Capítulo 6

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"Se não existissem más pessoas, não haveria bons advogados." – Charles Dickens.

Aldo não estava no país, o que era ótimo, mas me ligava todos os dias para saber como eu estava lidando com o colégio e me coagindo a desistir de ter aulas presenciais, pois ele estava disposto a contratar os melhores professores do país para me ensinarem em casa.

Ah, a casa agora seria um apartamento no centro, porque ele também não queria que eu voltasse para o hotel onde tudo aconteceu. Obviamente, eu neguei sua proposta (não era proposta, ele estava mandando, como pais fazem, coisa e tal), porque era empenho demais para uma coisa que eu não queria, além de ter que viver completamente sozinha em um apartamento que provavelmente Aldo trancaria pelo lado de fora para que eu não fugisse, e deixaria alguns do seus comensais de plantão para vigiar cada passo meu.

Eu já sentia Arón de olho em tudo que eu estava fazendo no Fiore e, às vezes, quando saía nos meus turnos livres, tinha a sensação de alguém estar me vigiando. Por muitas vezes, Aldo colocava um capanga seu nas minhas costas quando sentia que algum dos seus negócios havia ido mal e acabava colocando a família Mercy no olho de seus inimigos. Fazia alguns anos que não tinha a sensação de uma babá a cada esquina me observando, como tinha agora. Então, até mesmo para andar pelo lado de fora do colégio, eu tinha meus horários exatos e comedidos para burlar o sistema "papai está de olho em você".

Podem imaginar meu susto quando encontrei meu padrinho sentado no sofá do salão de lazeres, com seu terno escuro e pernas cruzadas, lendo um dos livros que estava largado por ali.

— Bosco? — perguntei com uma careta confusa.

Ele olhou para mim com um sorriso pequeno e se levantou, posicionando o livro no sofá e se aproximando para um abraço.

Que eu prontamente deixei. Ok, não tão prontamente: não abracei ele de volta, mas também não o empurrei.

Sentia que, de toda a família podre e fofoqueira do meu pai, tio Bosco era o único de quem eu parcialmente gostava.

Sua aparência era completamente oposta à de seu irmão Aldo. Enquanto meu pai era alto e corpulento, com músculos e nenhum cabelo na cabeça, Bosco era quase da minha altura, magro, com cabelos até o queixo sempre penteados para trás com elegância e a barba aparada perfeitamente.

Tio Bosco era meu padrinho e de Arón, um grande confidente nosso e que às vezes eu podia até chamar de amigo. Também era secretário das empresas hoteleiras de meu pai e era praticamente um faz tudo dele. Por isso o perguntei:

— Aldo mandou você aqui?

— Bambina, sempre acusadora. Não posso saber eu mesmo o bem-estar da minha sobrinha favorita? — Sorriu ao fim do abraço e notei seus anéis nos dedos. Seus trejeitos me lembravam os de Jack Sparrow ou alguém semelhante. Por vezes, pensei que meu tio era homossexual também, mas nunca tive certeza.

— Sou sua única sobrinha. — Essa era a parte em que ele falava sobre um cemitério de elefantes?

— Exatamente, muito mais importante. Passei também para conversar com Arón e, claro, acertar algumas papeladas com o diretor Francesco envolvendo seu pai.

-- Ah, ele quer pagar a Carlotta pelas sessões de terapia, aposto?

Aquela mulher não tinha nem diploma de psicóloga, minha gente. Bem-feito, deveria estar arrancando uma fortuna de Aldo com essa lorota.

— Sabe que ele somente se preocupa com você, não é?

— Excessivamente.

— Bom, então você puxou o seu pai, se bem me lembro, você compartilha de alguns traços semelhantes. Não vou te encher sobre perguntas daquele assunto, aposto que esse prédio inteirinho anda te perseguindo pelos corredores pra conseguir qualquer furo sobre o caso vindo de você.

Silent GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora