Capítulo 5

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Ícaro – parecendo bem mais humilde agora – cumprimentou os três e puxou uma cadeira para se sentar com eles.

— Você deveria ter me dito – foi o que ele falou, virado para Lara. Lucius então entendeu que esse era o socorrista do qual elas estavam falando. Dava para ver que a ficha havia caído para ele.

— Você é sempre assim, prepotente? – Lara perguntou, sem olhar nos olhos dele, mexendo com uma colher o seu café, fingindo que não se importava com ele. – Como estávamos dizendo, Lucius, que interessante nós dois sermos advogados, não é? Eu e você, e que incrível que você seja o filho da senhora Mirtes.

Ela estava de novo sendo rebelde e só após jogar isso no ar, ela olhou para Ícaro, imaginando que isso quebraria um pouco a crista dele.

— Você é o filho da senhora Mirtes, a que trouxemos hoje desmaiada e sozinha para o hospital? – E ali estava, ele tinha encontrado outra pessoa para despejar o seu veneno, sem ao menos se desculpar com Lara.

— Ei, alto lá, rapaz – Nadja vendo que a situação poderia piorar, o caldo entornar, resolveu entrar na conversa. – Primeiro que ela não estava desmaiada quando a encontraram, Lara já havia acudido-a, e segundo que estávamos falando com Lucios, que nos disse que a mãe tem Alzheimer e ele apenas entrou no banheiro por uns minutos e ela saiu, sem que ele visse. Estávamos até arrumando alternativas aqui de como ela pode fazer para que não ocorra mais isso. Então, guarde suas arma, a assistente social aqui sou eu.

Ela estava nervosa, a hierarquia foi delimitada e Ícaro finalmente baixou a guarda e relaxou os ombros.

— Não sou prepotente...

— Não quero mais falar com você, socorrista. Você é uma pessoa muito volátil, sugiro procurar ajuda. Nem sei como consegue permanecer no seu cargo, sendo agressivo com as pessoas. Jamais iria gostar que me socorresse um dia. – Falou Lara.

Ela viu quando ele empalideceu, mas Lara não estava satisfeita, continuou:

— Foi um prazer falar com vocês, conhecê-los – disse, virando-se para Lucius e Nadja. – Estimo as melhoras de sua mãe, e fique com um cartão meu para me dar notícias dela, por favor.

Ela havia se esquecido que não estava com sua bolsa, apenas com o celular.

— Bem, anotem meu número, estou sem bolsa. Fui arrastada para cá, sem chance de atravessar a rua e pegar minha bolsa – ela cutucou Ícaro, que tinha ficado de pé quando viu que ela ia embora. Lara disse o número e Nadja e Lucius anotaram em seus celulares. Ela então saiu, procurando no celular um contato de táxi. Entrou no elevador, ainda olhando para os contatos do celular e viu que Ícaro estava ao seu lado.

— O que você quer? – Ela perguntou, sem olhar para ele.

— Me desculpar com você.

— Agora? Um pouco tarde para isso, não acha?

Saíam do elevador e atravessaram o saguão do hospital com Ícaro ainda andando ao lado dela e, puxa, como ele era alto.

— Está desculpado, está bem? Nadja me explicou que você está sob pressão e tudo mais, até o entendo e o admiro por se preocupar com seus pacientes. Se todos os profissionais agissem assim, certamente nossos idosos e nossas crianças estariam mais protegidas.

Lara falava com ele sem parar de andar. Com o celular ao ouvido, depois de conseguir o contato de um táxi, ela parou de frente ao hospital, esperando a ligação ser completada.

— Me deixe levá-la ao seu trabalho?

— Oi? – Ela achou que tinha ouvido errado e desligou o celular. – Não está trabalhando?

Ela apontou o uniforme dele.

— Peguei uns dias de gancho, depois de tê-la tratado tão mal – ele falou baixo.

— Não devia, mas sinto muito.

— Foi até uma punição leve, Nadja é maravilhosa e compreensiva.

Lara ficou olhando para ele e quase tinha que levantar o pescoço, ele devia ser mais de uma cabeça maior que ela.

— Posso tentar consertar meu erro, levando-a ao seu trabalho?

— Em uma ambulância? – Ela zoava, mais amigável com ele.

— Meu carro está no estacionamento do hospital.

Ele sorriu. Misericórdia, que sorriso maravilhoso. O furinho no queixo ficou mais acentuado com o sorriso, e sorrindo, ele parecia ser outra pessoa, ainda mais lindo, se é que isso era possível.

— Terá que fazer mais do que isso para ser perdoado por mim, mas vamos lá, o taxista não está me respondendo mesmo.

— Estou aberto a opções, é só pedir e serei seu escravo.

Pareceu à ela que ele estava... flertando com ela?

Lara o acompanhou até o estacionamento, lado a lado, sentiu o coração disparar e um aquecer no rosto, esperava que ele não visse.

— Por enquanto a carona está ótima. Depois verei meios de o fazer pagar por sua insolência, Ícaro, não tenha dúvidas – ela cutucou-o mais uma vez. Não ia deixá-lo ficar com a última palavra.

Como era possível que o barulho do coturno dele batendo nos paralelepípedos do estacionamento, pudesse excitá-la? Realmente ela não estava bem. Precisava transar urgentemente. Ou procurar um médico para medir seus hormônios que deveriam estar descontrolados.

O carro dele era esportivo e enorme. Para um homem alto, nada melhor do que um carro espaçoso, ela pensou.

— Bonito carro – ela falou, após ele destravar o alarme e entrarem. Ela colocava o cinto, mas viu que ele a olhava e não ligava o carro.

— O que foi?

— Gostei de como meu nome soou em sua boca.

Porra. Agora ela sentiu um comichão nas partes baixas. Aquele sorriso enviesado a deixou quente. Lara não sustentou o olhar dele, por medo de ele perceber que seu rosto estava quente.

— Ah, pensei que tinha visto mais um velhinho abandonado – ela disse e olhou para a frente. Mas sentiu seus órgãos se liquefazerem ao ouvir a gargalhada que ele soltou.

— Touchê. Você é boa.

Claro que ele quis dizer sobre ela ser boa em rebater seus comentários, mas ela pensou: você não imagina o quanto, meu caro.

Lara não era aficionada por carros, mas ficou impressionada por aquele, parecia uma nave espacial, cheio de botões e luzes.

Chegaram à frente do trabalho dela em silêncio. Cada um com seus pensamentos e Lara desceu do carro, com um simples obrigada, batendo a porta em seguida.

O Socorrista ÍcaroOnde histórias criam vida. Descubra agora