Capítulo 12

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"Você dedica tempo à sua família? Porque um homem que não se dedica à família nunca será um homem de verdade." — O Poderoso Chefão.

Motivação é a arte de fazer as pessoas fazerem o que você quer que elas façam porque elas o querem fazer."

Não.

"Toda ação humana, quer se torne positiva ou negativa, precisa depender de motivação."

Também não.

"A persistência é o caminho do êxito."

Espera um segundo, essa frase não era do Charlie Chaplin? O cara não namorava meninas de catorze anos? Legal, nenhuma dessas frases clichês são motivacionais o suficiente pra mim.

Joguei o livro de bolso idiota de Marzia no porta luvas e me espreguicei com a cabeça pra trás, sentindo os sintomas de uma enxaqueca que logo teria. Me sentia uma idosa de oitenta no corpo de uma garota de dezoito.

Meu sonho de descolorir a franja e parecer a vampira do X-Men se tornaria realidade rápida e naturalmente, porque o tanto de problemas que estavam me corroendo e corroendo minha vida trariam fios de cabelo branco cedo. Não era à toa que meu pai havia ficado careca aos trinta, os genes da família traziam estresse.

Pensei em ligar para o meu tio Bosco, ele já tinha me livrado de alguns problemas antes como ser pega na fronteira com cervejas no meu carro sendo menor de idade. Fora isso, ele era a única rocha segura da minha família como apoio emocional e também racional, quando ele brigava comigo ou com Arón, ele dizia as palavras certas para aprendemos com o nosso erro e também não ficarmos traumatizados, que era o que geralmente Aldo fazia.

Depois de olhar algum tempo para o meu celular, desisti dessa ideia. Não queria incomodar ninguém com as porcarias em que eu me metia, e neste buraco eu desejava me afogar sozinha.

Entrar no Saint Fiore depois de um final de semana longe, e levando em conta tudo o que havia acontecido, era um grande sacrifício. Principalmente por não saber como seria a reação das pessoas. Era como um deja vu de quando me atrasei no início do ano. E, outra vez, por motivos semelhantes.

Agora tampouco sabia o que esperar. Depois que fui até a delegacia na noite de sábado com uma marca vermelha arroxeada na minha bochecha e pronta para alterar minhas falas sobre o caso da Vanda, minha mente entrou em uma exaustão tão grande que não consegui fazer nada além de dormir o dia de domingo inteiro depois de ter passado no dentista pra ter certeza que, com todo o sangue que cuspi, não havia perdido nenhum dente. Foi como um borrão.

E esperei pela segunda-feira.

Era como um daqueles filmes esquisitos do Tim Burton. Onde as pessoas eram pálidas e te encaravam esquisito com os olhos gigantes delas. Ouvi dois "bom dia" e vi alguns acenos de cabeça. Um garoto saiu correndo quando me viu no corredor. O outro parecia pensar em dizer algo, mas se manteve calado. Acho que a expressão certa para essa reação dos jovens da Fiore para comigo seria... pisar em ovos.

Tudo bem, poderia ser pior. Poderiam ter me recebido com abraços, aí sim eu não suportaria.

Me escondi atrás de uma planta de plástico e tirei meu celular de baixo da saia, procurando o número de Marzia Bucci rapidamente.

"Me encontra no dormitório."

"Asia? É você? Mulher, onde você estava? Eu liguei pra você! Eu nunca ligo pra ninguém, só mando mensagens, e te liguei! Pra você ver a gravidade do tanto que eu precisava falar contigo!"

"Eu sei. Vamos falar agora. Tô na Fiore, direto pro quarto. Arrivederci!".

Desliguei antes dela responder e corri até o destino, preferindo olhar para baixo, evitando reconhecer qualquer pessoa que me parasse para falar alguma coisa. Se eu tinha esperanças de que a bomba não havia explodido ainda, a reação da Marzia me provou o contrário.

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