Lara.
10 de março de 2021.
Goiânia, GO.
— Papai. — a voz de Theo me desperta e me faz recorrer ao retrovisor para encontrá-lo no banco do passageiro.
Acabamos de deixar o condomínio porque hoje é uma data especial. Nós passamos o último mês e meio ansiando pela data e hoje nós finalmente estamos a caminho do nosso segundo ultrassom — ultrassom esse que pode nos dizer se Aurora é realmente Aurora, caso ela colabore. Ou talvez, durante todo esse tempo, nós estivemos errados sobre o assunto, o que faria eu me sentir culpada, mas, apesar da minha implicância com Henrique, eu me sinto tão confiante quanto ele sobre — mas ainda me recuso a chamar isso de instinto materno.
A essa altura, esconder minha gravidez tem sido difícil. No entanto, eu ainda tenho me empenhado em não mencionar publicamente, esperando esse ultrassom para me certificar de que tudo esteja certo com a saúde do bebê. Claro, há especulações circulando na internet devido a uma barriga um pouco saliente e marcada nas roupas que tenho usado recentemente, mas minha assessoria tem se encarregado de desmentir — e, honestamente, esse tipo de especulação não me afeta. Claro que tem despertado a curiosidade do público, mas não é nada que fuja do nosso controle, por ora.
Como a data de hoje é extremamente importante para nós e Theo tem se mostrado muito empolgado com a ideia de ter um irmão — no caso, irmã —, pareceu justo trazê-lo para o ultrassom. Desde que mencionamos, há uma semana atrás, isso é tudo que ele tem falado a respeito — inclusive para Gabriela, que mencionou sobre o assunto quando fomos buscá-lo ontem.
— O que foi, filho? — Henrique, por fim, responde, lançando um olhar breve através do retrovisor.
— A gente podia parar para comprar chocolate.
Então, Henrique solta um praguejo e me observa, sabendo de onde — ou quem — partiu a ideia. Eu contraio os lábios mas, no fim, esboço um sorriso.
— A gente 'tá' atrasado. — ele relembra o mesmo que repetiu incontáveis vezes enquanto saíamos de casa.
— A gente 'tá' em cima da hora. — corrijo novamente, o que faz Henrique revirar os olhos, demonstrando impaciência. — E é só parar em uma loja de conveniência. Isso não vai atrasar a gente.
Embora a primeira reação de Henrique seja fechar o rosto, quase instintivamente, poucos segundos se passam até que ele pergunte:
— Você quer tanto assim comer chocolate?
— Dizem que chocolate estimula o bebê a mexer. — confesso, relembrando o que li na internet, enquanto minha mão procura pela minha barriga saliente em um gesto recorrente. — Ou seja, a possibilidade da gente descobrir o sexo hoje é ainda maior.
— Sei. E não tem nada a ver com o fato de você estar querendo comer chocolate?
— Não. — respondo de prontidão. — É puramente por fins científicos.
Com os braços rentes ao volante, ele tenta se conter, mas exprime um sorriso enquanto nega repetidas vezes. Do banco de trás, ouvimos Theo dizer:
— Eu também quero chocolate!
— Eu sou voto vencido com vocês, né? — Henrique semicerra os olhos, aproveitando o semáforo fechado para entreolhar Theo e eu. Theo ri baixinho, percebendo a intenção do pai, e eu me contento em dizer:
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Reféns do Amor | Ricelly Henrique
RomanceDizem que amor de adolescência nunca dura por muito tempo, mas o que dizer de um amor que surgiu durante essa mesma fase conturbada da vida e que permaneceu aprisionado em dois corações durante quase sete anos? Lara e Henrique foram os protagonistas...