CHÁ COM POPINJAY

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O castelo Morningstar fervilhava com os criados fazendo preparativos para o solstício de inverno. Tulipa decidira bem na última hora que iriam prosseguir com o festival, como de costume, mesmo que sua mãe e seu pai estivessem fora.

A babá achava que seria bom ter algo para ocupar Tulipa enquanto ela e Pflanze lidavam com o problema de Circe, apesar de que agora tivesse dúvidas sobre a sua decisão de manter Tulipa na corte, em vez de insistir que acompanhasse a mãe na visita ao reino da irmã dela, ainda mais agora, que as irmãs esquisitas desceriam, literalmente, a qualquer momento sobre o castelo Morningstar.

A babá estava olhando pela janela, esperando para espionar as irmãs esquisitas, quando se lembrou de que tinha prometido à Tulipa que nevaria no solstício. Com um gesto casual da mão da babá, flocos de neve leves e granulados começaram a cair do céu. Tulipa teria sua neve e ficaria ocupada com a recepção do príncipe Popinjay para o chá naquele dia. Essa era a verdadeira razão pela qual a babá tinha decidido deixar Tulipa ficar. Ela queria dar aos dois uma oportunidade de passar algum tempo juntos. A chance de se apaixonar.

O príncipe Popinjay chegou ao castelo para o chá da tarde com uma aparência deslumbrante. Felizmente, ele parecia ter deixado o alaúde em casa e não se mostrava propenso a cantar músicas sobre a beleza de Tulipa durante o chá. O senhor Hudson, o mordomo-chefe do castelo Morningstar, conduziu o rapaz pelo edifício, orientando-o entre criadas e lacaios que preparavam o castelo para o solstício de inverno, até o salão matinal, onde Tulipa esperava por ele.

– O príncipe Popinjay está aqui para vê-la, princesa.

– Obrigada, Hudson. Você pode, por favor, pedir à Violet que traga o chá?

– Sim, agora mesmo, princesa.

Tulipa indicou o divã de cetim rosa para que o príncipe se sentasse.

– Por favor. – Ela se sentou ao lado dele, sem saber o que dizer. Sempre foi
terrível nesse tipo de coisa, em conversar sobre amenidades. Conversas sem importância sempre pareciam... bem, sem importância. Pequenas distrações vazias com trivialidades sobre o clima, banalidades para passar o tempo. Mas era sobre isso que se esperava que as moças conversassem, não sobre os gigantes que dominaram a terra centenas de anos antes, ou as guerras que eles lutaram contra Oberon e os seus grandes senhores das árvores do norte. Essas, porém, eram as coisas que a inspiravam, que realmente a fascinavam, e ela queria saber o que inspirava o príncipe.

Violet, felizmente, entrou na sala com o chá, o que atrasou um pouco mais a necessidade de Tulipa puxar assunto.
– Obrigada, Violet, pode deixar aqui.
Violet pousou a bandeja de chá sobre a mesa redonda diante deles, com um leve tilintar.

– Desculpe-me, princesa!

Tulipa não se importava se as xícaras ficassem lascadas. Na verdade, sua vontade era jogá-las no mar. Era o conjunto de que menos gostava, porque a lembrava do príncipe Fera, com o seu padrão cor-de-rosa de flores. Ela teria que se lembrar de pedir a Violet que colocasse o conjunto preto e prata no dia seguinte, para o solstício.

– Não se preocupe, Violet, isso é tudo. Eu mesma sirvo. – Com as mãos um pouco trêmulas, Tulipa serviu um pouco de chá para o príncipe. – Como prefere? – perguntou ela.

– Com creme e açúcar, por favor, milady – disse o príncipe Popinjay, e sua voz saiu desafinada.

Ela entregou-lhe a xícara sobre o pires correspondente, desejando não tremer as mãos e dizer alguma coisa. Qualquer coisa!

– Minha mãe lamenta muito não poder estar aqui para recebê-lo. Ela está fora, visitando a irmã, a rainha Leah.

O príncipe Popinjay observava o conteúdo da xícara, tímido demais para encontrar o olhar de Tulipa e com medo demais de falar e de que sua voz falhasse de novo. Parecia que Tulipa não era a única pessoa nervosa ali ou descontente por ter de conversar sobre amenidades.

– Ela sofreu muitas tristezas, a minha tia. Estou certa de que você ouviu o que aconteceu com a filha dela.

Popinjay ergueu os olhos do conteúdo extremamente interessante de sua xícara de chá e, corajoso, encontrou o olhar de Tulipa.

– Fiquei muito triste de ouvir sobre a sua prima. – E continuou: – Embora eu esteja muito contente que tenha me convidado hoje, Tulipa, fiquei bastante surpreso.

O rosto da princesa corou, o que a fez se sentir pouco à vontade. Ela queria fugir.

"Ele é apenas um príncipe. Não seja ridícula", disse para si mesma.

Tulipa queria estar em qualquer lugar menos ali; longe dos belos e assombrosos olhos cinzentos do príncipe, em um lugar onde não houvesse príncipe nenhum. Certamente teria de existir um lugar assim, onde não houvesse nenhuma razão para conversa fiada sobre o que estava acontecendo nos reinos vizinhos.

– Eu estava lendo sobre a história do seu reino e das suas terras e achei tudo muito fascinante. Você sabia que uma grande batalha foi travada aqui?

Com um sorriso, ela perguntou:

– Qual? Foram várias.

– Oh, mas estou particularmente intrigado com a batalha entre os senhores
das árvores e os gigantes. De qualquer forma, todas elas são muito interessantes, não acha?

E de repente Tulipa não sentiu mais a necessidade de fugir. Na verdade, não havia um só lugar em todo o reino onde ela preferisse estar que não fosse com o lindo príncipe dos assombrosos olhos cinzentos.

Úrsula - A história da bruxa da pequena sereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora