Capítulo 10

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"Eu assisti "O Exorcista" mais ou menos 167 vezes... E fica mais engraçado a cada vez que eu assisto." – Beetlejuice, Os Fantasmas Se Divertem.

— O que você tá espiando aí? — Marzia Bucci levou um susto com minhas palavras e deu um pulo, saindo da janela do nosso dormitório o mais rápido possível. Até tentou fechar as cortinas, me fazendo revirar os olhos e tomar a dianteira para entender logo o que estava acontecendo.

Nossa vista era para um campo de grama gigantesco, uma lagoa e uma parte do estacionamento da Fiore. Não foi difícil encontrar meu irmão saindo do carro de VD, junto de Scott, Mirko, o próprio VD e, senhoras e senhores, Lily Myoui.

Pensei em toda a encenação que ela fez no banheiro daquela festa de sua avó bruaca e ri comigo mesma. Ela não queria ser devorada por eles? Bom, estava caindo dentro do covil das cobras.

— Volto logo — avisei e corri para fora do quarto.

— Asia, o que você vai fazer? Asia? — ouvi as preces preocupadas de Marzia atrás de mim.

— Relaxa.

Fechei a porta, aproveitando ter pelo menos duas horas antes de tocar o sinal, corri para o lado leste, terminantemente proibido para meninas, e esperei o dito cujo aparecer na entrada de seu dormitório.

Os quatro pararam de andar e travaram quando me viram ali, como se fossem pegos no flagra.

Ficamos nos fitando por alguns minutos e ninguém disse nada, até que Mirko resolveu falar.

- Bom, isso foi um silêncio constrangedor, devo dizer. Vou me arrumar para ir estudar.

— Verdade. — VD passou por mim também, não sem antes pegar minha cintura e depositar um beijo na minha testa. — Bom dia, princesa.

Eu hein. Que demonstração de afeto em público era essa? Semicerrei os olhos para os dois que seguiam escada abaixo.

— Tá tudo bem? — Ouvir aquela voz baixa e grave me fez estremecer um pouco, não podia mentir, fazia um tempo que não falava com Scott. Desde aquela festa fracassada onde beijei aparentemente trinta bocas diferentes e nenhuma era a dele.

— Quero ter uma palavrinha com o meu irmão.

Scott acenou e seguiu o caminho quando ouvimos um grande suspiro preguiçoso vindo atrás dele.

Coloquei as mãos na cintura, fitando Arón.

— Que é? — suspirou, já parecendo cansado com o que eu diria a seguir.

— O que você está fazendo?

— Você sabe o que eu estava fazendo.

— Clareie a minha mente.

— Vendendo identidades, e o resto... VD tava junto, é óbvio maninha. — Revirou os olhos.

— Não é disso que tô falando, cabeção. Tô falando de Lily Myoui no carro com vocês.

— Cara... essa sua cisma com a Lily já tá ficando tedioso. Você só tem os olhos de Aldo mesmo, porque age igualzinha a mamãe.

Respirei fundo.

Se tinha alguém que compreendia o quanto me afetava falar da minha mãe, e o pior de tudo, me comparar com ela, era meu irmão gêmeo. E ver que ele gratuitamente fez isso pra me atingir me fez ver vermelho.

Somente nós dois sabíamos o peso de suas palavras. E mesmo assim, ele disse como se não fosse nada.

Conti aquele sentimento velho e antigo que senti pela última vez na festa de Mirko, quando peguei a faca na cozinha. Apertei os punhos, tentando me segurar para não fazer alguma besteira, e lembrei do conselho de Scott.

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