Capítulo 16

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"Mamãe sempre disse que a vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai encontrar." – Forrest Gump.

— O ano está acabando e você continua achando que chutar a pobre máquina vai solucionar todos os seus problemas — disse o cara, com um sorriso arrogante demais para oferecer a alguém que ainda não havia tomado café da manhã.

— Pra minha sorte, você está sempre aqui. — Meu irônico sorriso era animado, observando Scott fazer sua mágica até meus salgadinhos e refrigerante caírem.

Meu estômago roncou alto e rasguei a comida como a verdadeira neandertal que era, morta de fome.

— Sabe que isso não é comida, certo?

Fiz careta quase mostrando a língua, o que seria bem infantil.

Depois do acaso de encontrar uma imagem da minha família nas coisas de Scott, continuamos nos falando normalmente. Eu preferia acreditar que tudo não passava de uma grande confusão. Afinal de contas, os Mercy eram famosos, tínhamos fotos online, em páginas de pesquisa e Aldo saía em capas de revista de investimento mensalmente. Ele poderia estar fazendo um trabalho escolar sobre isso e apenas isso.

— E o que devo fazer com isso? Engraxar sapatos?

— Não é saudável. Nem para seu estômago e nem para sapatos.

— Você vai cozinhar pra mim? — Era isso ou ele teria que parar de implicar com a minha ótima alimentação.

— Temos algumas pessoas que fazem isso aqui no colégio, sabia? Elas trabalham logo ali, se chama cantina.

— Ah, aquela comida. — Fiz uma expressão de novo conhecimento. — Já tentei uma vez, não tinha sal o suficiente.

— É assim que seu paladar te agradece depois de anos comendo isopor com sódio nas três refeições.

— Ah, Hart. O que quero comer não está sendo servido na cantina. — Dei uma piscada e ele soltou ar pelo nariz, se rendendo ao humor. Mas eu não estava brincando.

Senti uma mão me cutucando no ombro e me virei, já esperando alguma agressão verbal do tipo "vadia que dorme com o pai do namorado". Elogios que estavam sendo sussurrados pelos corredores nos últimos dias. Desde que Patrick havia sumido da face da terra.

Quando me deparei com Mirko, me lembrei que nenhuma pessoa que me xingava tinha coragem de falar o que pensa diretamente em meus olhos. A última que fez isso, teve um certo problema de sangramento nas narinas. Engraçado.

— Posso falar com você? — perguntou, parecendo nervoso.

— Já disse que não sei que marca de tinta a Marzia usa no cabelo. Pergunte a ela, garoto.

Ignorei-o pra me concentrar novamente em coisas mais gostosas quando Mirko fez questão de me puxar com mais força para encará-lo.

— Por favor, é importante.

Ele olhava tanto ao redor que parecia estar sendo perseguido. Ou que fazia algo errado.

Minhas sobrancelhas afundaram. O garoto não tinha outra pessoa para encher? Não estava vendo que eu estava ocupada aqui? Caramba. Como pode existir tanto empata foda em um colégio só?

— Vai lá, nos falamos depois. — Lábios pousaram na minha bochecha e minha carranca se transformou em borboletas no estômago.

Claro que eu falaria com Mirko. Se tivessem recompensas assim, falaria com quem ele quisesse. Podia mandar, que fizessem filas, naquele dia eu seria até psicóloga.

— Chora logo — resmunguei, me encostando na pilastra embaixo de uma escadaria mais afastada da multidão de alunos.

— Acredite em mim, se pudesse, nunca teria essa conversa com você. Porém, você é a única pessoa que pode dar um jeito nisso. Bom, pelo menos é assim que vejo. — Sua voz estava baixa. E ele continuava enrolando.

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⏰ Última atualização: Jan 07, 2023 ⏰

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