Not so different from me

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Eu estava terminando de estudar matemática quando escutei meu pai gritar meu nome. Revirei os olhos e larguei meu fone de ouvido na mesa. Procurei ele pela casa toda e não o encontrei.

- Jisoo! - ele gritou mais uma vez.

- Cadê o senhor? - gritei de volta.

- No quintal!

O nosso quintal não era bem cuidado, apesar de minha mãe tentar plantar algumas coisas. A grama estava morta há tanto tempo que não adiantava tentar salvá-la. De vez em quando, ela molhava a grama, eu via pela janela do meu quarto, que dava uma visão parcial do jardim, mas era tão rara as vezes que ela se sentia disposta a fazer que de nada adiantava.

Meu pai estava sentado em um banquinho de madeira, segurando uma chave Philips. Na frente dele, uma bicicleta cinza estava invertida; ele brincava com uma das rodas, girado-a no sentindo horário. Tinha objetos estranhos ao redor dele, que eu nunca tinha visto antes, e só reconheci os pneus jogados ao lado porque não tem como não reconhecer pneus de bicicleta.

- O que está fazendo? - perguntei.

- Consertando minha velha bicicleta. - ele sorriu, passando o antebraço na testa. Tinha graxa nas suas mãos. - Um amigo meu, que é dono de oficina, queria saber se eu conhecia alguém que quisesse pneus de bicicleta por um precinho razoável.

- Hum... - murmurei. - E essas coisas aí? - apontei para os objetos.

- Ah, essas aqui? Peguei emprestado com ele para fazer a manuntenção. Já trabalhei em oficina e ainda lembro todo o processo; eu fazia a manuntenção de rotina na minha bicicleta quando você ainda era pequena.

- Por que não pediu para ele fazer a manuntenção?

Ele ficou sério de repente.

- Amigos, amigos, negócios a parte. E o resto de dinheiro que sobrou dei a sua mãe para as compras do mês.

Pelo menos não gastou em bebida e jogos de aposta, pensei.

- Certo... - murmurei, ainda sem saber o motivo dele ter me chamado e me perguntando se seria grosseria de minha parte perguntar. - Ela é bem bonita.

Ele olhou para a bicicleta com um brilho orgulhoso e nostálgico no olhar.

- Consertei para você. Se você quiser ficar com ela.

Arregalei os olhos, sem fingir surpresa.

- Tá falando sério? - perguntei alto.

Ele franziu o cenho e pigarreou, olhando a bicicleta.

- Tudo bem se não quiser. Mas eu posso mudar a cor e ajeitar mais umas coisinhas, tipo uma cestinha na frente...

- Ela é perfeita! - exclamei, sorrindo.

Ele balançou a cabeça, concordando, e sorriu minimamente. Não era do fetio do meu pai sorrir muito, mas sei que estava contente por eu ter aceitado sua relíquia. Ele virou a bicicleta e apoiou na mureta, depois se espreguiçou fazendo uma careta; escutei alguns ossos estralarem.

- Quer ver se consegue andar nela?

- Agora não. Eu vou terminar de estudar. - eu falei de um jeito mais doce. Ele fez um sinal positivo e voltou a atenção a bicicleta. - Er, pai...? Eu posso ir visitar uma amiga com ela?

Normalmente não sou de pedir a permissão dele, mas senti que devia depois de ter ganhado esse presente. E ele estranhou, tanto que deu um sorriso confuso e uma risadinha seca.

The Two Sides of the Coin. | JensooOnde histórias criam vida. Descubra agora