Unexpected touch

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Não sei por quanto tempo encarei o teto do meu quarto, mas foi suficiente para decorar a quantidade e forma das manchinhas brancas que tinha nos cantos. Meu fone estava atolado em meus ouvidos, apesar da última música que eu tinha baixada ter acabado a algum tempo.

Eu não consegui parar de pensar no que Jaesuk e Miyeon disseram e estava puta por ter me afetado tanto ao ponto de ficar como uma idiota, deitada, olhando o teto e me obrigando a decorar cada aspecto dele por causa de um pensamento. Um pensamento infeliz. Um pensamento ilógico.

Como eu poderia sentir outra coisa por Jennie além de raiva?

Talvez inveja. Eu sempre quis ser tão inteligente quanto ela, tão - vou me matar por dizer isso - querida quanto ela. Tudo bem, vou ser direta. Eu queria ser ela. Ou queria ao menos ter as habilidades dela. De resto eu gostava de mim, do meu estilo, da minha beleza.

Droga. Olha a quantidade de merda que estou pensando, e tudo por causa do idiota do Jaesuk.

Dormi por uma quatro horas. Resultado: pareci um zumbi que tinha acabado de ser atropelado por dois carros em direções opostas. Tomei um energético no caminho para escola na esperança de não dormir durante as aulas.

Eu não conversei um pouquinho sequer com Jaesuk e mal vi Miyeon, talvez eu tivesse tido oportunidade de me comunicar com eles mas eu não queria falar e ver ninguém, estava exausta.

O energético veio dar resultado depois do intervalo e eu fiquei eufórica para que tudo acabasse e eu pudesse ir ao encontro da garota estupidamente organizada à minha frente.

Não! Eu não estava ansiosa para estudar com Jennie! Eu só estava na expectativa de acabar tudo de vez e eu não ficasse mais naquela rotina de estudos.

O dinheiro que eu gastaria no almoço foi polpado graças a minha falta de apetite, aproveitei então o tempo para esperar Jennie na biblioteca e, para minha enorme surpresa, ela já estava lá.

Seu cabelo estava preso em um coque frouxo, deixando com que alguns fios fizessem companhias as maçãs de seu rosto. Ela parecia cansada, como se não tivesse dormido direito. Não perguntei nada, me sentei, peguei o caderno e esperei ela dar as ordens.

- O que estamos estudando agora é muito fácil e tem relação com o assunto anterior. - ela começou abrindo seu caderno, exibindo como de costume um resumo.

O caderno marrom de Jennie estava perto do meu braço e em um descuido ela colocou o braço dela encostado no caderno, logo colando-se ao meu, deixando com que as costas de nossas mãos se tocassem minimamente.

No automático, meu braço se moveu fazendo menção de se afastar, mas eu travei. Não sei porque fiz aquilo, não sei porque eu não me afastei do toque ingênuo. Mesmo que estranhamente eu tenha gostado do ato inesperado, esperei Jennie desencostar de minha mão, mas ela continuou focada na atividade.

Uma voz gritava na minha cabeça para tirar minha mão discretamente, sem ser ignorante com Jennie. Contudo, por alguma razão, eu não iria afastar. Como uma pessoa racional, até que me perguntei porquê afastaria e nada vinha a mente que não fosse o fato de odiar Jennie.

Para com isso.

Engoli seco, olhando para um ponto fixo na mesa. Aparentemente eu mesma não estava mais aguentando essa implicância.

Estudamos a tarde inteira. Passou tão rápido que se não fosse minha mãe ligando preocupada pelo meu atraso teríamos ficado mais tempo. Jennie parecia satisfeita. Em partes, eu também estava; e estaria mais satisfeita se não tivesse permitido aquele contato inocente.

- Você tem aptidão para isso. - Jennie comentou depois de me entregar seu resumo impecável do assunto para que eu pudesse estudar.

- Para inglês? - eu questionei incrédula. - Não. Talvez se eu fosse a queridinha da professora... - eu brinquei, mas não escutei nenhuma risada. Percebi que Jennie não conhecia meu humor ácido e tentei me retratar mas ela já tinha se despedido.

- Tchau. - ela disse baixinho.

Merda, provavelmente pensou que eu estava me referindo a ela. E o pior é que dessa vez não. Eu realmente fiz uma piada. E ela não havia pegado.

Eu guardei minhas coisas e me levantei rapidamente, quando me virei Jennie já tinha saído da sala. Dei uma corridinha para alcançá-la e reduzi quando estava a poucos metros dela, acompanhando sua velocidade.

- Segunda no mesmo horário? - perguntei fingindo não ligar ao mesmo tempo que estava eufórica por alguma resposta que mostrasse o humor de Jennie referente a mim.

- Sim. - ela disse sem me olhar.

Eu sou uma tremenda babaca, pensei quando ela aumentou a velocidade, provavelmente para não continuar mais tempo ao meu lado.

Porra, porra, porra. Por que nada sai de acordo com o que é necessário?

Esperei sairmos da biblioteca para dizer:

- Eu vou pra viagem. - eu disse alto, me amaldiçoando internamente por quase gritar e por agora ter que ir para a maldita viagem.

Jennie virou-se rapidamente e me encarou. Sua expressão surpresa foi disfarçada por um sorriso amarelo.

- Pensei que não teria sua presença no ônibus. - ela falou, sorrindo fracamente de lado.

Eu quis dizer algo sarcástico mas não ia brincar com a sorte.

- Não quero perder a oportunidade de reclamar daquele lugar mais uma vez. - eu disse passando por ela.

- Claro que não. - escutei sem sombra de dúvida um riso em seu comentário.

Me senti leve em saber que ela não levou para o pessoal. Naquele noite, pasme, além de estudar - sim, estudei inglês por conta própria - eu fiz o que não fazia a tempos, rabisquei traços aleatórios com alguma finalidade, poderia ser qualquer coisa que me levaria a um desenho bonito com um acabamento intencional. Minha mãe foi no meu quarto duas vezes para avisar que a comida ia esfriar, mas eu não estava com fome; meu empenho em querer voltar as origens e minha curiosidade em saber no que daria aqueles rabiscos me fez ficar um tanto obcecada.

Eu fiquei no automático até a hora que deu vontade de ir no banheiro, percebi que todos já estavam dormindo; olhei para o relógio da cozinha, já eram meia-noite. Voltei para meu quarto depois de comer rapidamente e tomar um banho revigorante, me joguei na cama sob o cobertor e senti uma pontada em minhas costelas. Tirei meu caderno completamente esquecido debaixo do cobertor e encarei o meu desenho sem acabamento.

Meu sangue gelou e minha mandíbula trincou. Não. Não. Nem fodendo. Rasguei a folha, amassei e arremessei contra a porta. Meu travesseiro tornou-se alvo para abafar o grito de surpresa, indignação e raiva que dei, e foi com ele na minha cara que adormeci. Talvez minha histeria e lágrimas de ódio foram o que me fizeram dormir mais rápido, ou a falta de vontade de querer rasgar em pedacinhos o desenho do rosto incrivelmente simétrico de Jennie Kim no chão do meu quarto.

The Two Sides of the Coin. | JensooOnde histórias criam vida. Descubra agora