nós não podemos ser responsáveis por isso

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Pelo amor de deus, o maluco do Schopenhauer não escreveu isso em "As dores do mundo", não. Se assim fê-lo, não prestei tanta atenção ao ponto de destacar. Ele não falou sobre a dor latente na cabeça que é acordar com ressaca e, mais ainda, perceber que está deitado no chão da sua própria sala. Porque é isso mesmo, eu estou exatamente assim. Ergo os olhos para os meninos que estão comigo e percebo que estão mais acabados que eu. Que porra fizemos ontem mesmo?

— Cê tá bem? — Krys me pergunta num tom um tanto preocupado.

— Por que eu não estaria?

— Você... tava meio mal de madrugada — Bailey me olha. Seus fios estão espetados para todos os lados possíveis, o que é engraçado, já que May tem costume de andar todo arrumadinho.

— Tava?

Krys concorda com a cabeça, mas depois olha de soslaio para Bailey e eu fico me questionando o que isso pode significar. Acho que não é algo bom.

Ponho a mão na testa, como se isso pudesse arrancar o incômodo de mim. Besteira. Eu deveria ter bebido menos.

— Vamos tomar uma sopinha para ressaca? — questiono no automático, mesmo sabendo que a resposta é sim.

Ambos concordam. Então me ajudam a levantar. Vou ao quarto, troco de roupa e lavo o rosto no banheiro, após escovar os dentes. Quando pego meu celular para checar, tem uma mensagem de Josh.

açúcar papai: duas e meia da manhã, Noah? kkkkkk o auge
açúcar papai: outro dia você vem então, eu tava dormindo de qualquer jeito
açúcar papai: mas me avisa com antecedência.

Fico sem entender... até rolar o chat e perceber as minhas mensagens anteriores. Quase perco o chão ao perceber que aquele suposto resquício de sonho ou delírio foi tão real quanto o sangue que brota do meu corpo quando me ralo. Respiro fundo. Meu coração bate mais acelerado. Leio que estive indo para sua casa. Num espaço temporal de trinta minutos após meu anúncio de estar chegando, eu mandei o seguinte:

você: deixa pra lá, tá muito tarde mesmo
você: tu deve tá dormindo
você: durma bem

E eu não lembro exatamente disso, só sei que é um tanto familiar. Apareço com meu celular para os meninos e tento deixar claro que estou começando a recobrar a memória e... Sim, calma... Olho para Bailey vestindo a camisa preta e depois olho o Krystian sentado no sofá, ajeitando só fios do cabelo.

— Gente... — engulo em seco. — Eu estou me lembrando de ontem, eu... — ponho a mão na têmpora, mas isso não adianta muita coisa. Na verdade, não muda em nada. — Eu fui à casa do Josh ontem?

— Está explicado porque você não surtou ao acordar... você não lembra — essa fala de Bailey me parece preocupante, mas foco apenas no turbilhão de momentos de ontem para ver se consigo lembrar.

— Não, eu tô lembrando... — afasto a franja da testa, e nesse momento consigo me lembrar de tudo. Tudo mesmo. A cabeça dói, mas de repente tudo vai surgindo e fico confuso sobre ser um mero delírio ou realmente foi real. — Eu lembro agora... Eu fui à casa de Josh.

— Uhum — Krystian concorda com a cabeça. — E então você chegou aqui todo trôpego dizendo que o Josh estava dormindo com outro. Daí você foi dormir triste.

Saio do chat do Josh no meu celular e fico confuso sobre o que fazer agora. Eu não sei, eu me sinto... completamente confuso. Não foi um delírio? Não foi um sonho?

— Você disse que não sabia quem era — Bailey volta a falar, então cruza os braços. Eu fico encarando-o, tentando identificar quem era de fato o cara.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora