Altivez O Reinado

Capítulo 68

Anely James Jackson
Rancho Neverland, Los Olivos
21 de julho de 2020, 04:13

 Em um puro silêncio passo o algodão pelo canto de sua boca enquanto ela segura o gelo que está em seu roxo. O olho dela está bem feio, mas, nada que um gelo não resolva. Daqui a pouco vai estar tudo bem. Desinchará e nem vai se notar mais. Manu está sentada na cadeira em frente a penteadeira. Ela estava mais nervosa antes, agora está até mais calma.

— Consegui isso! — Michael fala ao deixar um conjuntinho de pijamas no colo de Manu. Ela mal consegue olhar para nós. Leo está sentado no final da minha cama enquanto estamos aqui na penteadeira cercando ela. Leo nos encara orgulhosamente. É como se ele se sentisse realmente seguro em trazer qualquer situação para nós.

— Muito obrigada senhor e senhora Jackson! — ela diz cabisbaixa — Quando amanhecer procurarei um lugar para ficar!

— Bobagem, fique aqui, Anely ficará sozinha porque levarei as "crianças" comigo na viagem! — Michael diz a ela que olha para mim — Ela gostará de companhia!

— É, vai ser ótimo ter companhia! — sussurro para ela que respira profundamente — E olha, se não quiser me ver o tempo todo tudo bem, essa casa é gigantesca! — brinco com ela que abre um sorriso. 

— Muito obrigada — ela balbucia e volta a olhar para o chão. Tudo que sei até agora é que os socos que ela levou no rosto foram graças ao pai dela. Agora me pergunto, quantas vezes ela não apanhou calada?

 Sem dúvida, por isso ela quer ir para bem longe com Leo quando o colégio acabar no ano que vem. Ela é mais uma das que acreditam que casamento é a solução pra tudo.

08:52

— Tomara que consiga dormir no avião! — falo baixinho para Michael enquanto o abraço — Vai tranquilo, te mando mensagem sempre que der!

— Muito obrigado, minha rainha, que você tenha um bom trabalho! — ele me dá um beijinho rápido e anda rapidamente até o SUV. 

 Manu se posiciona ao meu lado e observa os carros em fila sumindo no horizonte. Michael e as crianças vão para a nossa casa em Roma, lá Michael dirigirá alguns filmes, vai atuar, vai continuar escrevendo, etc. Nossos filhos vão o seguir para todos os lados e a presença deles vai o deixar com menos saudade de casa.

 Quanto menos saudade de casa ele tiver, melhor porque aí ele consegue se concentrar mais. Eu teria ido se não fosse pelas inúmeras entrevistas, o filme que vou começar a gravar por aqui e claro, Manu.

 Leo devia ter ficado por aqui também, mas, ele me contou que eles terminaram e que trouxe Manu com ele porque ele escutou o pai dela batendo nela. Ele invadiu a casa, enfrentou ele e a tirou de lá. 

 Agora Manu precisa de ajuda e bem, eu vou ser essa ajuda. A decisão de terminar foi dele, ficar ao lado dela nesse momento o faria mudar de ideia. Não porque ele a ama, mas, porque ele tem coração mole.

 Olho para Manu que está ao meu lado. O que vou fazer com ela? Posso simplesmente dar dinheiro e mandar ela se virar. Ela tem 16 anos, deve ter sofrido o suficiente com o pai para saber como se virar no mundo. Porém, fico pensando, e se fosse uma das minhas filhas? 

 Entretanto, aqui ela também não pode ficar. Se Leo e ela voltarem, tem que ser por amor e não por caridade. E esse tempo longe dela ajudará ele a decidir se vai pedir pra voltar ou vai seguir a vida dele.

— Quais são seus planos? — pergunto a ela. Manu olha para mim e da de ombros — Você sabe cozinhar? Lavar e passar? — arqueio uma das sobrancelhas para ela que acena positivamente — Ótimo, então, tenho um plano pra você!

Condomínio Richards, Los Angeles
Casa 21, 11:19

— Tudo já está na geladeira! — digo indo até o quarto. Ela está hipnotizada com o tanto de roupa — Se quiser alguma, fique a vontade! — falo saindo do quarto e vou até à sala.

— O seu marido te deu todas? — pergunta admirada — São todas tão bonitas! — ela vem até perto de mim.

— Michael me dava joias, roupa não era recorrente! — falo para ela que suspira.

— Esse lugar todo é seu mesmo? — pergunta entre sussurros — É uma casa tão aconchegante!

— Sim. Quando eu tinha a sua idade eu já morava aqui! River Richards me deu esse lugar para ficar e eu pagava um aluguel todo mês, o aluguel era baixo porque quando fui até o escritório dela dei o nome do meu pai e ele tinha mandado eu a procurar se eu precisasse de qualquer coisa! — suspiro — E hoje essa casinha de quarto, cozinha e sala é meu! — abro um sorriso para ela que me olha empolgada.

— Vou poder ficar por quanto tempo? — dou de ombros para ela — Estou tão empolgada, eu nunca fiquei em um lugar tão fofo e organizado assim antes! Eu quero cozinhar pra mim, quero ir encontrar um emprego!

— O tempo que quiser e vai com calma, você no máximo encontrará um emprego de meio período! — digo a ela que parece nem se importar.

— E a senhora não pode me contratar? — ela arqueia uma das sobrancelhas e segura um sorrisinho — Posso ser assistente da sua assistente — ela abre um sorriso maior — Juro que não vou te decepcionar — faz um biquinho. 

— Você não vai trabalhar de jeito nenhum Manu! Eu não vou deixar. Vou te mandar dinheiro, todos os dias um dos motoristas vão aparecer aqui pra te levar ao colégio, começará a aprender algum idioma e quando o colégio terminar pagarei sua faculdade e um lugar pra você ficar em Nova York que é onde você quer ir! — digo enquanto ando até a porta.

 Sei bem como é fugir, a situação de Manu é quase como foi a minha. Só tem uma pequena diferença, no caso dela, o próprio pai é o monstro dessa história. No meu caso, era Dimitri, um homem que nem sequer tinha me criado.

— Por que a senhora vai fazer tudo isso por mim, dona Anely? — ela pergunta em um tom doce enquanto me segue — Eu e seu filho nem namoramos mais — paro e me viro para a encarar.

 Manu com suas tranças que precisam de manutenção me encara de um jeito confuso. Como se ela não conseguisse entender porque eu estou lhe estendendo a mão.

— Quando eu tinha a sua idade, eu fugi de casa porque o meu padrasto era horrível, quando cheguei aqui, eu consegui este lugar pra morar, mas, não tinha acolhimento algum. Estou fazendo por você o que eu gostaria que tivessem feito por mim Manu!