A TRAIÇÃO DA BRUXA DO MAR

30 0 0
                                    

As irmãs esquisitas demonstraram descrença quando olharam o espelho de mão encantado. Sua pobre irmãzinha querida! Como aquela criatura poderia ser a sua Circe? E por que Aquela das Lendas tinha sido capaz de conjurá-la quando as irmãs não tinham conseguido?

– Eu pedi à Pflanze que trouxesse vocês aqui porque eu temo que Úrsula vai quebrar o acordo – disse a babá, solenemente.

– Que acordo? – interrompeu as irmãs, como se fossem uma.

– Eu acho que ela não planeja devolver Circe a vocês, como prometeu.

As irmãs inclinaram a cabeça para a esquerda num movimento brusco. Elas
pareciam estar olhando para algo muito ao longe, em um estado quase que de transe, até que Lucinda finalmente respondeu.

– Devolver Circe a nós? Como assim, devolvê-la a nós?

– Lamento, eu pensei que vocês soubessem.

– Soubessem o quê? O que, em nome do Hades, deveríamos saber?

– Que foi Úrsula quem levou Circe. Achei que era por isso que vocês a estavam ajudando.

– Não, nós é que pedimos a ajuda dela. Úrsula disse que iria nos ajudar a
encontrar Circe quando tivéssemos destruído Tritão.

– Entendi, então quer dizer que vocês concordaram em arruinar Ariel e
matar Tritão por simples prazer?

– Não por prazer! Por Circe! Úrsula nos contou a história dela e reuniu nosso ódio para que pudéssemos destruir Tritão juntas! Em troca, ela iria nos ajudar a encontrar nossa irmã! Agora nosso ódio vai chover sobre ela como mil pesadelos por ter nos traído! Por ter feito isso, ela viverá em agonia funesta para além do fim de seus dias!

Lucinda se levantou. Suas irmãs permaneceram sentadas, totalmente espantadas pela forma como Úrsula lhes tinha usado de forma tão descarada. Claramente, a bruxa do mar não tinha mentido a respeito do irmão; afinal, elas tinham visto a prova da traição de Tritão nas fogueiras de adivinhação.

– Tritão realmente merece morrer, quanto a isso não há questionamento, mas então por que essa traição? – gritou Lucinda. – Não havia necessidade de nos enganar! Não estou entendendo. Talvez Úrsula tenha pensado que nos recusaríamos. Nós teríamos nos disposto a ajudá-la de qualquer forma, mas e se tivéssemos nos recusado? Ela iria nos ameaçar com a vida da nossa irmã? Chantagem!

Lucinda fervilhava de raiva, agarrando o espelho de mão.

– Onde está Úrsula agora? Mostre-me a bruxa do mar!

Vanessa apareceu no espelho. Estava no navio matrimonial, parecendo uma
noiva maníaca. Sua palidez era quase medonha. Era como se sua raiva estivesse começando a distorcer seu belo disfarce, e a bruxa do mar agora estivesse se fundindo com Vanessa. Ariel estava deitada no convés do navio, e Eric observava com horror enquanto Vanessa berrava:

– Você está atrasado demais! Você está atrasado demais! Raios explodiram de seus dedos, penetrando o céu como a pior das tempestades, antes que sua verdadeira forma irrompesse da sua casca humana, o que fez com que todos a bordo do navio gritassem horrorizados. Ela se arrastava ao longo do convés como uma coisa escorregadia que parecia ter saído de um pesadelo, seguindo em direção a Eric e à pequena sereia.

– Ela está com Ariel! – gritou Ruby. – Estamos atrasadas demais!

Lucinda agarrou o espelho e disse:

– Não. Não, não estamos!

Lançou a mão na porta da câmara, selando-a com a sua magia para que
nenhum dos funcionários fosse capaz de entrar. Ela se posicionou no centro do cômodo e ficou sob a cúpula de vidro. O céu explodia com a luz dos fogos de artifício estourando acima de suas cabeças e chovendo sobre a abóbada. Navios haviam se reunido perto do castelo Morningstar durante toda a noite para o solstício de inverno, vindos para prestar homenagem ao Farol dos Deuses com oferendas de fogo e luz. Lucinda recitou seu encantamento.

Úrsula - A história da bruxa da pequena sereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora