‧₊˚ três.

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Henrique.

Eu sabia que não estava tudo bem. Eu tinha magoado Lara mais uma vez, mesmo que completamente sem querer, sem nenhuma intenção. E, sinceramente, estava cansado de nada dar certo entre nós dois. Eu amava Lara demais, mas o nosso namoro tinha se tornado um fardo muito pesado e difícil de carregar.

Há quase quatro meses vivíamos com uma distância de quase dois mil quilômetros, com nada além de ligações e mensagens para amenizar a dura saudade. Eram constantes nossas reclamações sobre aquela distância estúpida, mas em nenhuma vez durante aqueles quatro meses conseguimos matar a saudade frente a frente. A cada dia eu me culpava mais por não ter sido mais firme com meu pai. Eu insisti algumas vezes quando ele propôs que nos mudássemos de volta para Palmas, quis ficar em Maringá a todo custo, mas depois de tanto ouvir, eu cedi. Eu deveria ter insistido, deveria ter ficado.

Eu vi o dia amanhecer mais uma vez, sentado sobre a minha cama, de frente para a janela do quarto. Não conseguia tirar Lara dos meus pensamentos. Só Deus sabe o quanto eu quis estar junto dela no dia do seu aniversário, uma data que ela sempre considerou tão importante, mas os planos haviam sido outros.

Quando o céu começou a ganhar cores eu já estava cansado de ficar olhando o nada, por esse motivo me levantei e saí do quarto onde meu irmão continuava a dormir. Aquele seria um dia importante demais para nós, um dia que poderia mudar para sempre nosso destino... E eu não me sentia confortável naquela decisão. Queria poder voltar atrás e desistir daquele sonho sem futuro enquanto era tempo, mesmo que aquele gesto fosse magoar meu pai de uma forma intensa.

A cozinha já cheirava a café quando cheguei. Minha mãe estava de costas para a entrada do cômodo, mexendo em algo na bancada enquanto preparava o café da manhã.

— Bom dia, mãe. — Desejei, puxando a cadeira mais próxima.

Eu tentei, mas nada foi suficiente para esconder minha expressão de insatisfação e aquilo junto da minha aparência por não ter dormido uma hora sequer durante toda a noite me deixavam com um aspecto horrível. Reconheci isso assim que ela se virou em minha direção e deixou sua boca entreaberta e os olhos claramente perdidos falarem por ela.

— Acordado a uma hora dessas? O que deu em você, príncipe? — quando apenas mantive minha cabeça baixa, ela se aproximou de mim a passos curtos e rápidos. — Tá se sentindo bem?

— De verdade? — soltei um longo suspiro, e a vi enxugar as mãos em um pano de prato antes de a levar até minha testa, conferindo minha temperatura. — Nenhum pouco.

— O que você tem? Tá sentindo dor? — dona Maria desceu as mãos, uma parando sobre minha bochecha enquanto a outra desceu até encontrar uma das minhas mãos. Em seus lábios um sorriso doce e ingênuo surgiu e ali eu soube que aquela seria uma longa conversa.

— Mãe, é a Lara. — Suspirei, desviando meus olhos ao desfazer o pequeno sorriso que antes dançava em meus lábios.

De novo?

É, eu nunca consegui esconder nada da minha mãe, em especial referente a minha vida amorosa. Ela estava mais do que ciente de tudo o que estava acontecendo entre nós dois, das dificuldades que estávamos enfrentando e era, sem dúvidas, nossa maior fã. Ela amava Lara e muitas vezes chegava a tratar a nora melhor do que os próprios filhos.

— Eu não sei se fiz certo vindo para Palmas. — Desabei de uma vez, fechando os olhos assim que aquela frase percorreu minha boca. Eu sabia que seria difícil para ela ouvir, mas minha mãe precisava saber o que eu estava sentindo. Ela era a pessoa em que eu mais confiava para conversar sobre o assunto.

Reféns do Amor | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora