minha madrasta não vai gostar de saber que eu estou aqui, acredite! Seus pais virão atrás de você.

      -O que eu faço? Estou preso em Ingalo. - Ele parecia falar consigo, mas Alissa não se importava, respondia mesmo assim.

      -Não precisa fazer alguma coisa, mas se puder evitar gritar, eu já agradeceria demais.

      -Por que eu tenho que falar com você?

      -Porque eu sou a única companhia que você tem e esse vai ser o nosso segredo.

      -Eu prefiro ficar só.

      -Você é irritante, e não tem escolha.

      -Mate-me, por favor! - Alissa ri.