"— Lamento pelo seu pai."
"— Um dia eu o acabaria matando." — O Profissional.
Saint Fiore
— Sai da frente! — gritei pela janela, buzinando para um garoto imprestável que estava sentado com os amigos na minha vaga.
Hoje o dia não começou bem.
Buzino mais algumas vezes para ele se apressar logo e estaciono meu carro de qualquer forma. Pouco me importava. Já estava atrasada há alguns dias desde a volta às aulas e tive a proeza de conseguir me atrasar para a minha primeira aula também. É uma delícia chegar depois do horário marcado e ter um bando de babacas aplaudindo sua entrada.
Corro com minha bolsa no ombro, fechando os botões de meu paletó cinza escuro com o emblema da Fiore bordado. Estou quase suando quando passo pelos portões do prédio em direção a minha sala de aula, que graças a Marzia ter pegado meus horários, eu sabia para onde ir exatamente.
Claro que a dona Carlota não me deixaria passar sem me chamar até sua sala, então fiquei encurralada no corredor, já não me importando com o meu atraso.
— Venha, mocinha — ela disse simplesmente com a voz rígida e comecei a segui-la enquanto me familiarizava outra vez com o ambiente.
Não andava pelo internato desde o último ano. O colégio combinava com a cidade em um geral. Éramos uma vila medieval, cidade antiga e pacata que cresceu estrondosamente pelo número de milionários que se mudavam para o bairro San Pellegrino, onde ficava um dos colégios mais caros e prestigiados do país.
Então todos os costumes da Saint Fiore, colégio liderado por freiras, eram católicos. Não tão rígidos como antigamente, ainda assim, católicos. Não sou totalmente a favor disso, mas não posso reclamar do ensino aqui, é realmente bom. E não levamos reguada na mão.
O conceito da arquitetura, como boa parte desse lado da Europa, exigia um estilo gótico, mostrando a dimensão de todas as paredes altas e maiores do que construções comuns. Pareciam castelos, só que mais escuros. E na última renovação que o colégio conseguiu com o último prefeito, o senhor Bucci, o ambiente se tornou moderno, ainda contendo as características do movimento renascentista, com todos os elementos de decoração apontados para cima, demonstrando todo aquele tipo de superioridade e supremacia do catolicismo na época em que o movimento artístico foi criado.
Olhei para meus sapatos pretos ilustrados enquanto Carlota fechava a porta de seu escritório. Ele era amarelo com uma cruz enorme pendurada atrás de sua mesa e muitos livros ilustravam sua grande estante de madeira.
— Sente-se — pediu.
Respirei fundo, com preguiça daquilo tudo, mas me sentei, esperando seu sermão, ou pior, compreensão de momentos difíceis que passei.
— Como você está, Asia?
— Por que se importa?
— Vou bem também, obrigada — ironizou e ajeitou a sua capa de freira, ou hábito, como chamavam aquele treco preto e branco que a maioria das funcionárias da Fiore usavam. — Quer me contar sobre os últimos dias?
Terminei com meu ficante, terminei com o pai dele também, fiquei em primeiro lugar em um concurso de beleza, comi frango frito com capuccino essa manhã antes de vir para o colégio e encontrei um corpo morto no freezer do hotel semana passada o que fez meu pai ficar maluco e me impedir de voltar pra escola depois que os policiais me encheram o saco dia e noite por culpa de um depoimento com zero informações.
Do que exatamente ela estava querendo saber?
Encolhi os ombros.
— Entediante. Ontem o ponto mais alto do meu dia foi conseguir acordar no momento exato em que minha série favorita estava passando na televisão. Crazy RIch Asians, conhece?
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Silent Grace
Fiksi PenggemarSilent Grace mostra a vida de jovens da elite que passam a viver em um mundo onde os bens materiais são mais valorizados do que vidas perdidas. Quatro vidas ligadas por uma trágica perda. Quem é o assassino? A fumaça da dúvida sobre o que acontec...