Capítulo 2

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 Reino de Ingalo, 28 – 07 – 49832

      Faziam quatorze anos que a Guerra dos 300 Guerreiro havia encerrado, mas a população do reino ainda pagava caro com a fome e pobreza. Em um dos bairros, o mais distante do centro da capital, as mulheres das pequenas casas de madeira velha, como pequenos barracos, varriam as calçadas, lavavam a louça ou banhavam as crianças, as moças tão magras, com os rostos ossudos e cinzentos. Os homens acordavam para trabalhar, normalmente em pequenos estabelecimentos, com as barrigas quase encostando nas costas, pegavam os resquícios das sobras do jantar, que era resto do café da manhã do outro dia e saiam do lar. O odor de urina ainda permanecia nas ruas mais afastadas do castelo, as pessoas estavam doentes e estavam morrendo. Era tão diferente das que viviam nos bairros nobres, mais próximos do enorme castelo de pedras foscas. As mulheres muito bem trajadas com vestidos dos melhores costureiros do reino, tomavam seu café da manhã junto da família, com a esposa ou o esposo, comendo as torradas bem crocantes e suculentas, juntamente com o café puro logo de manhã. Os homens, que eram correntemente soldados ou aposentados pela guarda real, não tinham pressa para tomar o café com seus respectivos cônjuges e aproveitar o momento nas grandes mansões aconchegantes.

      A chuva começara a cair, para combinar com o fúnebre ambiente do reino, parecia tudo azul e sem vida. As árvores que haviam no reino estavam sempre com as folhas meio amareladas, como se estivessem perto da morte, e toda a cidade parecia cada vez mais abafada por causa da floresta ao redor, com um verde tão escuro em suas plantas que parecia até que a cidade havia sido construída dentro de uma redoma de musgo, com quatro pequenas saídas de trilha por entre a floresta para acessar as outras cidades.

      O bar de Magnolia estava calmo, só haviam cinco pessoas nele: três jovens Guardais do castelo que saíram de seus turnos noturnos bebiam no balcão, o senhor barbudo que servia as bebidas e seu esposo que limpava as mesas. Os três Guardais eram muito novos, haviam acabado de ganhar o emprego para servir aos Harares do reino. Fabian, o mais novo de todos, com a barba por fazer segurando sua caneca de cerveja parecia nervoso, o dono do bar percebera que seria o seu primeiro gole de álcool na vida.

      -Quer um copo menor, rapaz? - O Guardal mais novo nega com a cabeça. Era tão magro quanto as pessoas de bairros ao sul de Magnolia. O dono do bar suspeitava que vinha de lá, ganhava o dom para ser Guardal e conseguiu ir em busca de uma vida com mais privilégios ao norte, não era o primeiro que fazia isso, não seria o último, não é algo que tenha um controle.

      Os outros dois sujeitos pareciam felizes e satisfeitos com tudo ao redor, seus rostos já eram conhecidos pelo homem que servia as bebidas, eram Rey e Hugo, dois filhos de ex Guardais participantes da Guerra dos 300 Guerreiros, ricos, poderosos e influentes, seus herdeiros já estavam habituados com o estabelecimento, com o serviço e com a vida luxuosa, seus corpos já estavam mais em forma do que odo mais novo. Mas o Dono do bar ainda estava curioso sobre Fabian, não parecia só nervoso, estava apavorado e paralisado no próprio pensamento a um tempo.

      -O que aconteceu com ele? Viu um fantasma? - Os dois garotos felizes soltam gargalhadas como se o Dono do bar tivesse contado algo engraçado ao invés de fazer uma pergunta.

      -Pior... - Rey inicia virando metade do copo de cerveja. - Viu a Princesa! A Harare Alissa de Ingalo. - O marido do Dono do bar se aproxima depois de ouvir o nome da Harare. - E ficou como guarda dela nessa noite.

      -Como isso é possível? Só os mais experientes ficam com Alissa e ainda mais pela noite. - Ainda limpando o balcão, o barbudo Dono do bar serve outro copo de cerveja para Rey e um para si, como se aquilo realmente tivera o atingido. - Davi em todos os anos como Guardal real nunca ficara como guarda de Alissa, nem quando era pequena. Dizem que ela se transforma em uma fera ao anoitecer, que tortura as pessoas trazidas pessoalmente pelos guardas. Diga, filho, o que aconteceu? - Pergunta referindo-se afetuosamente para Fabian.

A ESCOLHA DE UMA HARAREOnde histórias criam vida. Descubra agora