Alissa estava na floresta com Agares, já faziam seis dias que os dois passavam pela pior experiência que um meio-Harare poderia passar: Os quinze dias. Desde quando crianças os dois tinham que ir para a floresta, ficavam escondidos para que o reino não soubesse. Sentiam dor, sentiam frio, mas tinham um ao outro. Seu pai dizia que era disso que precisavam, juntos não seriam descobertos.
Estavam exaustos, fisicamente e emocionalmente, aquilo os descarregava completamente. Era uma floresta nova, não como a de Magnolia, ali poderiam ser decobertos a qualquer minuto por um mortal, seria o fim. Não seria difícil já que as suas condições eram completamente comprometedoras.
Os dois possuíam asas naquele momento, asas grandes e pesadas que o corpo não conseguia carregar, por isso era mais fácil as próprias asas carregarem o corpo. Sentiam muita dor, as asas causavam uma dor insuportável, como se suas costas estivessem rasgando de dentro para fora, muito sangue escorria dali. As lendas diziam que os 15 dias serviam como uma purificação do sangue humano que corria pelo seu corpo, mas ninguém sabia se isso era verdade, mas sabiam que aquilo era uma punição.
Agares e Alissa passavam quinze dias agonizando de dor, mas ali as asas finalmente estavam completas, agora elas retornavam para dentro novamente, diminuindo aos poucos, matando aos poucos cada um dos dois. Aquele tempo era como se as asas não conseguissem se segurar dentro deles.
Às vezes os irmãos se ajudavam, conversavam, ou só ficavam em silêncio esperando aquela agonia acabar. Só faltavam alguns dias de dor, estavam exaustos, mas resistiam.
Entre as conversas do 6° dia, um dos mais tranquilos, eles conversavam tranquilamente como se suportassem a dor, como se ela fosse amiga, haviam se acostumado um pouco mais.
-Você gosta de Lupércio, não gosta? - Agares pergunta para a irmã pegando galhos do chão para fazer uma fogueira, enquanto Alissa descansava em cima de um tronco de árvore caída no chão. Seu vestido estava rasgado e sujo de musgo.
-Não seja estúpido, Agares. Não tenho interesse em covardes como ele.
-Gosta de Eros? - Agares insiste.
-Ela é bonita, mas é certinha demais. - Rebate a meia-Harare.
-Você planeja matar Haures? - Alissa pensa por uns minutos.
-Eu não sei mais. Ele me mostrou um tipo de lealdade que nem você seria capaz de demonstrar e eu nunca fiz nada por ele. Não o ajudarei, mas com esse coração, ele seria um bom governante. - Ela suspira e deixa as lágrimas escorrerem sobre seu rosto. - Eu estou destruída, Agares, quero ir embora. Todo dia sendo maltratada, todo dia sendo menosprezada. Eu não conseguiria matá-lo, nem se pudesse. É justo que ele esteja lá. Essa coroa não é minha pela lei...
-Você está desistindo? - Alissa não se importa mais em deixa o choro transparecer, afinal, não era qualquer um que estava ali ao seu lado, era Agares, ela sabia que ele a entendia, e se caso não entendesse, pelo menos tentaria.
-É tudo tão confuso. Não faço questão por uma gota de sangue dos meus súditos, mas quero governá-los. Eu sou ambiciosa. Eu perdi a minha chance de conseguir governar esse reino.
-Não estou te reconhecendo.
-Quero muito que Haures ganhe essa competição para que nós não morramos. Talvez quando ele ganhar, possamos governar com ele, talvez ele abandone o trono para ir embora.
-Eros não permitiria. - Agares rebate.
-Eu tinha um plano para matá-lo, realmente tinha. Mas agora, eu não consigo, não sei o que fazer. Eu quero esse reino e faria de tudo para conseguir governá-lo, mas agora...
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A ESCOLHA DE UMA HARARE
FantasíaTrês grandes impérios governados por Harares realizam um acordo para acabar com uma guerra antiga entre dois deles. O Reino de Clévulos, mediador do Pacto dos Três Impérios, prepara sua herdeira para escolher entre os dois sucessores dos tronos dos...