nós vamos brigar agora

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Já chorei três vezes.

Mentira, foram cinco, se eu contar a vez que chorei no banho e quando tentei enrolar uns lençóis para fugir pela sacada. Eu tinha que tentar, né?

Enfim, são seis horas agora. Eu fiquei duas horas. — DUAS HORAS — sem fazer nada, senão chorar e mudar de canal na televisão. Eu estou nervoso, assistindo Disney Channel Canadá e bebendo Bomba-Cola com um Snickers que achei no frigobar. Josh me paga e muito viu!

— Oi! — a porta se abre de repente. Ele entra com minha mochila e minha bolsa, depois tranca a porta e deixa tudo sobre a cama ao meu lado. — Pronto. Nós vamos brigar agora — ele se senta perto de mim.

— Vá tomar no cu, Josh! — eu reclamo. — Você literalmente me trancou aqui dentro, sem nem me deixar ter acesso às minhas coisas, tive que vestir a mesma roupa após o banho e ainda tô tendo que beber Coca-Cola, porque é a única bebida com gosto que tem aqui... Aliás, se não tivesse achado o frigobar, eu estaria aqui estirado no chão morto e você seria o culpado! Além do mais, se quer saber, eu estou bem puto com você, porque não teve o mínimo de consideração, nem me tratou feito um ser humano, quando na verdade, seria um direito meu você...

... E ele me interrompe com um beijo de língua. Desgraçado esse Beauchamp. Um desgraçado! Eu também sou, porque ao invés de fugir e jogar mais coisas na cara dele, simplesmente caio no seu carinho por pura carência. Me desculpa, pai. Me desculpa, mãe. Hoje eu vou cair nos beijinhos do meu ficante ignorante. Quando eu fiquei com ele pela primeira vez... Confesso, me apaixonei. Confesso, me apaixonei...

— Pronto, já brigamos — ele fala, com o rosto ainda próximo do meu. Eu acaricio seu rosto e lhe dou outro beijo que, por incrível que pareça, ele não recua.

Eu gosto quando beijo-o e ele retribui. Gosto da minha boca na sua. De quando nossas línguas se encostam e ele me deixa puxá-lo pela cintura. Eu amo isso... Mas que raiva! Não dá pra apagar o que ele fez comigo. Mesmo que ele beije muito bem e me deixe todo molenga assim.

— Não brigamos ainda — eu me afasto logo no momento em que ele estava a avançar num beijo. — Você me deixou em cativeiro por duas horas e isso eu nunca vou esquecer.

— Para a minha defesa... Eu fui resolver um negócio e esqueci onde tinha colocado sua chave, então saí pela casa procurando... — Josh apoia-se no cotovelo esquerdo e arranca um pedacinho do meu chocolate para comer. — Estava no chão da escada perto da biblioteca, mas não me recordo de ter ido lá... — fica uns dez segundos olhando a televisão, meio distante. — Ah! Lembrei! Passei lá para pegar uns livros para você, devo ter deixado cair. Acabou que não peguei o livro, porque encontrei minha tia no meio do caminho e tive que fingir simpatia.

— Isso não justifica.

— Tá, me perdoe — ele segura minha mão.

— Por que me beijou e por que está segurando minha mão se você me disse que não iria fazer? — olho para as nossas mãos juntas. Ou melhor, apenas ele me tocando.

— Pensei que se fizesse isso não teria que pedir desculpas.

— Pois suas desculpas estão muito poucas — afasto minha mão. — Você não me tratou bem. E eu te trato muito bem.

— Desculpa! Olha... Tinha alguém lá fora que não pode ter contato com você... Só que você é curioso demais, iria sair e acabar encontrando a pessoa... Por isso tive que te trancar, não dava pra explicar senão eu não conseguiria alcançar a pessoa — ele vai narrando. — Eu pedi pra James sumir com ela, mas ela acabou me vendo quando desci para pegar suas coisas. Tive que trocar de lugar com James, porque me forçou a largar a mochila que supostamente eram minhas lá e... Bem, tive que dar um chá de sumiço nessa pessoa... Deixar bem longe.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora