‧₊˚ epílogo.

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Lara.

Maringá, PR.

05 de outubro de 2005.

Meu primeiro aniversário enquanto namorada de Henrique foi aos dezesseis anos de idade. A data deveria ser apenas um momento corriqueiro, como em todos os anos anteriores. Quando meus pais me perguntaram se eu preferiria um celular novo ou uma festa, eu prontamente respondi a primeira opção. Festas não eram o tipo de evento social que me costumavam me atrair e eu sabia que encontraria uma forma de comemorar com meus amigos no final de semana — de preferência, de forma econômica e que condissesse comigo.

Um costume que eu já nutria há alguns anos era presenciar o momento exato da virada do meu aniversário; mesmo que eu tivesse que acordar cedo na manhã seguinte, eu me sentava sozinha no sofá e vasculhava canais de televisão até que o relógio em cima da tv marcasse meia-noite. Então, eu apenas desligava o aparelho e ia para a cama, me sentindo idiota por uma tradição tão irrelevante, mas contente porque era um momento meu, comigo mesma, celebrando a minha vida.

Aquele aniversário começou da mesma forma; passava das onze quando meu irmão se despediu e deixou a sala. Eu me acomodei no sofá, naquele momento tendo-o inteiro para mim, e deixei a televisão ligada no jornal, na ausência de algo que me atraísse. Eu estava pronta para cumprir com minha própria tradição sozinhaaté que algo ecoou próximo, mas baixo.

Eu não consegui distinguir o barulho em primeiro momento; era vago demais e poderia ser apenas alguém passando na rua, rente ao portão. No entanto, o barulho ecoou novamente; um pouco mais nítido e um pouco mais próximo. Soava como uma batida sobre o metal, o que claramente deveria ser alguém no portão. Decidi ignorar, e segui mantendo minha atenção à televisão — me convencendo de que assim eu conseguiria me distrair.

Meu celular tocou, instantes após. Meu coração disparou à menção do barulho, mas meu primeiro instinto foi pegar o aparelho antes que o toque fosse capaz de acordar minha mãe. Levei o telefone à orelha de forma afobada, enquanto minha respiração se mostrava falha. Quando pensei em responder a quem estivesse do outro lado da linha, a pessoa se encarregou de fazer:

Eu 'tô' aqui já tem uns dez minutos tentando chamar sua atenção!

Henrique?! — questionei o óbvio, quando eu seria capaz de reconhecer a voz do meu namorado sob qualquer circunstância.

— Abre o portão logo, amor. Já é onze e meia da noite, eu não devia estar na rua.

É, realmente não deveria, foi o primeiro pensamento que me ocorreu, mas eu jamais diria. Murmurei um simples 'tá' bom antes de encerrar a ligação e me levantar do sofá da forma mais silenciosa possível.

Abrir a porta foi um desafio, mas com muita cautela, consegui fazer sem que o barulho se sobrepusesse ao volume da televisão. Da porta, avisei Henrique na calçada, com os braços sobre o portão, demonstrando impaciência. No entanto, assim que seus olhos repousaram sobre mim, tudo pareceu se acender.

Sua mãe sabe que você 'tá' aqui? — questionei, à título de curiosidade, conforme alcançava o portão.

É óbvio que não.

— E ela não vai se importar?

Puxei o portão, também com cautela, observando a janela do quarto dos meus pais atentamente, mas não havia qualquer resquício de barulho para que eles pudessem suspeitar. Despertei apenas quando Henrique avançou, me puxando para um selinho. Quando ele voltou a se afastar, tinha um sorriso perverso nos lábios e manteve por perto enquanto eu fechava o portão.

Reféns do Amor | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora