Capítulo 6

171 17 75
                                    


Nem se deu ao trabalho de olhar para ele. Entrou no escritório que trabalhava, fechou a porta se encostando nela e exalou.

— O que foi? – Patrick, seu amigo estagiário, tirou os olhos do computador e olhou para ela.

— Você não imagina o que me aconteceu.

— Deve ser algo muito sério, já que você sumiu e volta horas depois, branca como papel – Patrick era seu melhor amigo há anos. Era o proprietário da empresa e logo que ela se formou, a chamou para integrar a firma já bem consolidada. Além de ser seu mentor.

Lara olhou pela janela fechada com persianas, para a rua. Como imaginava, o carro do socorrista ainda estava lá parado. Qual era o problema desse cara?

— Está me assustando, Lara – Patrick sempre preguiçoso, não quis ir até a janela, abriu o aplicativo de câmeras e olhou o que ela olhava. – Quem é?

— Pois vou te contar tudo – Lara então lhe contou tudinho e ele cada vez mais arregalava os olhos.

— Tô pasmo com a audácia do cidadão. Mas a pergunta que não quer calar, já que ele não sai de dentro do carro, ele é pegável?

— Se ele é pegável?! Minha nossa senhora, eu nunca vi um cara tão pegável quanto ele em toda minha maldita vida!

— Sério? E o que ele faz dentro do carro, está batendo uma pensando em você?

Patrick nunca deixava de surpreender Lara e ela revirou os olhos. Foi para seu escritório, mas fez o mesmo que o amigo e patrão, abriu a câmera e deu uma olhada, mas o socorrista já estava se afastando com seu carro.

— Ele já foi – avisou Patrick entrando no escritório dela. – Pegou o contato dele, pelo menos?

— Não e nem quero. Cara estranho e grosso.

— Ai que delícia.

— Você não bate bem, Patrick, de verdade. Vá lá trabalhar e me deixe trabalhar também, seu tarado.

— Tá bom, mas se não for usar, você me dá?

Lara deu uma risada e um soquinho no braço dele.

Trabalhavam seis pessoas ali e todos amigos. A firma tinha sido do pai de Patrick e ficara para ele e o irmão mais velho, quando o pai se aposentou. O doutor Ruy vinha ali quase todos os dias, para, segundo ele, ver se estavam levando o trabalho a sério, então contava como um dos que trabalhavam ali, ele chegava e saía sem avisar, fazia piadas com todos.

Lara é uma advogada trabalhista e apaixonada por sua profissão. Patrick a auxiliava nos primeiros anos, ele é um advogado digital, a empresa tinha três tipos de advogados diferentes, para diferentes defesas, mas todos se ajudavam e estudavam juntos as mais variadas formas de defesas possíveis para seus clientes. O ambiente de trabalho era muito saudável e, como o Dr Ruy, pai de Patrick sempre dizia, era um time ali.

Ícaro ficou com Lara em sua cabeça o dia todo. Passado o susto de ser demitido ou pegar uma detenção maior no emprego, passado também um pouco do arrependimento de ter agido por impulso, ele anotou o contato de Lara em seu celular. Sorte que era ótimo com números e, tão logo ela disse seu número para Lucios e Nadja, ele conseguiu gravar seu número.

Salvando o contato dela, fez o que não era acostumado e jogou o número dela no Facebook e, voilá, apareceu ela. Haviam mais Laras do que ele imaginava, mas na quinta Lara, ele a achou. Ao que parecia, ela estava em uma praia. Sua foto de perfil mostrava-a em uma praia. Só aparecia a parte de cima dela, o rosto lindo, as sardas bem acentuadas no rosto após o sol. Um chapéu largo que não a protegeu quanto deveria.

Mas foi o sorriso largo escancarado, a ponta do nariz vermelho do sol, sem batom e sem as roupas sóbrias de advogada, displicente na praia, como ela era linda!

Ícaro aguardava um café que havia pedido, sentado em uma cafeteria do centro, já que não iria ao trabalho pelos próximos três dias, estava vadiando pelo centro, ele mexia no celular e stalkeava as redes sociais da de Lara. Se sentindo um voyeur, entrou em seus álbuns de fotos e viu várias fotos dela com muitas pessoas, amigos, e em vários lugares diferentes e, só quando se deparou com o álbum em que ela estava na praia, deveria ser a mesma praia em que ela escolhera a foto de perfil, foi que sentiu seu sangue pulsar mais rápido nas veias.

Lara estava deitada na areia e quem tirou a foto deveria estar acima dela, pois tirar de cima dela e ela olhava fixo para a câmera e um largo sorriso, foi a parte de cima do biquíni que deixou a boca dele seca instantaneamente.

O bojo do biquíni parecia mal conter o volume dos seios maravilhosos e arredondados. Ícaro se sentiu invadindo a privacidade dela, mesmo sabendo que a foto, bem como a conta dela na rede social era livre, se sentiu mal, principalmente pelas sensações do seu corpo. Parecia um garoto imberbe e cheio de hormônios. Fechou o celular e se recriminou. Já não era o suficiente tê-la tratado como tratou, como um troglodita? Já não tinha sido suficiente a chamada de Nadja?

Sem saber o que faria pelo resto do dia, pois não tinha planejado ficar ocioso, era para estar trabalhando, ligou para Samira:

" Oi, como está? – Perguntou à Samira, que atendeu no segundo toque.

" Oi, saindo do trabalho. O que houve?"

" Você soube, então?"

" Claro, por cima, mas o que foi? Parece que você perdeu as estribeiras como uma advogada?!"

" Eu não sabia, até então, que ela era uma advogada."

" Teria agido diferente, caso soubesse?"

" Não sei, Sam, realmente não sei, não pensei na hora."

" Vai ficar uns dias em casa?"

" Sim, podemos nos ver?"

" Saio em dois minutos."

" Te pego aí então, até mais."

Samira era sua amiga há anos. Era enfermeira e sempre que podiam, transavam sem compromisso e ele queria mentir para si mesmo, queria fingir que o estresse do dia o havia deixado elétrico e precisando de uma boa transa, jamais ia dar o braço a torcer e dizer que pensar em Lara e ver suas fotos no Face, tinham o deixado com muito tesão. Claro que não diria a si mesmo que ter se deparado com o jeito turrão dela, o deixara energizado como estava. Ela era durona.

Chegou ao hospital alguns minutos depois e Samira o aguardava no estacionamento.

— O que foi, na verdade, garanhão? – Perguntou Samira, colocando o cinto de segurança.

Samira era uma mulher madura, em seus quarenta e dois anos, parecia ter menos de trinta e cinco, era tão alta quanto ele e sua melanina era deliciosa. Sua pele negra era perfeita e o contraste da pele dele contra a dela na cama, os dois nus, sempre o deixava duro.

O Socorrista ÍcaroOnde histórias criam vida. Descubra agora