"Se eu puder evitar que um coração se parta, eu não terei vivido em vão." – Emily Dickinson
— Você vai passar o final de semana na mansão mesmo? — Marzia perguntou com a boca cheia de sorvete. — A Madame Grenier vai te arrastar para algum de seus eventos?
Assenti.
— Provavelmente. — Dei os ombros. — Acho que ela fica mais inspirada para frequentar esses jantares chiques com a chegada do inverno.
Tirando a ideia de ter que frequentar todos os eventos que minha avó me arrastava, a perspectiva da chegada do inverno me alegrava. Contava os dias para que a neve começasse a cair e eu pudesse ver pela primeira vez as ruas de Silent Grace todas branquinhas.
Eu amava o inverno porque não faltavam motivos para usar roupas confortáveis e ficar toda empacotada de casacos quentinhos, além de ser uma desculpa perfeita para tomar chocolate quente ou café o dia inteiro.
Já para Marzia, o frio não era uma desculpa para deixar de tomar sorvete. E eu, como uma boa amiga que era, ou louca, a acompanhava nessa antes de ir para o dormitório arrumar minhas coisas para voltar para a mansão.
Não sabia dizer se estava animada ou não em ficar o final de semana na mansão com Nik. Havia me acostumado com o Fiore, a calmaria do meu dormitório ou as tardes em que ficava enfiada na biblioteca estudando com a companhia de Scott. Então, quando chegava os finais de semana em que podia ir para a mansão, sempre inventava uma desculpa para ficar no Fiore.
Mas, dessa vez, a mais velha não aceitou nenhuma desculpa. Segundo ela, passamos pouco tempo juntas nas últimas semanas, por isso dessa vez eu teria que ir para a mansão e passar o final de semana inteiro com ela.
Queria dizer que teríamos apenas uma programação normal de avó e neta, mas, se tratando da Madame Grenier, provavelmente iríamos para todos os seus compromissos. Para ela, de qualquer forma, passaríamos o final de semana inteiro juntas, mesmo não estando realmente juntas.
Quando entramos no nosso dormitório, algo chamou nossa atenção e ficamos paradas em frente a minha cama.
— O que é isso? — Marzia franziu o cenho.
— Não faço ideia.
Sob minha cama, havia uma caixa branca com um laço vinho e um bilhete grudado. Ainda estava estranhando, não sabia como isso foi parar logo na minha cama, mas não estava nem um pouco animada para descobrir.
Se minhas desconfianças estivessem certas, isso não era um engano ou uma simples coincidência, muito menos uma história engraçada para rir mais tarde. Tinha dedo de Madame Grenier nisso.
Quando peguei o bilhete, tive a certeza do que aquilo realmente era.
Para você usar hoje à noite no nosso jantar especial.
Com amor, do seu B. M.
B.M., ou mais precisamente, Bosco Mercy.
Desde a noite do leilão, toda vez que eu pisava na mansão Grenier, era recebida por presentes enviados pelo homem. Todos vindo em caixas brancas e com laços cor de vinho.
Flores, chocolates, vestidos, sapatos, joias, bolsas e até mesmo livros... Livros! O homem descobriu a minha paixão pela literatura e começou a usar contra mim, porque eu não queria nenhum presente desse Bosco Mercy.
Sua insistência estava se tornando cansativa para mim, porque ambos sabíamos que nada aconteceria ali. Bosco era um homem adulto e eu era apenas uma adolescente, não o via e nunca o veria dessa forma, e ele sabia disso, mas mesmo assim não seguia em frente.
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Silent Grace
FanfictionSilent Grace mostra a vida de jovens da elite que passam a viver em um mundo onde os bens materiais são mais valorizados do que vidas perdidas. Quatro vidas ligadas por uma trágica perda. Quem é o assassino? A fumaça da dúvida sobre o que acontec...