nós dois temos culpa

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— Me dê respostas claras, por favor — praticamente imploro. — Eu odeio te deixar assim.

— Josh, não acho que foi totalmente sua culpa. Foi minha também. Foi nossa — surpreendentemente, ele pega minhas mãos e acaricia devagar. Suas mãos estão quentes, ao contrário das minhas. — Eu te sufoquei também. Eu te machuquei também. Então me desculpa se estou te machucando agora. É preciso.

— Não precisa ser assim. A gente pode alinhar o que vamos mudar — lambo os lábios e sinto o salgado das lágrimas. — É só você querer.

— E amanhã voltamos a mesma coisa — suas mãos escapam da minha tão rápido que me pergunto se elas realmente me tocaram ou não.

— Não vai ser a mesma coisa — engulo em seco.

— Vai ser pior?

— Noah... — enxugo o rosto com os punhos. Acabo dando umas fungadas.

— O que você tem para falar, Beauchamp? — olha-me não com doçura ou empatia, mas sim com uma repentina raiva. — Vai dizer que me ama e que não vive sem mim? Vai dizer que não consegue dormir, porque meu nome e meu rosto não saem da tua cabeça? Vai dizer que tudo que queria era me ter ao seu lado? Hm? Você vai me dizer?

— Vai te fazer ficar, se eu disser? — cruzo os braços no abdômen. — Você quer ouvir tudo isso? Não é como se fosse tudo mentira. Você sabe, eu sinto muitas coisas por você.

— Eu sei disso — ele desvia o olhar por alguns segundos. — Mas não é o suficiente para se sentir a vontade comigo.

— Isso é processual — ainda pontuo. Estou com raiva e sinto-me triste. Tudo ao mesmo tempo. Só que agora eu sei que não posso falar muita besteira. Pode ser um caminho sem volta. — Eu não consigo ser assim, me desculpa. Às vezes eu me irrito contigo, porque espera coisas de mim que eu nunca disse que um dia teria.

— Eu não estou te cobrando nada — ele inclina a cabeça, olhando-me como se eu fosse um louco que estivesse inventando histórias mirabolantes.

É ruim, não é? Sempre sou o vilão e já tive tantos papéis que eu até já me perdi nas falas e no enredo. Um dia sou ele, no outro sou eu, e tem dias que eu acordo e nem sei que ser é aquele no espelho. Só que me sinto fraco e odeio me sentir fraco. Alguém que significa tanto pode ir embora se eu andar no lugar errado e eu fico aqui me perguntando... é mesmo saudável ter de estar sempre pisando em ovos?

— Não parece — resmungo meio baixo, porém tenho certeza de que ele ouviu. — Eu não quero que você vá. Mas eu também não quero gastar horas implorando para ficar. Eu não acho certo sempre eu ser culpado.

— Ninguém disse que você é culpado.

— Eu fui acusado agora há pouco, você não viu? — isso sai sem querer, eu juro. Sai no automático. Eu tenho que parar com as ironias. — Desculpa.

Ele solta um aish e vira-se de lado, olhando o começo da rua escura. Está impaciente e eu sei bem. Mas ele está firme, então isso me surpreende. Sem choro, a voz nem está tão trêmula quanto antes. Eu confesso que não o reconheço por trás do cabelo preto e do olhar agudo e matador cruzando toda a distância entre o carro cinza estacionado lá na frente e o meu olhar brilhante pelas bolsas d'águas. Estou chorando por um cara... estou chorando por um cara e nem consigo acreditar.

Eu gosto de fazê-los pensar que estou no controle, até mesmo quando não estou. Deixo acharem que eu não ligo e que pouco me importa. Eu realmente não ligo. Pouco me importa. Mas depois de uma semana ou duas, uma tristeza pode bater e eu fico num silêncio melancólico do nada. Acho que é o máximo. Mas não chorar. Chorar, não. Chorar é apenas para circos mal interpretados de relacionamentos que anseiam espetáculo fixo.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora