‧₊˚ quatorze.

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Lara.

Alcanço a cozinha batendo os pés contra o porcelanato de forma involuntária. Jaqueline, que prepara algo na bancada, dispersa sua atenção, dirigindo seu olhar diretamente a mim. Ela me indaga, ainda que em silêncio, o que acaba de acontecer e eu deixo percorrer os meus lábios um suspiro exausto.

— O quanto você ficaria puta comigo se eu te deixasse viúva antes do casamento? — resmungo, para a sua surpresa.

— Depende. O que o Otávio fez? — Jaque demonstra naturalidade ao perguntar.

Eu me sento sobre uma das banquetas no entorno da bancada, bufando a cada pequeno gesto.

Com os braços cruzados, eu me sinto como uma criança mimada e birrenta e começo a me questionar se talvez minha reação não esteja sendo exagerada. Mas então, eu me recordo de Henrique em sua tentativa de abrir a porta, naquela extensa conversa e desnecessária sobre suas mudanças e naquele maldito beijo, que foi fruto de uma atitude precipitada e equivocada. Em conclusão, eu continuo querendo matar Otávio. Não, eu não me importo em continuar agindo como uma criança mimada enquanto a culpa for dele.

— Ele me trancou na garagem com o Henrique. — confesso a Jaqueline.

— Ele fez o que?! — ela então larga o pano de prato sobre a pia e eu reconheço sua pose ao perceber sua postura ereta. — Otávio!

— Jaque, não. — suplico, ameaçando me levantar quando Jaqueline ameaça a caminhar até a porta de acesso a área externa. — Depois eu me resolvo com ele.

— Mas...

— O dia hoje é de vocês. Quanto tempo esperando por esse momento para deixar se levar por uma coisinha assim? Foi foda, mas... não é nada que eu já não esperasse.

— Lara, a sua cara me diz que não foi uma coisinha simples. — embora Jaqueline acuse, há mais preocupação em seu semblante do que necessariamente julgamento. — O que aconteceu lá embaixo?

Ela se debruça sobre o balcão, apoiando os antebraços, mas sua postura não faz com que eu me sinta pressionada a dizer; é como se ela quisesse me dizer que, caso eu queira falar, ela está disposta a ouvir.

Então, me ocorre como eu agi de forma imprudente, como eu me deixei ser tomada pelas minhas emoções e como, outra vez, fui precipitada com aquele beijo.

— Jaque, eu acho que fodi tudo com o Hugo de vez. — me lamento.

— Por que, amiga?

— Eu magoei o Jorge 'pra' caralho, você sabe bem disso. — relembro, com amargura.

— Foi involuntário.

— Mas aconteceu. — encolho os ombros, seguido por um sorriso triste. — E eu acho que eu talvez esteja prestes a fazer o mesmo com o Hugo.

— Porque você ainda o Henrique. — ela conclui, na busca por uma explicação razóavel.

Eu observo com atenção o nosso entorno e apenas então me sinto confortável o suficiente para me aproximar de Jaqueline, sem a intenção de deixar que Otávio escute. Suspiro antes de enfim conseguir dizer:

— Eu beijei ele, Jaque.

— Você... Caralho! — acerto um tapa discreto sobre seu braço conforme me afasto e Jaque é incapaz de disfarçar a risada. — Desculpa, Larinha, mas assim... Caralho, que merda 'cê' foi se meter?

— Eu sei lá. — confesso, mais ressentida do que gostaria. — Eu achei que fosse uma boa ideia por um momento, tipo mostrar 'pra' ele que ele me perdeu, que ele não vai ter aquilo de novo, mas...

Reféns do Amor | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora