Capítulo 11

6 2 0
                                    

"Perfeição não é só sobre controle, é também saber abandonar-se." — Cisne Negro.

— Um leilão? Isso é tão retrógrado — Trina suspirou do outro lado da tela. — Você tem mesmo que participar disso?

Dei os ombros.

— Nik diz que sim — suspirei. — Mas não é você quem diz que sempre quis um ricaço para você? Esse leilão parece ser uma ótima opção.

Minha amiga riu.

— Lily, eu quero procurar um ricaço pelos meus termos e não quero que ele me compre num leilão — riu. — Parece The Handmaid's Tale. E também, não sou eu quem está indo para esse leilão, e você não parece ser do tipo que quer ser comprada por um ricaço.

— Não mesmo. Acho que nunca estive tão nervosa por algo que Nik me enfiou desde que cheguei aqui em Silent Grace.

Nessa noite, as famílias de San Pellegrino se reuniriam em um leilão beneficente, para ajudar as obras de caridade de Silent Grace. A cara desse evento? As garotas das famílias mais importantes da cidade. O que estava sendo leiloado era um jantar conosco e todos os lucros desta noite seriam revertidos em doações para essas caridades.

E depois, os "casais" formados nesse leilão participariam de um evento de caridade em uma das obras para as quais foram feitas as doações. Era tudo por uma boa causa, já que os ricos percebiam que existiam outras pessoas vivendo em Silent Grace, e não apenas a nata rica do bairro de San Pellegrino.

Isso para mim soava muito estranho. Um monte de garotas de dezoito anos sendo leiloadas para sabe-se quem? Não tinha como isso dar certo, tinha?

Mas Nik fez questão de me dizer que isso era só uma forma dos garotos do Saint Fiore convenceram seus pais de gastar dinheiro com caridade e, de quebra, os herdeiros conseguirem levar as garotas que desejam para jantar, pagando, claro.

Mesmo assim, não me sentia nem um pouco confortável com a situação. Ainda mais porque eu seria uma leiloada.

Nik não pensou duas vezes antes de me enfiar nisso, mesmo sem saber se eu queria participar ou não. Mesmo assim, fez e não me deu nenhuma opção além de aceitar. Eu não queria de jeito nenhum participar disso, porque era algo que eu não teria o controle de saber quem faria o lance mais alto por mim.

Mas a naus velha estava irredutível, ela não abriria mão de me colocar nesse leilão como a peça mais importante da sua coleção.

Estava tentando focar na parte da caridade e na possibilidade de terminar em um jantar com algum garoto do Fiore. Apesar de assustada e desconfiada, não seria como se algum velho esquisito fosse fazer um lance por alguma garota de dezoito anos na frente de todos.

Seria tudo pela caridade. Eu estava me sacrificando por um bem maior, alguém que realmente precisava.

Só não conseguia esconder a ansiedade e o medo de quem me levaria para jantar.

— Quem sabe aquele gostosão do Arón te compre essa noite, né? — Trina sorriu sugestiva do outro lado da tela. Fiz careta.

— Por que eu iria querer que o Arón me comprasse essa noite? — Revirei os olhos. — Nem tudo gira em torno dele, Trina.

— Ih, parece que está tendo problemas no paraíso — debochou. — Qual foi, vocês terminaram ou coisa do tipo?

— Não temos nada para terminar. — Estava muito na defensiva, tentei me acalmar. — Ele só não está falando muito comigo depois de me enfiar num canto esquisito da cidade.

Depois da noite em que fui buscá-lo numa área mais esquisita da cidade, Arón tinha ficado esquisito comigo. Ele não falava direito comigo, nem estava mais me encontrando no ponto de ônibus ou marcou para estudarmos juntos. Não sabia o que havia acontecido, mas era melhor assim.

Silent GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora