‧₊˚ nove.

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Lara.

Goiânia, GO.

02 de agosto de 2017.

É noite de quarta-feira, 00h42min. Para qualquer pessoa normal, a esse horário ela certamente já estaria dormindo, se preparando para mais uma manhã de trabalho, mas não é assim para mim, nem para Luan, nem para Otávio e nem Miguel. Esse é o último dia que eu tenho em casa essa semana, por isso mesmo decidi reunir os meus amigos e fazer aquilo que sabemos de melhor: encher a cara enquanto nós jogamos conversa fora.

— Então, como anda o projeto do novo DVD? — indago para Luan, que está sentado ao meu lado na beira da piscina, ambos com os pés dentro d'água, graças ao calor nada agradável de Maringá.

Ao fundo é possível ouvir alguns murmúrios vindos de Miguel e Otávio, que estão na cozinha, esperando pela entrega de pizza que deve chegar a qualquer momento. Se existe alguém que pode se empolgar com uma simples entrega de comida são eles — não que eu seja muito diferente.

— Ah, ainda estou começando a escolher o repertório, ainda está muito... cru. — apenas assinto, levando minha latinha de cerveja até meus lábios. Depois de um pequeno gole também, Luan prossegue: — Inclusive, eu estava com esperança de que você fosse deixar eu gravar algumas das suas composições.

Olho para ele sem reação. Esse não é um pedido que eu costumo ouvir dele.

— É claro! Você sabe que esse não é o tipo de coisa que tem que me pedir.

— Foi só por desencargo de consciência, sabe? — Luan dá de ombros, demonstrando que não é grande coisa e rouba um gole da minha bebida — Afinal, que compositor não se sentiria honrado de ter uma música sua na minha voz?

Não controlo ao instinto de rolar os olhos, provocado pelas palavras de meu amigo.

— Você é um idiota, sabia?

— E mesmo assim sou seu melhor amigo — ele retruca.

— A pizza chegou! — ouço o entusiasmo de Miguel de longe, interrompendo nosso diálogo.

Me levanto junto de Luan, molhando o chão a cada passou que dou em direção a varanda, uma área um pouco elevada em relação a área da piscina, e que contém uma imensa porta de vidro que dá acesso a cozinha. De lá de dentro saí Miguel, com a caixa em mãos e o nariz praticamente enfiado dentro dela.

Isso daqui está com um cheiro muito bom! — ele comenta, deixando a caixa em cima da mesa, que já está servida com pratos, talheres e copos.

— Percebi. — respondo risonha, subindo o pequeno degrau de madeira.

Puxo uma cadeira para mim enquanto meus amigos também se acomodam nas cadeiras ao lado. Eu tenho uma frase pronta na ponta da língua para Otávio quando eu me dou conta da música que toca baixinho no telefone de Miguel, na ponta da mesa.

Detalhes que machucam quando lembro que sou o seu ex. Essa frase, que acaba de ecoar por meus ouvidos, foi um desabafo que eu fiz há seis anos atrás, referente ao meu término com Henrique — que foi o pior momento da minha vida. Eu nunca tinha me sentido tão devastada emocionalmente. Durante os meses que vieram depois do nosso término eu praticamente me recusei a sair de casa e não tinha ânimo sequer para me levantar da cama.

Não foi fácil chegar à conclusão de que nós tínhamos que terminar, mas chegou um ponto em que o fim era inevitável. Toda vez que fazíamos planos de encontrar um ao outro algum empecilho se colocava entre a gente, e aquilo tudo foi me desgastando, me correndo mais do que o próprio término me abalou. Manter aquele relacionamento só significaria ainda mais dor para nós dois e nenhum de nós precisava passar por aquilo.

Reféns do Amor | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora