Capítulo 5

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"O meu maior desejo sempre foi o de aumentar a noite para a conseguir encher de sonhos." – Virginia Woolf.

— Lily, você está linda.

Eu não estava acostumada a ser o centro das atenções, mas quando você era neta da Madame Grenier e conseguia por mérito uma bolsa no melhor internato da Europa, era difícil passar despercebida.

E Nik fazia questão disso.

A minha história de Cinderela estava sendo muito interessante para Nik vender. A garota cuja mãe morreu no dia do seu nascimento, que foi criada pelo pai e cresceu em uma cidade pequena, de repente se muda para Silent Grace para morar com sua avó que é um pilar da alta sociedade.

Isso era algo que me aterrorizava, mesmo fingindo que não. Era esquisito pensar que minha vida inteira mudou totalmente do dia para noite e, mesmo sendo por mérito próprio, eu não imaginava que as coisas tomariam essa proporção.

Mas toda essa proporção era boa para Nik, para sua imagem em Silent Grace e tudo que ela representa. Além que, com o escândalo da garota que foi encontrada morta, ela queria tentar mudar um pouco o clima em que Silent Grace se encontrava, mesmo com todos fingindo que nada realmente aconteceu.

Por isso Marzia havia me arrastado para um salão de beleza antes de irmos para o Saint Fiore, porque Nik havia marcado uma pequena entrevista e uma matéria sobre minha bolsa no jornal local, então seria dia de fotos.

Eu apareceria com ela, com o diretor e com meu título por ter conseguido bolsa com 100% de acertos, um acontecimento raro na história do Saint Fiore.

Tudo isso para mudar o foco das coisas e mostrar que Silent Grace também se tratava de jovens excelentes que não foram encontrados mortos em freezers.

Apesar de também acreditar que era uma forma de vender que o Saint Fiore não era só um colégio de jovens herdeiros que estão lá apenas porque seus pais podem pagar, mostrando o lado em que há alunos excelentes com grandes mentes e que serão grandes profissionais por mérito próprio, não por seus nomes pesados.

Mas isso me trazia uma sensação de culpa. Mesmo conseguindo a bolsa por meu mérito e sem qualquer dedo da Madame Grenier, no fim eu continuava sendo mais uma no Fiore com um sobrenome pesado, mesmo não o usando.

Madame Grenier continuava sendo minha avó e sabia que era a forma que me viam.

Mas não recusei a entrevista e nem mesmo deixei de me preparar para ela. Se eu pudesse contar a minha história do meu jeito, talvez valesse a pena um pouco dessa atenção.

Não quis fazer nada radical como minha amiga sugeriu. Nada de cortes exóticos, mechas coloridas e nem ficar ruiva como Marzia pediu. Apenas cortei minha franja na altura dos meus olhos, deixando alguns fios cobrindo minha testa.

Além do corte, fizeram uma maquiagem leve apenas para que eu aparecesse saudável e delicada nas fotos que tiraria.

— Ficou bom mesmo? — perguntei sinceramente, e minha amiga sorriu.

— Combinou com você. Aposto que os garotos vão adorar.

Revirei os olhos.

— Não é como se eu ligasse para isso, Marz.

Ela deu os ombros.

— Devia. — Sorriu. — E se algum garoto notar que você mudou o cabelo, é porque com certeza olha para você e gosta de você.

— Que besteira. — Ri.

Marzia era uma romântica incorrigível e não ligava em demonstrar isso para todos. Vivia no mundo das nuvens, com suspiros e sempre pensando se algum garoto a notava. Um em específico. Nisso ela me lembrava Trina, que também sempre foi muito assim. Achava fofo.

Silent GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora