nós não vamos pôr fogo na casa

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Vejo-me cansado de tudo isso, remando de volta, o coração chacoalhando dentro do peito. Eu e Noah estamos em silêncio, cada um no seu próprio espaço pessoal, indo até a casa. Queria ficar um pouco na paz da biblioteca, mas não posso fazer isso sem passar pela sala, senão terei de andar mais que o necessário. Eu vou na cara e na coragem, mas no primeiro minuto me arrependo amargamente.

Todos, que estavam discutindo numa mistura de educação e surto, simplesmente descem os olhos a mim quando apareço. O primeiro a se aproximar é o meu tio, irmão da minha mãe, o qual possui toda a raiva que guardo da minha vida. Eu penso em sair correndo, afinal isso sempre funciona com Noah Urrea. Mas eu não sou Noah. Eu não saio, literalmente, correndo dos problemas.

— Você sabe o que fazer, né? — meu tio pergunta, agoniado e desesperado. Seu jeito nervoso, talvez ansioso, sempre lhe pareceu seu estado normal. Eu sinto medo quando ele está muito calmo. — Você sabe, certo?

— Do quê você está falando? — dou um passo para trás, mas me choco com o corpo de Noah. Ele me apoia segurando nos meus ombros, mas depois se afasta.

— Todos sabemos que você vai destruir a empresa se pôr as mãos nela quando papai falecer — ele aponta o dedo para mim. — Você nunca vai ser responsável e útil o suficiente para isso.

— Esse não é o tópico — minha mãe, que está sentada no sofá com uma taça de vinho, simplesmente se mete na conversa. — Não chame Josh disso, por favor. Josh é muito mais responsável e útil quanto você pensa que é.

Muitas coisas acontecendo. Muitas coisas acontecendo. Minha mãe me defendendo de um comentário do meu tio? Meu tio tentando segurar-me pelos braços para implorar entre "verdades" que devo ceder meus futuros bens ou doar? Minha tia rindo, de braços cruzados, repetindo que "ele não vai fazer isso, estúpido"? E meu avô lá fora, perto do lago, meditando no meio desse caos? Até meu outro tio, que é o caçula entre os irmãos da minha mãe, está tentando conversar comigo sobre o assunto.

— É injusto você ter tanto, sendo que nunca está aqui para as coisas funcionarem! — e meu tio tóxico decide tirar minha paciência de uma vez por todas. — Você não vai sair com vantagem, Beauchamp!

— Ah, é? — eu me aproximo dele, ignorando os "Josh, calma" que Noah sussurra atrás de mim. — Eu devo mencionar seus podres, então? Vá se foder, se puder fazer o favor.

— Vá se foder? — ele repete.

E minha tia ri, o outro tio, o sem graça, sussurra que não é bem assim que a banda toca. Então foda-se a banda também, não estou nem aí pra isso. Que inferno, será que não tenho um momento de paz? Será que tudo é culpa minha mesmo? Eu nem sei onde está minha irmã, porque nem tenho conversado com ela nesses últimos dois ou três dias. Porra.

— Josh, não é pra xingar... Você não é mais um adolescente surtado — minha mãe se intromete outra vez.

— Pois é... Pois é... Vão se foder todo mundo também! — eu olho ao redor, e até meus primos estão meio assustados. Eu não ligo para eles também. Que se foda. — E inclusive você, tio. Pra mim, você nem é parte da minha família.

— Shh... Josh... Vem cá — Noah sussurra atrás de mim.

— Você tá falando comigo, é? — meu tio se aproxima mais de mim, tocando meu ombro como quem queira deixar toda a minha atenção para ele. Eu não gosto dos toques dele. — Por que você tá falando comigo assim, hein? Tá pensando que está falando com quem?

— Não, não toca nele — Noah enfia os braços entre o corpo do meu tio e o meu e tenta afastar as mãos deles de mim. — Por favor, não toca nele...

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora