36°Capítulo

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CHASE

Até mesmo stalkers, uma hora ou outra, estabelecem uma rotina.
Depois que Reese saía pelas manhãs, eu ia correr. Ela morava a quase sete quilômetros de minha casa, e eu costumava correr metade disso, alimentado pela frustração de vê-la ir embora.

Os lanches noturnos pararam havia uma semana. Ela nunca mais olhou em minha direção. Eu deveria ter ficado grato por ela dar apenas o tratamento de gelo. Ultimamente, eu só pensava na ameaça que ela fizera. O que eu faria se a visse entrar no prédio com outro homem e ele não saísse? O pensamento me fez correr mais rápido.
Quanto tempo demoraria?
Porra.
Não demoraria muito.
Embora eu normalmente executasse a mesma rota entre a cidade, hoje não fiz isso. Não era uma escolha consciente.
Meus pés me levaram pelo caminho enquanto minha mente estava ocupada com pensamentos sobre Reese.

Quando entrei na rua Amsterdã, percebi o quanto estava longe. E aonde meu subconsciente me levou. Little East Open Kitchen.
O abrigo em que Peyton trabalhava como voluntária.
Onde Eddie comia todos os dias.
Eu não passava por essa região havia quase sete anos.
Olhei para a janela por um longo tempo, meus olhos deslizaram dali para o local vazio onde com frequência encontrávamos Eddie sentado. O lugar tinha envelhecido, mas não mudara muito.

Odiava a visão daquele lugar. Isso me irritou e trouxe de volta aquele sentimento de desamparo que senti com o último telefonema de Peyton. Implacável e fraco. Isso me fez sentir como vítima.
No entanto, entrei, sem saber o que estava procurando.

Era cedo, e o lugar estava praticamente vazio. Apenas um casal e dois filhos tomavam café da manhã. Alguns voluntários continuavam ocupados indo e voltando, carregando bandejas metálicas de comida da cozinha e colocando-as em seus lugares.
Olhando ao redor, eu não tinha ideia de o que estava fazendo ali. Então, as imagens emolduradas na parede me chamaram atenção. Quando o interior foi redecorado anos atrás, cada voluntário doou um cartaz com uma citação inspiradora. Peyton não chegou a me mostrar a dela.

Caminhei pelo salão, lendo alguns.
Você não precisa subir a escada toda. Basta dar o primeiro passo.
Você tem duas mãos  uma para se ajudar e outra para ajudar os outros.
O seguinte me fez pensar.
Se você não mudar de direção, pode terminar no lugar para onde está indo.
Para onde eu estava indo? Graças a minhas melhores amigas, eu não estava mais sentado em um bar do amanhecer ao anoitecer. Em vez disso, estava sentado do lado de fora do apartamento de uma mulher, desde o anoitecer até o amanhecer. Eu era dono de uma empresa de sucesso, à qual eu não ia fazia semanas, e perdi a mulher que era a melhor coisa que tinha acontecido comigo havia anos. Talvez perder não fosse exatamente a palavra certa.

Abandonar, infelizmente, era mais próximo.
Minha raiva estava atrelada ao arrependimento. Eu odiava me sentir tão indigno de tudo o que tinha e, por isso, sabotava as coisas que mais significavam para mim. Mas eu não tinha ideia de como mudar. Certas ou erradas, as emoções eram reais.

— Eu olho para este todas as manhãs quando entro aqui. — Nelson, o gerente do abrigo, me deu um tapinha nas costas enquanto parou a meu lado. — Como tem passado, Chase?

— Indo — Por um fio. — E você?

— Não tão mal. Não tão mal. Sinto muito, cara. Que loucura a polícia descobrir depois de todo esse tempo sobre o Eddie, hein?

Eu estava tenso, mas de alguma forma acenei com a cabeça.

— Infelizmente, muitos dos frequentadores têm problemas de saúde mental. — Ele apontou o queixo em direção à família terminando o café da manhã. — As famílias que estão sem sorte porque alguém perdeu emprego são uma pequena parte hoje. A cada dia, vemos mais e mais pessoas que deveriam receber tratamento de saúde mental.
Mas, mesmo quando recebem, elas são liberadas depois de alguns dias de observação porque o seguro não vai pagar por mais ou porque não têm plano de saúde.

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