Reféns do Amor | Ricelly Henrique

‧₊˚ vinte.

Henrique.

Eu tive a ilusão, por um breve momento (bem breve mesmo) de que esse jantar transcorreria tranquilo. Tudo isso porque Gabriela me parecia um pouco carismática quando puxou assunto com Lara. Mas é claro que minha namorada não poderia ser gentil com minha ex durante muito tempo, e isso tudo começa quando eu pergunto para Lara se por acaso ela está trabalhando em um novo projeto — embora a resposta seja um pouco óbvia, já que eu soube disso pelos stories que Otávio postou ao lado da amiga algumas madrugadas atrás.

— É um novo DVD. — ela completa, após ter acenado com a cabeça positivamente. Vejo Jorge olhar em direção a namorada com os olhos vibrando com essa novidade e tudo o que consigo pensar é que eu queria estar em seu lugar nesse momento, mesmo que Lara esteja com o olhar fixo em mim. — Eu comecei a trabalhar nele agora, ainda estou escolhendo repertório...

— Tenho certeza que vai ficar tão bom quanto o anterior. Você se supera a cada novo trabalho. — declaro, desviando minha atenção novamente até minha ex. Trocamos sorrisos por breves instantes, até que cada um dê um gole em sua respectiva bebida.

— Eu estava falando isso para ela antes de sair de casa. — Jorge estende o braço até o encosto da cadeira da namorada, olhando-a com o mesmo deslumbre de segundos atrás. — Eu tenho tanto orgulho de ser conhecido como o namorado dela. Quem não gostaria de estar do meu lugar? — Eu gostaria, penso comigo. E como gostaria...

Completando a noite, como se realmente estivesse faltando algo para demonstrar toda a admiração que ele diz ter por ela, Jorge entrelaça seus dedos ao da namorada e beija o dorso de sua mão. Mas o momento completo só realmente vem quando as bochechas de Lara coram levemente com esse gesto. Eu preciso me esforçar muito para não demonstrar minha expressão de frustração, tanto que chego a desviar o olhar para Gabriela, que parece assistir a cena com nojo, a julgar pela sua feição.

— Vai ter músicas autorais? Você é uma ótima compositora. — emendo um elogio porque eu sempre fiz questão de deixar claro a minha admiração pelo talento absurdo de Lara com as palavras.

Dessa forma, agora sou eu que faço minha ex-namorada corar, um tanto mais do que com Jorge. Ela sempre recebeu elogios dessa forma — e sempre odiou quando eu me aproveitava da situação para dizer que ela estava linda. Uma pena que, embora eu ache que ela ainda fica linda envergonhada, com as bochechas coradas, eu não possa mais dizer isso em voz alta. Não sem estar afim de causar o fim do seu e do meu namoro.

— Vai sim. — ela concorda, evitando olhar em minha direção quando devolve o copo a mesa. E é quando ela está para agradecer o elogio que é subitamente interrompida:

— Eu não suporto mais aquelas músicas de chifre, sabe? Até parece que vocês não têm mais assunto para falar. Toda música agora só fala disso. — a voz de Gabriela soa enjoada, fazendo jus a sua feição. E, é claro que suas palavras incomodam mais minha ex do que sua própria voz, afinal, seu comentário foi um tanto desnecessário.

— Bom, acho que é normal a gente cantar sobre coisas do nosso cotidiano. E você ficaria surpresa se soubesse o tanto que eu já fui traída. — Lara responde de forma simpática, lançando um sorriso na direção de minha namorada, embora ele seja falso.

— Se for o tanto que você fala nas suas músicas, olha amiga, você já pode abrir uma fábrica de berrante. — Gabriela dispara, fazendo com que Jorge me lance um olhar que diz cale a boca da sua namorada. Mal sabe ele que se eu soubesse como fazer, já teria feito.

Lara ri baixo, dando um longo gole em sua coca cola antes de voltar o copo à mesa e pegar da bandeja de aperitivos um pedaço de pão.

— Realmente. Mas, se as músicas fazem tanto sucesso a ponto de te deixar irritada com isso, é porque as pessoas se identificam. — ela dá de ombros, querendo mostrar que a situação é bem simples e eu sorrio com esse seu gesto. Após uma mordida no pão, ela completa: — E é impossível você não se identificar nem um pouquinho, porque todo mundo já foi traído uma vez.