UMA MENSAGEM INESPERADA

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A mansão das irmãs esquisitas se elevava sob um céu azul-prateado, dourado e cor-de-rosa. As bruxas estavam lá dentro, espreitando nervosamente de suas janelas, procurando por corvos ou qualquer outro sinal das Terras das Fadas, com medo de que fossem receber outra advertência odiosa da Fada das Trevas.

Ruby gritou quando viu uma coruja cinza-escura voando em direção à casa.

– Pare com isso, Ruby! É só uma coruja! – Mas as irmãs sentiram um nó no estômago quando viram que a coruja vinha voando bem na direção delas.

– Você não acha...?

– Não, eu não acho! – retrucou Lucinda. – Malévola não faz uso de corujas!

Com jeito tímido, Martha caminhou até a porta, tremendo a cada passo,
olhando com nervosismo para o vitral acima da porta de entrada, decorado com um dragão mortífero destruindo as Terras das Fadas.

– Martha, por favor! Apenas abra a porta! A coruja não vai cuspir fogo!

Quando Martha abriu a porta, a coruja mergulhou para dentro, pousou na mesa da cozinha e estendeu a perninha.

– Ruby, dê um biscoito a ela! – ordenou Lucinda, ao pegar a mensagem no pé da coruja. Ruby e Martha procuraram nas suas diversas latas, tentando encontrar um biscoito para a coruja, enquanto Lucinda lia a mensagem. – Parem com todo esse barulho! É de Pflanze! Ela quer que a gente vá agora mesmo para o castelo Morningstar. Ela diz que é urgente!

– Qual é o problema? Ela está em perigo? – Ruby e Martha tinham os nervos em frangalhos, e Lucinda fazia o seu melhor para ser paciente com elas.

– Ela não diz, só fala que precisa de nós e que vamos ser bem-vindas na
corte.

– Duvido disso, Lucinda! Não depois do nosso papel na ruína de Tulipa!

– Nosso o quê, no quê de Tulipa? Desde quando vocês falam assim? – Lucinda estreitou os olhos para as irmãs, perguntando o que tinha acontecido com elas desde que haviam afugentado a irmã mais nova com sua loucura.

– Nós todas andamos falando esquisito desde que Circe foi embora.

– Sim, Lucinda, nós concordamos que tentaríamos falar com mais clareza, para o bem dela.

A coruja beliscou a mão de Ruby para lembrar as irmãs de que ela estava esperando sua resposta.

– Ai! Eu deveria quebrar seu pescoço por isso!

A coruja simplesmente piscou os grandes olhos esféricos para Ruby, como se para desafiá-la a cumprir sua promessa.

– Sim, sim! Esperem – disse Lucinda, afastando as coisas de uma extremidade da gaveta da escrivaninha para a outra, à procura de um pergaminho e de uma pena para escrever a resposta. – Dê-lhe um biscoito! – ela explodiu, enquanto, apressada, compunha sua resposta, informando Pflanze de que estavam partindo imediatamente. – Diga a ela que você sente muito! Não vou admitir corujas recusando-se a fazer o que mandamos, Ruby! Já temos inimigos demais! Aqui, minha querida – Lucinda falou para a coruja, anexando a mensagem em sua perninha e lhe dando um biscoito para comer. – Leve isto para Pflanze o mais depressa que você conseguir. – A coruja deu um pequeno pio de agradecimento, terminou o resto do biscoito e saiu voando pela janela da cozinha, contornando a macieira da rainha em meio às brumas, em direção ao Reino de Morningstar.

– Como devemos ir, minhas irmãs? Da maneira usual? – perguntou Martha, que parecia um pouco chocada.

– O que foi agora, Martha? – perguntou Lucinda, impaciente.

– E quanto à Úrsula? Podemos não conseguir chegar a tempo de ajudá-la com Tritão. O casamento é hoje, logo antes do pôr do sol. Ela vai precisar da nossa magia para completar o feitiço quando tiver a alma de Ariel!

– E vai mesmo! O castelo Morningstar fica muito próximo ao reino de Úrsula. – Martha não parecia aliviada com as palavras de Lucinda. – O quê? Falem! Estou cansada dessas caras mal-humoradas de vocês duas! – Lucinda tinha perdido toda a paciência com as irmãs.

– Estamos cansadas de escolher as nossas palavras com tanto cuidado. Cansadas de parecer tão... tão... normais! Com certeza Circe deveria nos amar do jeito que somos!

– Bem, mas ela não ama! Nós concordamos que teria de ser assim! Quanto mais tempo discutirmos esse tema, menos tempo teremos para ver Pflanze e a bruxa do mar! Agora, por favor, vamos fazer nossos preparativos.

As irmãs estavam no centro da sala, diante da lareira. Os grandes corvos cor de ônix pareciam estar olhando para elas, lembrando as irmãs da advertência da Fada das Trevas. Aquela terrível sensação de mau agouro penetrou em seus corações mais uma vez, enquanto diziam as palavras que iriam levá-las para junto de Pflanze.

– Apelamos aos ventos, à brisa e ao ar! Para o castelo Morningstar tão depressa quanto puder nos levar!

Esse feitiço, não importava quantas vezes elas o realizassem, sempre causava uma sensação de frio na barriga, como se o chão tivesse se aberto debaixo delas. Uma vez recuperadas do desconforto inicial, elas correram para a grande janela redonda da cozinha para ver as paisagens entre Ipswich e os domínios de Morningstar. Viajar entre as nuvens, invisíveis para aqueles que estavam lá embaixo, nunca deixava de encantar as bruxas – e pensar que Úrsula as imaginava viajando sobre pés de galinha, como aquela bruxa romena de nome lírico.

– Já faz muito tempo que não a vemos, irmã! Como será que ela está?

– Temos bruxas demais para acompanhar, minha querida. Neste momento, a vez é de Úrsula. Assim que resolvermos este assunto com Pflanze – disse Lucinda.

Úrsula - A história da bruxa da pequena sereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora