Covardia

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Por um instante, tudo pareceu ficar imóvel nos segundos que se seguiram, todo o calor e energia pairando em completa inércia, trazendo a impressão de que o tempo tomara um ritmo mais lento com o peso da tensão que se instalara no recinto, isolando-os em uma realidade paralela onde os segundos eram capazes de se arrastarem de forma incomensurável.

Assemelhava-se a aquela profunda calmaria que se tem antes da tempestade, os indícios da chuva torrencial que lhes atingiria podendo ser sentidos através do ar pesado com a umidade e a eletricidade que os envolvia – umidade essa que poderia ser considerada as lágrimas que estavam por vir, e a eletricidade representando o atrito que as informações despejadas por Hoseok trariam.

Às vezes, as piores marés vêm com a calmaria.

Jimin permanecia sem fôlego enquanto seus olhos esbugalhados fitavam a figura do Jung em um profundo estado catatônico, sentindo-se como se estivesse suspenso em um vácuo imensurável e pendendo perigosamente acima de uma queda da qual não se podia ver o fim, o coração martelando de maneira forte e descompassada a medida que observava a fina corda que lhe mantinha vivo se desfazer lentamente com o passar dos segundos.

Talvez houvesse sido o Park quem se livrara primeiro daquele estado de petrificação incomum que lhe congelara não apenas as juntas e músculos do seu corpo, como também o cérebro; resfolegando em uma tentativa sôfrega de recuperar o fôlego, pois sequer o próprio havia notado que prendera a respiração até seus pulmões começarem a queimar com a necessidade. Quando o torpor finalmente saíra de seu sistema, uma onda de desespero se quebrou sobre si, prendendo-o em um redemoinho de sensações amargas e conflituosas que lhe arrastavam cada vez mais para as profundezas.

Jimin temia não encontrar mais a superfície.

Com o som do ofegar de Jimin quebrando o silêncio quase pétreo que reinava no espaço, fora como se a fina película da calmaria anestésica que predominava anteriormente fosse rompida, condensando-se a medida que os olhares dos presentes voltavam-se para o mais baixo em um misto de estupefação e descrença, todos aparentando terem se esquecido como formar a conexão entre o cérebro e a boca, o que os tornara incapazes de proferir qualquer coisa a respeito da questão levantada. Apenas Taehyung observava o pivô do assunto de modo empático, não aparentando estar surpreso e nem mesmo reprová-lo por sua situação, enquanto Hoseok voltava-lhe um olhar culposo antes de o baixar para a mesa como se a forma mortificada que Jimin lhe fitava fosse demais para ele suportar.

Sentiu uma nova dose de raiva ser depositada a quota destinada à Jung Hoseok, por ele agir como um filho da puta traiçoeiro e depois pôr-se no papel de uma criança arrependida de matar um passarinho com seu estilingue, apenas para que não fosse condenado pelos outros.

Queria poder saltar sobre aquela mesa e socar a face do outro até que esta se tornasse roxa e ele ficasse inconsciente, que seu olhar mordaz sobre ele pudesse fuzila-lo de fato e fazê-lo cair morto; entretanto, a sua atenção ao culpado de tamanha confusão durara menos do que gostaria, a cólera se dissipando a medida que sentia o peso daqueles orbes escuros e enigmáticos sobre si – eram como uma série de pequenas alfinetadas por toda a extensão de sua pele, os pelos de seu corpo se erguendo gradativamente com o tremor que lhe subia a espinha; e por mais que se esforçasse para manter-se a fulminar Hoseok, que se encolhia mais a cada segundo, parecia que haviam ímãs nos olhos do Min que atraíam os seus diretamente para os da figura pálida sentada a sua diagonal. Por isso, antes que pudesse ter consciência do que estava fazendo, seu olhar já buscava por ele com aquela necessidade ardente de vê-lo já se transformando em uma dor deveras incômoda que lhe pontava o âmago.

Quando seus olhares se conectaram em meio à aquele momento de turbulência, Jimin sentiu um forte impacto lhe atingir em cheio, estremecendo cada célula que lhe formava e fazendo o ar lhe escapar pelos lábios entreabertos com mais facilidade do que tivera para entrar. Era como se uma bigorna fosse solta sobre o seu peito e criasse uma pressão sufocante e desesperadora que obrigara seus pulmões a expelirem tudo que haviam conseguido naquele meio tempo, impedindo-os que conseguissem mais e transformando o ato de inspiração muito superficial. Sentia a vontade de esquadrinhar cada linha que formava aquele rosto magnífico lhe queimando o âmago, de absorver até o mais ínfimo detalhe depois de passar tanto tempo o evitando e sem dignar ao menos um mínimo olhar para o Min, temendo fraquejar perante a beleza magnificente que o formava; mas seus olhos estavam presos na imensidão dos dele, a assustadora expectativa com a próxima reação do moreno correndo em suas veias de forma lenta, como um veneno, espalhando-se por seu sistema e transformando o jovem Park em uma massa instável – e isso sobrepujara todo e qualquer temor quanto ao que os outros pensariam de si, pois nada poderia lhe ferir mais do que receber o desprezo ou mesmo uma simples negativa de seu hyung favorito.

The Heart Wants What It Wants - YoonMinOnde histórias criam vida. Descubra agora