Mais do que depressa ela ia voltar a caminhar pelo corredor, mas Ícaro a deteve. Segurou-a pela cintura e a abraçou por trás.
— O que você está fazendo? – Ela perguntou, o empurrando de leve. – Com que direito me agarra, está louco?
— Sim, estou, Lara. Estou louco por você e não consigo tirá-la de minha cabeça um segundo sequer.
O choque de ouvi-lo dizer isso, quase a desconcertou, mas tão rápido veio, ela o afogou.
— Mantenha suas mãos longe de mim – ela avisou e entrou na cozinha torcendo para que ele não visse suas mãos trêmulas ao encher a chaleira e a colocar no fogão.
Ícaro se sentou e aguardou o café, sem saber como iniciar a conversa. Lara tentava entender o que estava acontecendo. Ele mesmo lhe garantira, lhe prometera que jamais se apaixonaria por ela, agora estava ali embriagado em sua cozinha, a cara de cachorro que caiu da mudança e torcendo as mãos.
— Estava no trabalho e ia para a casa agora, mas sabia que não conseguiria dormir se não a visse.
— Então resolveu encher a cara? – Ela alfinetou.
— Só bebi um pouco de vinho, nada tão...
— Nada igual a mim, não é? Espero que não tenha vomitado no carro de alguém.
Ela pouco se importava de o alfinetar. Estava quieta em seu canto, até dormindo, mas ele tinha que aparecer em sua vida de novo e a desestabilizar, que aguentasse o tranco então.
Ícaro a olhava, ansiando por abraçá-la contra si, sentir seu cheiro.
— Aqui está – ela colocou a xícara de frente a ele na mesa, cruzou os braços à frente do corpo e aguardou. Não ia se sentar ao lado dele, muito menos acompanhá-lo no café. Ela temia não resistir. Tinha necessidade física de tocá-lo, sentia saudades da pele dele, dos beijos e não confiava em si mesma para ficar tão próxima a ele. Queria enfiar os dedos nos cabelos dele e puxá-lo, beijá-lo até perder a razão. Ouvir a voz dele a fazia reviver os doces momentos que estiveram juntos. Só agora ela se dava conta de que estava mesmo condenada. Ela o amava. Porque tinha que ser tão complicado as coisas.
— Não vai se sentar?
— Por quê, Ícaro? Por que você está aqui, afinal de contas?
A resposta dele foi se levantar e se postar ao lado dela, fazendo com que as pernas dela bambeassem. Lara engoliu a seco e levantou os olhos para ele, empinou o queixo e arrebitou o nariz.
Quando Ícaro colocou uma mão na nuca dela e a trouxe para sim, baixando a cabeça e olhando fundo nos olhos dela, as pupilas dilatadas e lambendo o lábio inferior, ela se sentiu derreter como areia sendo levada pela onda.
Lara estava desesperada por sentir os lábios dele contra o seu, em se agarrar a ele, se fundir a ele. Mas se deteve. Sentiu o cheiro da cerveja na boca dele e ele só podia ter ido até ali porque bebera.
Em uma hora estaria de volta ao sarcasmo e acusações. Ela então o empurrou com força.
— Se não quer o café, vá embora. – Falou sem olhá-lo no rosto, sem ver a mágoa estampada ali. – Eu poderia estar com um cliente, sabia?
— Oi?
— Não foi disso que me acusou da última vez que esteve aqui, não me perguntou se Patrick costumava me pagar?
Cada palavra que saía da boca dela era um punhal se enfiando nas costelas dele e ele exprimia bem na expressão.
— Estávamos ambos irritados, Lara. – Ele exclamou angustiado.
— Não costumo acusar as pessoas quando estou irritada. Fora da minha casa, Ícaro. Nem sei porque o deixei entrar. Eu nem me lembrava mais de você.
Doía tanto nela quanto nele essas palavras, mas ela precisava que ele fosse embora dali logo.
Ele deu-lhe as costas e se encaminhou a passos firmes para a sala e dessa vez, quando foi embora, bateu a porta com força, fazendo tremer a parede.
— Maldito canalha! – Vociferou ela para ninguém.
O sábado amanheceu com ela acordada. A visita de Ícaro lhe tirar o sono.
Ao contrário do que tinha planejado, Lara passou o dia em casa, só saiu para fazer despesa e levar sua roupa à lavanderia e passou a tarde e a noite em casa lendo e colocando sua agenda da próxima semana em dia.
Já estava deitada quando Patrick lhe ligou às onze e quarenta da noite e ela não atendeu. Ele insistiu muitas vezes e ela abaixou o volume do celular para não ser incomodada.
Colocou uma série que havia iniciado e assistia já debaixo dos lençóis quando seu celular acendia a tela ao lado de sua cama, na mesinha, anunciando mais chamadas de seu amigo. Ele com certeza queria lhe convencer a ir à boate novamente, já que ela sabia que ele estaria lá, mesmo sabendo que não seria convencida, pois nada nesse mundo a faria se levantar, se arrumar e ir, ela o ignorou, pois ele falaria por horas e com certeza estaria bêbado.
A série não estava lhe prendendo a atenção, ela desligou a tevê e torceu para que o sono viesse. Estava há uns dez minutos com os olhos fechados quando sentiu a vibração do celular novamente e dessa vez Patrick lhe mandou uma foto. Antes de clicar na imagem, ela viu que tinha sete dos gigantescos áudios do amigo. Ouviu o primeiro:
" Você não vai acreditar em quem acabou de chegar aqui na boate!"
Esse até que foi um áudio curto. Os demais pareciam ser também curtos e já sorrindo e imaginando quais dos advogados amigos, os colegas estariam na boate.
" Por que não me atende, sua maldita?!"
" Sério, Lara, me atenda, vai."
" É urgência urgentíssima!!"
" Ele está bebendo desde a hora que chegou."
" Não me viu ainda, deve estar a sua procura, só pode ser."
Lara se pôs de pé de um pulo, mesmo sentindo suas pernas tremerem. De quem diabos Patrick estava falando?! Será que o maluco tinha ido até lá, achando que ela estaria na boate?
A imagem que ele havia enviado meia hora atrás carregou e ela viu. Ícaro. Ele estava na boate e vestido com o uniforme de socorrista!!
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O Socorrista Ícaro
RomanceLara só estava cuidando de sua vida quando viu uma idosa passando mal na rua e tentou ajudar. Ela não contava que o Socorrista chamado para o atendimento a trataria com tanta frieza e grosseria, muito menos que isso a atiçaria. Ícaro não é um Socorr...