Reféns do Amor | Ricelly Henrique

‧₊˚ vinte e nove.

Lara.

Hoje é quinta-feira. Fazem exatas duas semanas desde que Henrique e eu passamos a noite juntos e, até o momento, eu não tive mais notícias suas. Confesso que parte disso é culpa minha, já que eu não tentei ligar novamente, mas também não recebi nenhuma ligação ou mensagem, pelo contrário, aparentemente ainda continuo bloqueada por ele, o que faz com ele assuma a outra parte da culpa.

Hoje também é véspera do meu aniversário e é engraçado como eu facilmente associo o nome de meu ex-namorado a essa data, tudo graças ao fato de que ele sempre fez com que cada seis de outubro ao seu lado fosse memorável, com seu jeito estranho de ser romântico.

Levando em consideração os últimos acontecimentos, eu provavelmente não terei a presença dele nesse ano, algo que eu esperava, levando em consideração que nós nos reencontramos há alguns meses atrás, após tanto tempo sem contato. Porém, eu tenho esperança de que ele apareça de surpresa amanhã, com uma boa explicação para o fato de ter me deixado sozinha naquele quarto de hotel, porque eu venho fazendo a minha parte para que nós possamos enfim reatar o nosso relacionamento. É por essa razão que eu estou à espera de Jorge, apreensiva, mas acima disso contente por estar um ponto final em nossa relação.

Eu me afastei dele ao longo dos dias, tanto por me sentir confusa em relação a Henrique, quanto por querer empurrar com a barriga o máximo que eu pude nessa conversa, afinal, Jorge sempre foi ótimo comigo e a ideia de magoá-lo me assombra demais, apesar de ser inevitável.

Foi apenas ontem que eu tomei coragem de o chamar para uma conversa e eu acredito que ele deve saber do que se trata, afinal, nunca se é bom ouvir um precisamos conversar vindo da boca da própria namorada. Por essa razão, eu me encontro em seu apartamento, esperando que ele chegue do seu plantão.

Eu não pretendia chegar antes que ele no seu próprio apartamento, mas foi só quando eu parei diante da porta, bati e não obtive nenhuma resposta que me dei conta que ele não estava. Felizmente, antes que eu desse meia volta e entrasse no elevador, recebi uma mensagem dele, dizendo que houve um pequeno contratempo no hospital, mas que ele deveria chegar logo.

Confesso que estar a sua espera me causa uma sensação ruim no estômago, de novo porque eu nunca tive a intenção de magoá-lo, apesar de ter me envolvido com ele ainda estando apaixonada por Henrique. Eu achei que eu poderia esquecer meu ex, mas essa não é a verdade.

A porta da sala se abre enquanto eu estou perdida em meus pensamentos e por ela passa uma versão aparentemente exausta de Jorge. Já de longe eu consigo identificar seu semblante abatido, o qual — posso dizer com cem por cento de certeza — tem a ver com a conversa que teremos hoje. Ele solta um longo suspiro ao passar a chave na porta, em seguida se virando para mim.

— Desculpa a demora. — Jorge pede, segurando firme contra o estofado da poltrona que fica localizada exatamente de frente ao sofá em que estou sentada.

— Imagina. — murmuro, sentindo que estamos nos tratando como completos estranhos. Isso deveria estar acontecendo? Porque eu não sei como me portar diante dessa situação toda. Ele sequer veio me cumprimentar, mas eu também não sei se eu deveria tomar essa atitude, afinal, de que adianta querer fingir que está tudo normal, se ele sabe quais são minhas intenções vindo aqui?

— Eu deveria ir trocar de roupa, mas você me disse que o assunto que você tinha para tratar comigo era urgente... — ele aponta em direção a porta de seu quarto, mas se mantém no mesmo lugar, esperando por uma resposta minha. Levo alguns segundos para conseguir pensar, chegando a cogitar deixar que ele troque de roupa apenas para ter mais tempo para pensar em como dizer que precisamos conversar, mas eu acabo mudando de opinião, para que eu não tenha tempo de fugir antes de termos essa conversa: