O ARREPENDIMENTO DO PRÍNCIPE POPINJAY

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   Caríssima princesa Tulipa Morningstar

   É com o mais profundo pesar pela senhora e por sua família que eu escrevo essa missiva. O motivo de meu comportamento tão covarde é um mistério absoluto para mim e me deixa bastante envergonhado. Minha única defesa - uma defesa ruim - é que eu não parecia nada comigo mesmo quando realizei aquelas aquelas ações. Na verdade, eu me senti como se estivesse possuído por outra pessoa e incapaz de impor minha vontade. Devo assegurar-lhe, senhora, que ações como aquelas estão totalmente fora da minha natureza; todas, exceto minhas proclamações de amor pela senhora (embora eu pudesse ter escolhido uma forma mais adequada de declará-las.)

   Devo confessar que a amo já há algum tempo. Desde que a vi à beira-mar nas terras de seu pai, surgindo do mar como uma deusa enlutada silenciosa, eu a amei, e a observei desde que floresceu em uma jovem inteligente e forte. Eu tinha a intenção de me apresentar à corte de seu pai de forma adequada, de ser oficialmente apresentado, para que a senhora aceitasse meu compromisso, mas temo que os eventos recentes tenham maculado sua visão de mim. Se for esse o caso, querida princesa, não vou repudiar seus sentimentos. Só quero manifestar o meu arrependimento mais profundo e meus sinceros sentimentos de amor e devoção à mais intrigante jovem sobre quem já tive o privilégio de pôr os olhos.

Sempre às ordens.

Príncipe Popinjay

Tulipa sentou-se, chocada com a carta do príncipe Popinjay em suas mãos.

Não tinha palavras para contar à babá o que ele havia escrito; afinal, ainda não tinha assimilado por completo o que significava. Assim, apenas entregou a carta para que a babá lesse por si mesma.

– Bem, ele é bastante talentoso para se expressar! Melhor, ouso dizer, do que tentando invadir os portões do castelo!

Tulipa ainda estava atordoada.

– Babá, a senhora acha que ele está dizendo a verdade? Aqueles homens estavam mesmo sob algum tipo de encantamento?

A babá sabia muito bem que eles estavam.

– Sim, minha querida, estavam sim.

Tulipa olhou para ela com ceticismo.

– Por que a senhora não disse isso antes?

A babá suspirou.

– Porque, minha querida, você teria me olhado desse jeito que me olha agora, como se a pobre babá tivesse enlouquecido. E, para ser sincera, eu tinha assuntos mais urgentes em mãos: estava tentando invocar Circe e depois discutindo com Úrsula, quando ela apareceu no lugar de Circe. Mas confie em mim, minha querida menina, esses homens foram enfeitiçados, e seu príncipe dificilmente poderia ser responsabilizado pelas próprias ações.

O rosto de Tulipa se encolheu com desagrado.

– Ele não é meu príncipe!

A babá riu.

– Se você diz, querida. Mas, para mim, ele fala muito como se fosse o seu príncipe!

Tulipa odiava esse sentimento. Da última vez em que se sentira assim, tinha
sido totalmente humilhada e profundamente magoada. Não podia imaginar se permitir ser encantada por outro homem bonito apenas para ter o coração partido novamente. Mas agora ela era diferente, não era? Mais forte, mais ousada e, de fato, mais voltada para os assuntos do mundo. E parecia que eram essas especificamente as qualidades que o príncipe admirava nela.

– Eu queria que Circe estivesse aqui, babá. Ela saberia o que devo fazer.

A babá suspirou.

– Eu acredito que Circe iria lhe dizer para responder a carta desse
cavalheiro, agradecer as amáveis palavras e fazer um convite para o chá.

Tulipa sorriu.

– A senhora acha mesmo isso?

– Eu acho, minha querida.

– Então creio que é o que vou fazer! – disse Tulipa, com um beijo rápido na bochecha fina e macia da babá. Em seguida, ela saiu correndo do cômodo para escrever a carta. A babá riu. Ela desejava muito ver Tulipa assim, feliz de novo, e sentia que as intenções de Popinjay eram honrosas. Mas era melhor dar uma olhada nele com mais atenção, só para garantir. "Ele é um bom sujeito, para um humano", disse Pflanze no ouvido da babá. "E tenho certeza de que Tulipa vai ser muito feliz com ele, mas temos de nos concentrar em Circe. Temo que ela esteja em grave perigo. Temo por todas nós".

– Eu concordo com você, Pflanze, e acho que nós duas sabemos quem está por trás disso.

Úrsula - A história da bruxa da pequena sereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora