‧₊˚ extra.

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Henrique.

Eu congelo, percebendo que em nenhum momento desse curto trajeto consegui ensaiar qualquer palavra. Eu encaro Lara apreensivo, com centenas de pensamentos me rodeando, mas incapaz de formular qualquer sentença. No entanto, a falta de postura de Lara me diz que ela não vai tomar partido — e nem sequer deveria. Por isso, eu me antecipo em dizer:

— A gente precisa conversar.

Ela assente, talvez de forma involuntária sem sequer se dar conta. Lara, no entanto, parece um pouco perdida sobre os próprios pensamentos, quase ignorando, mesmo que sem intenção, a minha presença.

— Você quer entrar? — sua voz saí trêmula, demonstrando toda sua insegurança.

Eu não consigo demonstrar reação. Ela age de forma tão impassível que parece não absorver a minha presença por completo. E será que eu posso ou sequer deveria julgá-la? Eu não tenho noção do que estou fazendo aqui, afinal, e se existe uma única pessoa a quem se pode culpar por toda essa situação, sou logo eu mesmo.

Lara cede espaço para que eu entre e após um breve aceno de cabeça, um pedido de licença silencioso, eu faço. Me sinto pequeno ao encarar o hall de entrada da sua casa e perceber que a última vez que estive aqui foi há pouco mais de um mês atrás, naquela noite que tudo parecia certo e que parecíamos estar a um passo de vivermos o nosso felizes para sempre.

Meus pensamentos são dispersos quando escuto a porta se fechar. Lara caminha até mim cabisbaixa, evitando me olhar. Me ocorre que talvez eu deveria me esforçar a puxar um assunto, mas o que eu poderia falar afinal?

— Você 'tá' bem?

Esse cumprimento saí da minha boca sem que eu tenha a intenção. Lara apenas então encontra meu olhar - e eu posso dizer que não se encontra muito satisfeita com isso. Tenho vontade de pedir desculpas, mas a essa altura, eu já não sei se ela me daria ouvidos — porque é exatamente com essa frase que a ficha parece cair para ela.

— Vai 'pra' puta que pariu, 'cê' aparece do nada 'pra' se eu tô bem. Você acha o que? — seu tom é elevado e me faz torcer o rosto, retraído. — Que eu vou dizer que 'tô' ótima? Que eu 'tô' realizada com o meu noivo fingindo que eu não existo? O que deu em você para vir bater na minha porta? Cansou de brincar de casinha?

Eu respiro fundo. Assinto com a cabeça algumas vezes, mas não de forma a concordar com suas palavras, mas como se pedisse um tempo. Eu não sei o que dizer porque eu não sei o que estou fazendo aqui.

— Você não vai conseguir isso, Henrique. Eu preciso que você me diga o que 'tá' rolando. Ou o que? Você vai me beijar, vai embora, passar mais um mês sem falar comigo, fingindo que não tem nada acontecendo e de repente vem bater na minha porta de novo? — eu não consigo demonstrar reação. Embora eu queira, não posso apenas segurar Lara nos braços e assegurar que vai ficar tudo bem, porque eu não sei até que ponto é verdade. — Eu não vou me sujeitar a isso. Não mesmo.

Então, aos poucos eu começo a ter percepção de espaço. É como se eu finalmente compreendesse que estou na casa de Lara, com ela logo a minha frente, me suplicando para que eu fique — enquanto eu não posso ficar.

— Eu não posso, Lara. — sibilo baixinho, quase tão baixo que Lara precisa se aproximar para conseguir distinguir as palavras.

— Não pode o que? — eu dou de ombros, por não ser capaz de dizer em voz alta. Me exigiria uma coragem que eu não tenho. — Você não pode continuar comigo, é isso? — seu tom, que até então se mostrava pacífico, se eleva quando ela me diz: — Responde o que eu te perguntei, caralho!

Reféns do Amor | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora