nós vamos dormir na minha casa hoje

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— Oi, meu lindo — eu sorrio quando Noah abre a porta do apartamento dele.

Ele sorri de volta e dá dois passos na minha direção para me beijar. De repente, já estou contra o batente da porta e suas mãos estão na minha cintura. Sinto o gosto de mel na sua língua ou algo doce similar, mas perco o ar antes de ter a confirmação. Gosto de fechar os olhos, porque a pupila dilata e meu coração bate acelerado enquanto pressiono seus ombros com as minhas mãos. Ele está vestindo uma camisa de algodão, posso sentir, e isso não surpreende. Ele sempre se veste assim. E quando ele afasta para que possamos respirar, não cessa com os selinhos na minha boca.

— Sério que está tentando me convencer a não sair mais com você e te levar para a cama? — eu comento baixinho, porque estamos no corredor do andar.

— Essa é uma má ideia? — ele se inclina e passa a esfregar a ponta do nariz no meu pescoço.

— É uma boa ideia para você? — eu solto uma pequena risada quando sua mão esquerda sobe devagar e depois me segura pelo pescoço.

Amo quando ele esfrega a mão no meu pescoço com delicadeza, porque acaba me dando arrepios por todo o corpo e vira uma coisa tão sensual que eu penso em, no mínimo, cinquenta peripécias na cama com ele.

— Eu já comprei os ingressos, Noah — eu falo, olhando para os lábios dele, porque estou louco pra beijar de novo.

— Se atrasarmos uns dez minutinhos...

— O que eu quero fazer com você vai levar muito, muito mais que dez minutinhos — eu o interrompo e ele ri.

Só preciso virar meu rosto e o estrago está pronto. Alcanço sua boca e a gente explode e estraçalha pelo piso inteiro. Amo os estalos dos seus lábios nos meus, porque está úmido e ele puxa ar toda vez que muda o ângulo. Estou quase puxando-o pela camisa para que entremos no apartamento quando escuto alguns passos no corredor. Prontamente paro de beijá-lo e solto um pigarro para disfarçar.

— Boa noite — um par de senhoras passa ao lado de nós.

Ambos desejamos uma boa noite. Quando achamos que já estão indo embora, uma delas me reconhece e me cumprimenta com certo carinho e apreço. Fico meio sem graça, porém agradeço em meio aos elogios que me dá. Eu deveria ter posto uma máscara e um boné, aí poderia não chamar atenção, mas eu não quis ficar assim com Noah. Ainda mais porque a máscara iria atrapalhar horrores quando quiséssemos nos beijar. Teria que ficar colocando e tirando o tempo todo... Uma hora eu iria surtar. Mas está tudo bem, ela diz que está ansiosa para assistir com as amigas a nova temporada de Cook & Taste e eu digo que estou ansioso para que ela assista. Esperamos as duas irem até o final do corredor e entrar no apartamento, mas de repente escuto um comentário da outra vovó tentando falar baixo:

— Você viu eles dois? Eu disse pra você, quando via o programa, que ele me parecia aqueles meninos gay. Está aí... Viu que ele estava beijando o menino? Ele é, como eu tinha dito. Você ficou dizendo que eu estava louca... Estava na cara!

A porta fecha quando elas entram. Eu olho para o rosto de Noah, que está olhando para o chão do corredor com uma expressão confusa. Depois bate o olhar no meu, mas logo vira-se para trás, querendo se certificar de que a porta delas está mesmo fechada. Vira-se para mim e arregala os olhos.

— Ahn... Vamos entrar. Arrume algumas roupas suas, também de banho, e coloque numa mochila para ficar lá em casa. Nós vamos dormir na minha casa hoje — eu digo, gentilmente empurrando seu corpo para dentro do apê. Fecho a porta atrás de mim.

— Oh, ok... — ele vai andando até o quarto, enquanto eu fico na sala.

Sento-me no sofá pensando no que aconteceu no corredor. Bato um pouco os pés no chão, agoniado, fiquei encucado com uma coisa... Olho a rua por um tempo, mas mesmo assim não passa. Decido, então, perguntar ao Noah.

— Você acha minha sexualidade óbvia?

— Quê? — ele questiona lá do quarto.

Caminho até o corredor e me escoro na parede enquanto vejo-o revirar o guarda-roupa para pegar algumas peças.

— Você acha que está na cara que eu sou gay? — eu pergunto.

Noah me olha por alguns segundos, mas logo volta a empurrar uma camisa dentro da mochila.

— Acho que não... — ele responde. — Por quê?

— Não sei... Aquela moça achou meio óbvio e tinha dito a outra, então fiquei com isso na cabeça. Será que as pessoas olham para a minha cara e já ficam achando que sou gay?

— Isso é algo ruim?

— Não é algo ruim... É só que eu nunca percebi que era óbvio. Tipo, eu nunca achei que me olhavam e já sabiam sobre isso.

— Quando eu te conheci, eu não sei... — ele fecha a mochila e a abraça junto ao peito. — Você falava coisas meio hétero, então eu comecei a achar que você era hétero. Mas, devido algumas atitudes suas, devo ter questionado uma possível bissexualidade, talvez? Aliás, eu nunca soube de fato sua sexualidade, então eu não posso dizer com certeza.

— Eu sou gay — digo. — Você olha para mim e tem certeza de que sou gay?

— Meu amor, eu olho para você e tenho certeza de que eu sou o gay — ele enfatiza o "eu" e acabo revirando os olhos.

— Você é?

— Vou deixar essa dúvida no ar... — passa direto por mim com a mochila e eu acabo seguindo-o, após desligar as luzes.

— Mas você acha?

— Josh, eu não ligo para essas coisas, então nem percebo. Eu só te achei hétero porque você estava dando uma de hétero para cima de mim. Se você inventasse de flertar comigo, aí tudo bem. A real é que eu não fico julgando isso... Eu só olho pra pessoa e penso: nossa que homem lindo, sorriu pra mim, gostoso, incrível... Então pouco me importa isso — ele fica indo de um lado para o outro da sala, enfiando coisas aleatórias na mochila. — Mas você não deveria se preocupar com isso. Quando te conheci, pensei que você estava me assediando. Eu não pensei: “meu Deus, um gay tá me assediando!” Eu pensei:  “meu Deus, um macho tá me assediando!”

— Já entendi, Noah... — eu puxo sua mochila para que eu possa carregar e percebo que está pesadinha.

— Se isso fica na cara... Foda-se? Você é bonito, tem fama e dinheiro. O resto é resto... — ele ri. — Mas muitas meninas dão encima de você?

Paro pra pensar.

— Não tanto quanto caras fazem...

— Bem... Meio que está na cara, então — ele dá de ombros. — Mas está tudo bem. É bom que você não perde tempo tentando explicar a alguém. Eu tive que namorar uma menina no ensino fundamental e foi horrível, porque as meninas gostavam de mim e eu queria ver os meninos jogarem basquete.

— Você realmente namorou uma menina?

— Eu já te contei sobre meu primeiro beijo, Beauchamp... — ele faz uma expressão de chateado tão fofa que se eu não estivesse com as mãos ocupadas eu iria apertar as bochechas dele.

— Ah... — eu acabo rindo. — Lembrei... Você melhorou bastante, já te disse isso? Nunca me machucou, então obrigado.

— De nada — ele vem até mim para deixar um beijinho na minha bochecha. — Não se importe com essas coisas, tá? Isso nem é importante. Mas se isso te incomodar demais, pode desabafar comigo e eu dou um murro na sua cabeça para ver se você muda de ideia. Eu amo te ajudar, meu benzinho.

— Ownt, você me apoia tanto... — eu dou um selinho nos seus lábios e depois me afasto para ir até a porta.

— É verdade — ele me segue rindo.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora