nós quase desmaiamos também

85 16 3
                                    

Eu encaro a parede branca e sinto que a odeio. Ninguém poderia dizer o contrário, pois sou eu aqui sentado, olhando para ela e pensando em como eu queria estar em qualquer lugar que não fosse aqui. Sabe, por vezes tentei evitar, mas meu problema é sempre pensar que sou invencível. É verdade, faço isso para evitar o desespero, não quero pensar que sou um ser mortal, frágil e estúpido. Eu iria surtar. Mas talvez surtar seja melhor do que isso.

— Pronto, você está liberado — o doutor me diz.

Pego minhas receitas, minhas caixas de remédios e o casaco que Krystian me emprestou. Tudo isso fica no meu braço esquerdo. E então eu agradeço e saio da sala. Eu odeio esse lugar.

— Josh! — Krystian aparece caminhando mega rápido quando me vê saindo do corredor. — Cacete!

— Pois é... — tento sorrir, mas sai algo débil demais.

Meu amigo me abraça, e logo vem Bailey, Zabdiel e Jonah também. Eu me permito ser abraçado, embora eu não goste de contatos físicos com muita frequência. Acho que a única pessoa que eu me acostumei foi o Noah. Inclusive, cadê o Noah?

— Gente, cadê Noah? — questiono.

— Ele está se arrumando para sair — Bailey conta.

Os quatro se separam, quebrando o abraço. Isso me deixa um pouco aliviado — tanto o abraço quanto Bailey estar bem. Eu nunca sei o que se passa com ele e muitas vezes tenho medo de ferrar com tudo.

Bem, basicamente fiz merda. Pra variar, certo? Minha ideia de pular dos degraus para chegar mais rápido poderia até dar certo... se eu não estivesse todo molhado por conta da piscina. Acontece que no último lance de escadas eu simplesmente desabei. Não foi só um escorregão e desci o resto ralando a bunda no chão. Quem me dera se fosse isso, na verdade. Mas não. Foi algo totalmente e inteiramente pior. Acho que a estupidez toda foi a água, porque meu calção de banho estava pingando e meus pés estavam molhados. Molhou a escada. Diminuiu o atrito. Eu não sei exatamente como aconteceu, porque foi muito rápido. Num segundo eu estava me impulsionando para pular, no outro meus pés deslizavam pelos degraus e meu corpo começou a cair para trás. Meu instinto foi tentar me segurar, só que não consegui, e só a tentativa me fez pôr o braço direito onde não deveria estar. Porque quando eu caí com força entre os degraus, eu fiz a proeza de cair na verdade no meu próprio braço, que recebeu a pancada do peso do meu corpo junto com a gravidade e, de quebra, a quina do degrau (o lugar mais mortal para se cair). E, sim, eu saí rolando depois. Sim, eu machuquei outras partes do corpo. E, sim, eu me arrependo profundamente disso.

Eu caí estatelado no último degrau e nem tinha percebido nada de errado com o meu corpo. Até Noah descer as escadas assustado, após ouvir meus gritos, e ter desmaiado pouco tempo após me ver. Ele literalmente caiu no meio da escada, quando estava segurando o corrimão, e eu não sabia se teria de me socorrer ou socorrer ele. Foi aí que a dor começou a ficar latejante no braço ao ponto de me fazer chorar, percebi que tinha algo de errado e que eu estava ferrado. Os meninos desceram em seguida. Uma parte deles ajudou Noah, que estava apagado no meio dos degraus, enquanto a outra parte veio me ajudar. Eu não me lembro muito de como as coisas aconteceram, porque a dor era tanta que me fazia tirar o foco de tudo, exatamente tudo. Eu acho que Noah desmaiou ao ver o estado do meu punho.

— Vai ficar quanto tempo com o gesso? — Zabdiel quer saber.

— Ele disse que pode ser de seis a oito semanas — solto um suspiro após responder.

De longe, vejo o médico vindo na minha direção. Calado, eu espero sua chegada.

— Ah, quase esqueci de dizer... — me conta. — Eu ia escrever, mas esqueci. Você vai ter que ficar algumas semanas sem cozinhar.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora