Henrique.
— Theo?
Não é preciso esforço, seja erguendo a voz ou chamando novamente; Theo cessa seus gestos e me observa com apreensão na primeira vez em que seu nome é chamado. Ele desiste da tentativa de subir a poltrona e desce, se acomodando de forma direita. Com os bracinhos cruzados, ele parece bem insatisfeito, mas Lara se encarrega de ocupá-lo:
— Por que você não olha pela janela, Theo? Para ver se a gente 'tá' chegando.
— Tá longe ainda, tia. — há uma pontinha de decepção na sua voz com essa constatação.
— Mas olha quantas nuvens! — Lara repete o gesto de Theo e se debruça sobre a janela, o que atiça a curiosidade de Theo em observar. — Elas são lindas, não é?
— Sim! — Theo concorda de prontidão, como se fosse um fato simples.
Lara não precisa acrescentar qualquer outra palavra; apenas a menção às nuvens é suficiente para que Theo continue deslumbrado sobre a janela, acompanhando o movimento do céu com o olhar transbordando.
Em seguida, desvio minha atenção para Lara. Sentada ao meu lado, embora há segundos atrás ela demonstrasse empolgação, agora ela soa totalmente nervosa. A forma como seu olhar parece distante e suas mãos seguem inquietas é um sinal de que há muito se passando pela sua cabeça — e eu consigo imaginar o que seja.
— Meu bem? — toco seu braço com a intenção de atrair sua atenção. Lara me observa, nitidamente cansada. — 'Cê' que não tem motivo para estar nervosa, certo?
Eu espero que Lara assinta, percebendo que estou sendo sincero, mas não acontece. Ela segue me observando de uma maneira quase tediosa, como se não soubesse como responder.
— Faz muito tempo que eu não vejo a sua família. — é a resposta contida que ela me oferece.
— E?
Quando peço que ela conclua a frase, Lara segue em silêncio. Eu entendo que essa é uma reação natural, porém, eu não gosto de saber que ela se sente nervosa a esse ponto.
— Lara, eles te amam. Eles foram as pessoas que mais me xingaram por tudo o que aconteceu. Se existe alguém que 'tá' feliz pela nossa volta, são eles.
— Porque você foi um grande idiota. — Lara observa Theo, apenas se certificando de que ele não tenha ouvido. Ao perceber que ele ainda está entretido com a paisagem, ela insiste: — Sei lá, talvez eles não gostem de mim tanto assim. Talvez sua mãe prefira...
— Se você for mencionar a Gabriela, eu vou ter certeza que você enlouqueceu.
— Amor! — Lara me repreende. Eu tento argumentar, mas ela é mais rápida: — Pode acontecer.
— Poderia acontecer, se você fosse... você. Agora, sendo ela, honestamente, minha mãe não poderia ter comemorado mais quando a gente terminou.
Lara me observa com atenção. Talvez ela esteja se questionando se uma risada vai acabar com o momento. Eu incentivo, através de um breve aceno de cabeça, e ela ri, de forma natural.
— Primeiro que você não tinha nem que ter começado a namorar alguém que a sua mãe não aprova. — não consigo esboçar reação porque eu sei que Lara está certa. Minha mãe não ter gostado de Gabriela de início deveria ter sido um mal indicativo, mas eu decidi ir em frente. — Não adianta fazer essa cara, você sabe que eu 'tô' certa. É sua mãe, Henrique, ela jamais diria algo se não fosse pelo seu bem.
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Reféns do Amor | Ricelly Henrique
RomanceDizem que amor de adolescência nunca dura por muito tempo, mas o que dizer de um amor que surgiu durante essa mesma fase conturbada da vida e que permaneceu aprisionado em dois corações durante quase sete anos? Lara e Henrique foram os protagonistas...